
A catástrofe climática de maio de 2024 no Rio Grande do Sul bloqueou estradas e portos, fechou o aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, por meses, e interrompeu trechos ferroviários. Dos 1.680 km em operação antes das enchentes, só 921 km estão ativos.
“A região Sul contribui para o desenvolvimento socioeconômico, com cadeias fortes, mas convive com gargalos logísticos, como rodovias sobrecarregadas em tempos de safra, e tem a necessidade de ampliar a malha ferroviária”, diagnosticou Jorge Bastos, diretor-presidente da Infra SA, durante evento realizado dia 16 em Porto Alegre na série de debates Logística no Brasil, promovida pelo Valor, com oferecimento do Ministério dos Transportes e Infra SA.
Ricardo Portella, vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), lembrou que as ferrovias gaúchas, do século XIX, cortam cidades e têm muitas curvas, fazendo com que a velocidade de viagem seja de cerca de 12 km/h. “Queremos chegar a 80 quilômetros por hora, com uma geometria nova, bem adequada, raios longos. O trem só consegue subir a serra com 1% de declividade, tem que ter túneis, viadutos”, afirmou.
A diretora de obras e projetos da Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário, criada pelo governo atual dentro do Ministério dos Transportes com foco no setor, Maryane da Silva Figueiredo Araujo, disse um dos pontos pensados é racionalizar a malha, dividindo-a em trechos e que sejam atrativos para o mercado.
Para Luiz Afonso Senna, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista na área de transportes, preocupações como resiliência da infraestrutura num Estado mais vulnerável aos extremos climáticos precisam entrar nos novos processos de concessão. “É óbvio que os contratos não irão abarcar tudo, mas tem que tentar prever”, disse.
O caso que melhor simboliza os desafios que ficaram após o desastre gaúcho, segundo ele, é o da RSC-287, estrada que liga a área central do Rio Grande do Sul à região metropolitana de Porto Alegre e que conecta a três rodovias federais que cortam o Estado – as BRs 153, 386 e 471 – nos cerca de 215 km entre Tabaí e Santa Maria. Assim como mais de 11 mil km de estradas gaúchas, esse corredor logístico foi severamente atingido pelas enchentes. Alguns trechos chegaram a ser cobertos por 2 metros de água; outros, de até 15 km, praticamente sumiram do mapa.
De acordo com o Panorama Logístico do Rio Grande do Sul, da Infra SA, 478 dos 497 municípios gaúchos e 4,8% da malha rodoviária local – ainda há cerca de dez pontos de bloqueios – foram afetados. O Funrigs, fundo público para ações de reconstrução ligado ao Plano Rio Grande, tem cerca de R$ 1,2 bilhão para recuperação de pontes e estradas. No Estado, 10% das rodovias são pavimentadas, contra 12% na média brasileira.