
Os produtores rurais brasileiros têm em suas fazendas mais de 1,65 milhão de máquinas agrícolas. Esses produtores querem renovar a frota — cada equipamento tem 15 anos de uso, em média —, mas esbarram no alto custo e nas dificuldades de acesso ao crédito para fazê-lo, de acordo com o Panorama Setorial de Máquinas Agrícolas 2025, um estudo inédito, elaborado pela consultoria [BIM]³— Boschi Inteligência de Mercado.
A empresa fez a pesquisa em todas as regiões do país, cruzando informações de 715 produtores. O trabalho estendeu-se de fevereiro a julho deste ano, e 80% do levantamento ocorreu presencialmente.
Na frota atual, há 1,35 milhão de tratores, 217 mil colheitadeiras e 82,5 mil pulverizadores. A tecnologia embarcada e a correlação entre equipamento e produtividade revelam que colheitadeiras e pulverizadores são novos, com idade média de dez e oito anos, respectivamente. Os tratores, por sua vez, têm, em média, 18 anos de uso.
“Pulverizadores e colhedoras são equipamentos mais caros, e, portanto, quem primeiro renova a frota são grandes agricultores, que têm condições de sempre atualizar a frota. Já os tratores são usados por todos do campo e têm menos tecnologia embarcada. Por isso, é possível usá-los por mais tempo”, afirmou ao Valor Gregori Boschi, sócio fundador da companhia.
Ele montou a [BIM]³há dois anos junto com Luis Henrique Vinha, depois de ambos trabalharem na indústria de peças para máquinas pesadas por décadas. “Notamos que o setor de ônibus e caminhões tem muito mais dados do que o de máquinas agrícolas. Resolvemos acabar com esse gargalo e entender o que a indústria tem e o que o produtor rural precisa”, disse Vinha.
Os dados mostram que a frota deverá ter 1,8 milhão de unidades em 2030. O estudo tem margem de erro de 3,4 pontos percentuais e nível de confiança de 95%. Do total de entrevistas, 64% foram com grandes propriedades, que têm mais de mil hectares, seguidas pelas que têm de 51 a 200 hectares (18%) e de dez a 50 hectares (17%).
Renovação da frota
Segundo a [BIM]³, uma das surpresas do estudo foi constatar que os produtores têm apetite por renovação da frota: ao todo, 55% disseram ter planos de comprar uma nova máquina em até dois anos. No entanto, os produtores esbarram mais em burocracia do que em juros ou crédito disponível.
“Muitos foram os relatos de produtores que não conseguem reunir os documentos para acessar o financiamento”, contou Vinha. A burocracia é um entrave maior do que os juros altos para 44% dos participantes do levantamento.
Esse quadro, somado ao custo alto dos equipamentos, tem criado condições para o avanço da locação de máquinas. Dos produtores que responderam, 11% alugam tratores, 19%, pulverizadores, e 38%, colheitadeiras.
“Como são usadas apenas em um período da safra e têm custo mais elevado, as colhedoras são os equipamentos que os produtores mais alugam. Vemos aí uma oportunidade para novas empresas e novas formas de negócio no campo”, afirmou Boschi.
Perfil
O proprietário da fazenda ainda é responsável pela decisão de compra em 70% dos casos. Produtores da chamada “geração X” (nascidos entre 1960 e 1980) respondem por 39% das escolhas, e os “millennials” (que nasceram entre 1980 e 1996), por 24%. Pessoas da “geração Z” (nascidos entre meados de 1990 e 2010) já fazem parte de 15% das decisões, um contingente maior do que o dos “baby boomers” (que nasceram entre 1946 e 1964), que respondem por 12%.
Os homens ainda são maioria na decisão de compra das máquinas agrícolas, mas as mulheres têm protagonismo um pouco maior em alguns segmentos específicos. É o caso, por exemplo, do cultivo do café, em que as mulheres já respondem por 18% das decisões.
Na avaliação do eixo tecnologia, a pesquisa atesta que o agro brasileiro já opera com ferramentas como GPS, telemetria e agricultura de precisão. Mas, nas expectativas para o futuro, há um desencontro entre os desejos dos produtores brasileiros e a oferta da indústria.
“Enquanto as fábricas pensam em inteligência artificial e em mais precisão, o agricultor busca máquinas com cabines tecnológicas e confortáveis, câmbio automático, sistemas de compactação inteligente do solo, precisão maior por linha e configurações adaptadas a cada cultura”, afirmou Boschi.
Segundo Vinha, dois fatores explicam esse descasamento. “O primeiro é que é preciso ter melhores condições para garantir mão de obra. Além disso, as fazendas não têm a conectividade necessária para o produtor usar essas tecnologias”, completou. Apenas 33,9% das propriedades do país tem conectividade total como 4G ou 5G.
Mas, para os próximos anos, as intenções de compra e venda convergem para necessidade de modernização das máquinas, com sistemas inteligentes e integrados e cada vez mais autônomos. Segundo os consultores, isso reforça a oportunidade na locação dos equipamentos. Será cada vez mais difícil ter trabalhadores que saibam operar tudo, observaram.
O diesel seguirá como combustível predominante, representando 96% da matriz em tratores, 90% em pulverizadores e 86% em colheitadeiras. Para a [BIM]³, esse quadro só mudará se a legislação obrigar ou em casos específicos, como o da cana, em que os usuários da máquina também são produtores de biocombustível.