Lucro é objetivo inicial de montadoras da China no Brasil; volume virá depois

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Ainda que o mercado de veículos se torne mais concorrido no Brasil, analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast entendem que, salvo exceções, a prioridade das marcas chinesas no País continuará sendo obter lucro, algo que tem sido difícil na China, ao invés de buscar, ao menos por enquanto, volumes nos segmentos de entrada, cujos modelos são vendidos a preços abaixo de R$ 120 mil e com margens menores.

Mesmo assim, a tendência é que as marcas chinesas continuem dominando o mercado de novas tecnologias, no qual controlam toda a cadeia – dos minérios críticos à produção de baterias -, contam com escala e têm preços imbatíveis. Conforme o consultor Milad Kalume Neto, da K.Lume, a dinâmica vai mudar bastante nos próximos anos, mas é “factível” que os chineses fiquem com 15% do bolo. Neste ano, mostram dados de janeiro a agosto levantados pela K.Lume, as marcas chinesas já chegaram a 11% das vendas no segmento de carros de passeio.

“Não vai ser fácil enfrentar a turma”, concorda Rogelio Golfarb, ex-presidente da Anfavea, a associação das montadoras instaladas no País. Ele observa que as marcas chinesas trouxeram tecnologias a uma “equação de custo-benefício surpreendente”, em especial carros elétricos e híbridos plug-in (com bateria recarregável na tomada), que as montadoras já instaladas no Brasil imaginavam que demoraria mais tempo para chegar.

A resposta foi buscar competitividade em parcerias com grupos chineses ou de outras origens da Ásia, como a Leapmotor – cujos carros desembarcam no Brasil por meio de uma joint venture com a Stellantis, dona da Fiat -, e a associação entre a General Motors e a coreana Hyundai, na qual as duas vão dividir a conta dos pesados investimentos na transição aos automóveis híbridos e elétricos.

“O horizonte automotivo do Brasil está mudando, e mudando rápido porque os consumidores gostaram das novas tecnologias”, afirma Golfarb, que há pouco mais de um ano se aposentou da Ford, onde era vice-presidente de assuntos governamentais, e hoje é sócio da consultoria ZagWork.

Para David Wong, diretor sênior da Alvarez & Marsal (A&M), os chineses provavelmente vão dominar cada vez mais o segmento de carros acima de R$ 300 mil. Embora existam na China modelos compactos que poderiam ser vendidos no Brasil a R$ 100 mil, a estratégia chinesa, nesta primeira fase no Brasil, tem foco na alta gama, diz Wong. É a faixa do mercado onde as montadoras obtêm um retorno financeiro que não encontram na China e fortalecem a reputação de suas marcas. “Poucos estão conseguindo ganhar dinheiro, efetivamente, vendendo carros elétricos na China. Existe uma guerra de preços dentro da China, e as montadoras precisam ganhar dinheiro em algum outro lugar”, comenta o consultor.

“Por mais que a China coloque no Brasil 1% da produção, é mais margem do que consegue ter dentro da China. Não que o Brasil vá sustentar a necessidade de geração de caixa, mas é um caminho, especialmente porque o mercado americano está fechado”, acrescenta Wong.

Apesar disso, o diretor da A&M frisa que chegará o momento em que os chineses voltarão a artilharia aos segmentos de maior volume no Brasil. “Quase 35% do mercado está nos preços em torno de R$ 100 mil. O carro elétrico não chegou lá ainda, em parte porque, antes de popularizar, existe a intenção de fazer com que o veículo se torne um carro de desejo. Depois, vai descendo. Tem gente que fala assim: ‘os chineses nunca vão chegar no carro elétrico de R$ 100 mil’. Mas vai chegar”, aposta Wong.

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