Matriz limpa pode atrair indústrias, mas ritmo vai depender de tarifaço

A energia renovável é um grande valor agregado para empresas que querem entrar no Brasil, segundo Thomas Kwan, vice-presidente do Instituto de Pesquisas de Sustentabilidade da Schneider Electric . “Isso é uma espécie de ímã”, afirmou Kwan durante o fórum “Brazil-US Energy and Tech Forum 2025”, realizado ontem em Nova York pelo Valor em parceria com a Amcham Brasil. O encontro foi mediado por Francisco Góes, chefe da sucursal Rio do jornal.

Segundo o executivo, ainda existe um gargalo até que seja possível estabelecer a distribuição de energia limpa. Essa limitação decorre do fato de que há muitos parques geradores eólicos e solares no Nordeste do Brasil, mas o consumo de energia elétrica se concentra na região Sudeste e o sistema de transmissão não atende toda a oferta.

De acordo com Kwan, de agora em diante a questão será menos sobre o uso da infraestrutura tradicional e mais sobre infraestrutura digital construída pensando justamente em eliminar gargalos, avaliou. E pressões pelo lado da demanda podem ser importantes nesse sentido, ainda de acordo com Kwan.

O executivo comentou ainda sobre a importância, para os investimentos no setor, de políticas por parte dos Estados nacionais. Este ano a União Europeia (UE) atraiu mais de US$ 30 bilhões em investimentos em energia limpa, em parte porque o capital fugiu dos Estados Unidos. As políticas de longo prazo são importantes neste segmento uma vez que os investimentos em infraestrutura energética podem durar 20 ou 30 anos.

O head de transição energética da S&P Global, Roman Kramarchuck, no entanto, avaliou que a situação geopolítica atual, com conflitos entre países e a imposição de tarifas a produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, traz incertezas que podem impactar o ritmo de adoção de tecnologias de energia limpa em relação a combustíveis fósseis.

“Em um mundo em que a administração Trump busca a dominância na energia, ela vai buscar [crescer] onde os Estados Unidos dominam, que é em combustível fóssil, gás natural e petróleo”, afirmou Kramarchuck. Segundo o executivo, existem diferenças regionais nos investimentos em energias renováveis, com menor participação nas Américas.

O subsecretário adjunto de Economia do Mar do Estado do Rio, Marcelo Felipe Alexandre, defendeu a migração para uma matriz energética limpa. O Rio está apostando na diversidade energética e mira a atuação em conjunto entre academia, indústria e governo. O objetivo é permitir o desenvolvimento de fontes renováveis, como os parques eólicos offshore.

“É o único Estado do Brasil que tem todas as matrizes [energéticas], inclusive a nuclear. Não estamos apostando unicamente na eólica, que é uma importante iniciativa e pode absorver muito da indústria offshore. Nossos 92 municípios já têm energia solar e temos vários projetos de bionergia”, afirmou Alexandre.

Hoje o Rio de Janeiro representa 90% da produção de óleo e gás no Brasil, aproximadamente, e a previsão é que essa produção cresça até 2030. O subsecretário enfatizou a necessidade da migração para uma matriz limpa e lembrou que o combustível fóssil é finito. “Temos ciência de que precisa ser uma transição com responsabilidade social. Não adianta acabar com empregos de uma área sem criar [vagas de trabalho] em outras”, afirmou o subsecretário.

Já o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil (Mdic) assinou um memorando de entendimento com o Instituto de Pesquisa da Schneider Electric para avançar na descarbonização da indústria brasileira. Serão feitos três relatórios.

O fórum também teve um “branded talk” com a principal executiva de sustentabilidade da Philip Morris International, Jennifer Motles, sobre estratégias de negócios para a ação climática.

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