Valor 1000: Sudeste enfrenta volatilidade e juros altos apesar de avanço do PIB em 2024

Apesar do resultado positivo do Produto Interno Bruto (PIB) da região Sudeste em 2024, seu desempenho pode ser afetado neste e no próximo ano por conta dos juros altos e do cenário geopolítico pouco favorável.

Se, por um lado, as atividades concentradas na região têm maior valor agregado e os setores da indústria de transformação embutem mais tecnologia nos produtos e serviços, por outro, são segmentos mais sensíveis à variação da taxa de juros e à economia global. “A região Sudeste é a que navega com maior volatilidade nesse contexto”, afirma Daniel Xavier, chefe do departamento econômico do Banco ABC Brasil.

O economista Bruno Sobral, professor da Faculdade de Ciências Econômicas (FCE) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), acrescenta que o governo não está conseguindo ir adiante na agenda de competitividade, extremamente importante para o Sudeste: “É a região que tem maior concentração industrial, ou seja, é onde conseguiria fazer uma política mais associada à competividade industrial, a uma agenda de inovação, de ciência e tecnologia, para ter setores mais avançados na estrutura produtiva brasileira. E essa região vem, historicamente, sofrendo o inverso, um cenário de desindustrialização”.

O departamento econômico do ABC já detecta uma perda de fôlego na margem das indústrias automobilística, de eletrodomésticos, de bens de consumo duráveis e do setor imobiliário. Segundo Xavier, o banco projeta a meta da taxa Selic no patamar atual de 15% ao ano até o segundo trimestre de 2026. “É um ambiente macrorrestritivo, contracionista, o que significa que aqueles setores que são sensíveis a taxas de juros devem sentir mais essa desaceleração econômica e esse esfriamento tende a desacelerar o PIB da região Sudeste.”

O ABC Brasil espera que o PIB industrial nacional tenha crescimento de 1,9% neste ano e de 1,6% em 2026, ante uma alta de 3,3% em 2024, e nas atividades de serviços não deve passar, no biênio 2025-2026, de 1,8% e 1,7%, respectivamente. “Os serviços estão associados à dinâmica regional do Sudeste. Em cima desse cenário, há a questão tarifária do Trump, que tende a ter uma implicação setorial e regional”, afirma Xavier.

Ele esclarece que, mesmo com a lista de isenções das sobretaxas, produtos como carne bovina e café, ambos predominantes na região Sudeste, podem ter um efeito mais contracionista se as taxações excessivas vigorarem por muito tempo. Isso vale também para a produção de aço e derivados, que pode impactar a dinâmica regional, principalmente em Minas Gerais.

Das mil maiores empresas do Valor 1000, 663 estão na região Sudeste. Entre as 50 com maior crescimento na receita líquida em 2024, destacam-se as dos setores de alimentos e bebidas (a Minerva Foods foi a que teve o melhor desempenho, com avanço de 26,7% em relação ao resultado de 2023); de energia elétrica, com a Energisa registrando aumento de 18,2%; e comércio varejista, com o crescimento de 57,4% do Mercado Livre.

No setor de veículos e peças, a Embraer registrou aumento de 35,7% na receita líquida de 2024, e a considerar os resultados do segundo trimestre deste ano, as tarifas aplicadas pelos Estados Unidos não devem gerar impacto significativo em seus resultados. O aumento no segundo trimestre de 2025, em relação ao mesmo período de 2024, foi de 30,9%, para R$ 10,3 bilhões. A empresa reiterou as estimativas de entregar neste ano entre 77 e 85 aeronaves no segmento de aviação comercial e entre 145 e 155 na aviação executiva. E manteve as estimativas de investir R$ 20 bilhões até 2030.

Em um ano marcado por questões climáticas e oscilações de preços, empresas como a Cargill, a Cofco International e a Louis Dreyfus Company tiveram queda na receita líquida apurada em 2024, em relação a 2023. A Cargill, que se mantém entre as dez maiores no ranking, encerrou 2024 com uma receita operacional líquida de R$ 109,2 bilhões (queda de 13,6%, resultante de quebras nas safras e de menores preços das commodities agrícolas). A empresa vem mantendo seus investimentos no país. “A atuação da Cargill tem sido marcada por conectar aqueles que cultivam e produzem alimentos com quem comercializa e consome em todo o mundo. Para avançarmos nessa missão, com mais resiliência e eficiência, investimos, somente em 2024, R$ 1,7 bilhão em nossas operações no Brasil”, comenta Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil e do Negócio Agrícola na América Latina.

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