“Entrei como recepcionista bilíngue na empresa onde trabalho hoje e, ao longo do tempo, assumi responsabilidades além da minha função, participei de entrevistas para subir de cargo, treinei novas colegas e acreditei que teria espaço para crescer. Porém, vi antigos funcionários sendo recontratados para trabalhar na empresa, enquanto eu não fui promovida. A situação piorou com um colega que constantemente me descredibiliza e, mesmo levando o problema à liderança, senti que nada mudou. Hoje me sinto estagnada e desmotivada, sem clareza sobre meu futuro na empresa. Fiz bem em ter assumido responsabilidades fora do meu escopo de trabalho sem ser reconhecida?” Recepcionista bilíngue, 27 anos
Olá, pessoal!
Você fez bem. Expandir escopo, treinar colegas e sustentar entrevistas mostra maturidade e ambição. O erro não foi seu.
Aceitar tarefas fora do escopo não é um erro por si. É investimento quando tem começo, fim e moeda de troca. Antes de aceitar de novo, combine duração, entregáveis e qual será o retorno. Pode ser promoção, aumento, bônus, curso pago ou horas oficiais para o projeto. Se a responsabilidade é permanente, precisa virar parte do cargo. Se é temporária, precisa ter término claro.
Ainda é tempo de mostrar seu trabalho e tentar a promoção, mas de uma maneira estruturada. Leve o assunto à liderança com um plano concreto: qual é o cargo desejado, quais critérios serão avaliados, qual o cronograma de avaliação e qual a compensação esperada. Liste resultados com números, processos que padronizou, prazos que encurtou, impactos do treinamento que ofereceu.
Sobre o colega que a descredibiliza, trate como questão de performance do time. Registre cada episódio com data, contexto, frase dita e efeito no trabalho. Faça um alinhamento direto e respeitoso, descrevendo o fato e o impacto e deixando claro o comportamento esperado dali em diante. Se repetir, leve o histórico à liderança e a RH e solicite uma ação específica como mediação, regras de condução de reunião ou acompanhamento formal. Se mesmo assim nada mudar, você tem um dado valioso sobre a cultura do lugar.
Em relação a recontratações, muitas empresas fazem isso por uma questão de velocidade para preencher vagas estratégicas. Use o tema a seu favor para pautar a mobilidade interna. Se há vaga para quem volta, deve haver trilha transparente para quem está dentro conseguir entregar e avançar.
Em paralelo, atualize currículo e portfólio de resultados, ative sua rede e comece a olhar o mercado para posições alinhadas ao cargo desejado. Se não houver avanço real, siga com processos externos sem culpa. Ter opções diminui a dependência emocional e financeira.
Os sinais de que é hora de partir são falta de critérios e prazos mesmo após um plano claro, repetição dos episódios de descredibilização sem consequência e reconhecimento seletivo. Vale insistir quando surgem critérios explícitos, checkpoints marcados, apoio visível da liderança e mudança de comportamento no time.
Em resumo, você acertou ao mostrar capacidade além do cargo. Crescimento não acontece por mérito silencioso. Acontece quando o seu impacto fica impossível de ignorar e, se for ignorado, você tem para onde ir.
Espero ter ajudado!
Abraços,
Thomas Nader é especialista em HRBP, cultura organizacional, inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho, trabalho voluntário para comunidade LGBTQIA+ e processos seletivos inclusivos.