Acelerar, erguer a plataforma de corte e descarregar os grãos no caminhão. Tarefas que fazem parte da rotina do profissional do agronegócio mas que, com o avanço da tecnologia no desenvolvimento de máquinas agrícolas, podem exigir mais e mais conhecimento técnico de quem utiliza. Por isso, nesta edição da Expointer, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/RS) apresentou ao público um simulador de mecanização.
Assim como os simuladores utilizados nos Centros de Formação de Condutores (CFC), o objetivo do equipamento apresentado na feira é preparar o operador ou o profissional que deseja atuar na área a manusear tratores, colheitadeiras, semeadeiras ou pulverizadores cada vez mais embarcados de tecnologia. E engana-se quem pensa que o simulador é destinado apenas para quem está iniciando no meio rural.
Gestor de negócios em uma empresa de tecnologia em logística de granéis sólidos, Plínio Pereira Netto, de 65 anos, conta que aprendeu a operar em máquinas agrícolas analógicas. Ele aproveitou a agenda na Expointer 2025 para conhecer o simulador de mecanização Realdrive Agro 4.0 exposto no estande do Senar e desenvolvido pela empresa Realdrive Simuladores.
“O simulador dá uma realidade de toda a linha de equipamentos com as modernidades de hoje, como automação. Tive a oportunidade de aprender como é operar uma máquina de novo aqui no simulador e foi gratificante. Eu venho de uma geração em que se colhia na palanca (comando manual), acelerando em uma rotação única”, explicou.
Após testar o simulador e recordar os tempos de operação com máquinas analógicas, Netto destacou a oportunidade para que revendas de equipamentos possam proporcionar tal oportunidade para potenciais clientes. “Acho que as empresas podem levar isso para ajudar nas vendas. Até porque é importante capacitar o operador. Atualmente, existem máquinas modernas com valores acima de R$ 2 milhões. Imagina se cai uma no banhado por não saberem operar?”, disse.
O coordenador do Departamento de Desenvolvimento e Inovação da Diretoria Técnica do Senar-RS, Henrique Padilha, citou que muitas máquinas atuais contam com sistemas modernos, como piloto automático e até inteligência artificial.
“É uma ferramenta muito importante, pois permite que o profissional seja treinado em condições muito próximas da realidade, mas sem os riscos e o custo de operar diretamente uma máquina agrícola. Se o operador não estiver preparado, além de não conseguir aproveitar todo o potencial dessas máquinas, ele pode gerar prejuízos por erro de regulagem, mau uso e até acidentes”, pontuou.
De acordo com o diretor de relações institucionais da Realdrive Simuladores, Diogo de Gregori, o equipamento foi desenvolvido utilizando tecnologia quase toda gaúcha, com hardware e software próprios. Apenas os materiais utilizados para a construção da estrutura da cabine são importados pela empresa, que surgiu em Santa Maria, mas que está sediada atualmente em Caxias do Sul.
Gregori destaca ainda como a tecnologia e a inovação têm ajudado a transformar o futuro do agronegócio. “As máquinas estão cada vez com mais tecnologia embarcada e são equipamentos muito caros. Qualquer problema lá no campo custa muito caro para o produtor. Além disso, hoje já faltam operadores no mercado. O simulador pode ser um instrumento de formação para novos profissionais”, apontou o diretor.
Berço nos Centros de Formação de Condutores
Inicialmente, a Realdrive atuava no desenvolvimento de simuladores para Centro de Formação de condutores, principalmente durante o período de obrigatoriedade da ferramenta para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A partir da experiência adquirida no setor e a partir de conversas com pessoas do meio rural, a ideia de criar uma ferramenta similar para o agronegócio tomou forma.
O simulador conta com três operações já desenvolvidas: trator com plantadeira, pulverizador autopropelido e colheitadeira em plantios de culturas como soja, milho e trigo.
“Cada máquina e cada planta passa por um processo que inicia com modelagem, texturização e física para criar toda essa imersão. A intenção é que quem for fazer o treinamento tenha a maior realidade possível”, completou.
Para o desenvolvimento do simulador, a Realdrive acompanhou de perto as atividades e o uso das máquinas agrícolas em uma fazenda de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra. “A intenção foi entender todos os sons, botões e funcionamento de um equipamento para acrescentar ao simulador. O proprietário até brincou, falando que costuma falar aos funcionários que eles não estão dirigindo apenas um carro de luxo, mas dois deles, que é o valor das máquinas agrícolas atuais”, reforçou.
De Gregori explica ainda que, desde o início do projeto do simulador de mecanização, o objetivo sempre foi aplicá-lo nos Centros de Formação Profissional Rural do Senar, responsável por treinar e preparar os futuros trabalhadores do campo. “Durante a feira, os próprios instrutores do Senar experimentaram a ferramenta”, ressaltou.
Até o momento, a empresa possui contrato com a unidade do Senar Goiás. Entretanto, para o Rio Grande do Sul, a expectativa da Realdrive é outra. “O Senar está com aquele grande projeto em Hulha Negra. Pretendemos negociar com eles para ter o simulador também lá no novo centro”, concluiu. A previsão é que cerca de 80 alunos já comecem a participar dos treinamentos no local a partir de fevereiro de 2026. A estrutura física será similar a um campus universitário, com 11.500 metros quadrados de prédios e edificações. De acordo com o Senar-RS, existe a possibilidade da inclusão do simulador no centro.