
Uso comercial de rejeito de mineração como matéria-prima para a construção civil começou a ser testado a partir de pesquisa desenvolvida na UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto). A tecnologia é desenvolvida na Unidade Embrapii – organização social vinculada ao MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) que apoia projetos de inovação –, localizada no campus da universidade.
O trabalho dos pesquisadores busca alternativas sustentáveis para garantir que o material descartado na atividade de mineração não se torne um passivo ambiental. A entidade cita que entre os produtos de rejeitos incorporados à construção civil estão blocos para pavimentação ou alvenaria, além de ladrilhos hidráulicos, tintas, concretos e argamassas.
A metodologia envolve etapas de caracterização “detalhada” do rejeito, para analisar a composição, possíveis impactos ambientais e testes para garantir a segurança do produto, informou a organização. “O processo inclui ainda a prototipagem de peças em escala industrial e o monitoramento para garantir que os produtos não liberem poluentes, sendo tão seguros e duráveis quanto os feitos com areia natural”, informou em nota.
Economia circular
Esse trabalho é realizado pela equipe que integra o Grupo de Pesquisa Reciclos CNPq, coordenada pelo professor Ricardo Fiorotti. Além de beneficiar o setor da construção civil, a Embrapii espera que os volumes de rejeitos acumulados pelas mineradoras em barragens ou pilhas se tornem um ativo da economia circular.
Para a entidade, os resultados da pesquisa já começaram a ser validados pelo mercado. “A tecnologia foi implementada com sucesso em duas das maiores fábricas de pré-moldados de Minas Gerais, a Bloco Sigma, de Belo Horizonte, e a Uni-Steain, de Pedro Leopoldo”, ressaltou a organização. “Nós produzimos um milhão de peças em cada uma dessas fábricas”, destacou o professor Fiorotti, em nota divulgada.
“Areia de mineração”
Segundo o professor, um dos grandes diferenciais é a facilidade de adoção pela indústria desse tipo de matéria-prima, como a chamada “areia de mineração”. “O valor que agregamos a esse material é que uma planta industrial não precisa modificar em nada a sua rotina para admitir o uso de rejeitos na sua linha de produção”, explicou o pesquisador.
O grupo de pesquisa tem o trabalho coordenado por Fiorotti há 20 anos. Os pesquisadores atuam, desde 2023, na Vila Reciclos/UFOP, que utiliza materiais e produtos desenvolvidos pela Unidade Embrapii e que são também “amplamente utilizados” pelo setor produtivo.
“Várias startups que comercializam rejeitos se apoiam em artigos e papers publicados pelo nosso grupo para embasar seus negócios. Contribuímos com complexos mineradores no Pará, em Minas Gerais, Goiás e até no Tocantins”, afirmou Fiorotti.
Monitoramento
A Embrapii informou que todos os anos a UFOP realiza o monitoramento das obras que utilizaram os materiais de rejeito produzidos por meio da tecnologia desenvolvida. Os dados são coletados para obter “histórico de longo prazo” sobre a durabilidade e o desempenho.
“O tijolo feito de rejeito não compete com o mercado de areia formal. É uma maneira completamente legal, monitorada, qualificada e certificada de obter esse insumo. Já que essa ‘areia de mineração’ passa pelo mesmo controle rigoroso de qualidade do minério de ferro”, afirma Fiorotti.