Tração de negócios na Expointer, a venda de máquinas e implementos agrícolas não deve repetir feitos recordes na edição deste ano. As projeções modestas quantos às comercializações são consenso no setor e se explicam pelo contexto no campo, de perdas e endividamento rural. Mas nem por isso deixam de ter boas prospecções.
Em 2024, foram R$ 8,9 bilhões em negócios na Expointer — R$ 7,39 bilhões deles encaminhados somente pelo setor de máquinas. Em 2025, mesmo com a dificuldade financeira dos produtores, o setor volta ainda mais robusto, pelo menos em presença: são 137 empresas expositoras, número 5% maior que a edição do ano passado. Nesta quinta-feira (4), mesmo sem trégua da chuva, os visitantes lotavam os estantes em busca de novidades.
Sempre ávidos por tecnologia, os agricultores do Rio Grande do Sul e de fora dele buscam outras formas de se reequipar, mesmo com as contas apertadas. A compra de peças remanufaturadas e os consórcios despontam como alternativas e estão entre as opções que têm atraído a presença dos compradores nos estantes da feira.
Na gigante Massey Ferguson, as peças remanufaturadas, como motores e transmissões, chegam a custar 30% a menos que os implementos de primeira linha. Por serem de fábrica, possuem todas as garantias de uma peça nova e contentam as necessidades do produtor que quer se equipar, mas precisa economizar.
Levantamento mais recente da Federação da Agricultura do RS (Farsul) feito com três instituições financeiras aponta que o endividamento rural no Estado soma R$ 27,36 bilhões, atingindo 65.271 produtores.
Moisés Oliveira, coordenador comercial da Massey, diz que a busca pelos remanufaturados é um comportamento de compras que tem crescido nas feiras. E há espaço para ampliar.
Na prática, funciona como dar uma recauchutada em peças já usadas, substituindo por outras novas disponíveis para comercialização. Uma fábrica da marca inaugurada em 2024 no município paulista de Jundiaí se dedica à produção. São vários os segmentos de peças remanufaturados, do motor completo à uma parte dele.
“Para o cliente, se torna mais barato e atende a uma questão de sustentabilidade, porque reforma o maquinário já existente. E não deixa de ser uma renovação de frota, mantendo as garantias que são de fábrica.”
MOISÉS OLIVEIRA
Coordenador comercial da Massey Ferguson
Consórcios em alta
Outra opção de economia são as compras coletivas, como os consórcios. Do pequeno ao grande produtor, o segmento cada vez ganha mais espaço no setor agropecuário. A resposta vem dos números: o produtor que adere à modalidade consegue, em média, uma economia de 40% se comparado ao financiamento tradicional de máquinas.
O consórcio da marca Case IH é um dos que bate presença na Expointer como opção de compras na linha agrícola. A modalidade de negócio é responsável por cerca de 10% das vendas da Case IH, principalmente nos tratores.
Em ambiente de juro alto, o consórcio é considerado uma alternativa mais segura na compra de um primeiro maquinário ou mesmo na modernização da frota completa. Também é visto como opção de acesso fácil devido ao alto índice de contemplações, sobretudo pela possibilidade do lance, que encurta o tempo de espera pelo crédito.
Coordenador na regional Sul do Consórcio Case IH, Sidnei Fernando de Souza diz que a modalidade abrange a compra desde tratores simples a grandes colheitadeiras.
“Mesmo o cliente que precisa de um produto mais imediato avalia as opções de consórcio pelo fato de não mexer no fluxo de caixa dele, sem precisar tomar um financiamento tradicional. O consórcio é um dinheiro barato e planejado.”
SIDNEI FERNANDO DE SOUZA
Coordenador na regional Sul do Consórcio Case IH
Os números mostram o crescente interesse do produtor por essa modalidade. Na última Expodireto, em Não-Me-Toque, a sinalização pelo tipo de financiamento teve alta de 55%, conforme a Case IH.
Segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio (ABAC), pela primeira vez as máquinas agrícolas lideram o segmento de consórcio de veículos pesados, passando à frente dos caminhões. As máquinas agrícolas representam um terço das vendas de consórcios, alcançando 51%.
Relevância das máquinas
Responsável por 60% da produção nacional de tratores agrícolas, o Rio Grande do Sul tem protagonismo na fabricação de máquinas e implementos para o setor. Por isso, a Expointer é uma grande vitrine do que há de mais moderno sendo fabricado na área.
Conforme levantamento da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), o RS é o segundo maior exportador do país dentro do segmento de máquinas e equipamentos agrícolas. Foram US$ 446,6 milhões em vendas externas no acumulado de 2024, atrás apenas de São Paulo. Panambi, no Noroeste, lidera em números, com 35 fábricas.
Ao todo, o Rio Grande do Sul possui 14,7 mil indústrias da transformação ligadas ao agronegócio.