Hidrogênio verde trava na Bahia, e empresa busca solução para usar equipamento milionário

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Diante da dificuldade para vender equipamentos que havia comprado para montar uma fábrica de hidrogênio verde em Camaçari (BA), a Unigel tenta criar uma joint venture com a alemã Ferrostaal para usar o maquinário adquirido na produção de e-metanol, apurou o Estadão/Broadcast. As dificuldades no mercado de hidrogênio, porém, têm retardado uma decisão em relação ao negócio.

Apesar de não ter iniciado as obras da fábrica, a Unigel comprou os equipamentos por US$ 60 milhões (R$ 320 milhões na cotação atual). Desse total, US$ 30 milhões compõem a dívida da companhia. A empresa contratou o JP Morgan para tentar revender as máquinas — que estão na Europa —, mas não encontrou interessados.

A tentativa agora, apurou a reportagem, é fechar um contrato com a Ferrostaal para usar os equipamentos também em Camaçari. No lugar de produzir amônia a partir de hidrogênio verde, as empresas fabricariam e-metanol, combustível também feito com hidrogênio verde que tem potencial para ser adotado pelo setor marítimo para reduzir suas emissões de gases poluentes.

Procurada, a Ferostaal não respondeu à reportagem. A Unigel não quis comentar o assunto.

Em meio à crise financeira que atravessa há mais de dois anos, a Unigel desistiu de construir o que seria a primeira fábrica do País de hidrogênio verde. O projeto, cuja primeira fase havia sido orçada em US$ 120 milhões, previa para o fim de 2023 o início da fabricação local de hidrogênio e de amônia verde. Produzida a partir do hidrogênio verde, a amônia verde pode ser usada na fabricação de fertilizantes com uma pegada de carbono reduzida quando comparada à dos produzidos com gás natural.

A intenção da Unigel era, na primeira fase, produzir 10 mil toneladas por ano de hidrogênio verde e 60 mil toneladas de amônia verde. Na segunda fase, que deveria ter sido iniciada neste ano, a companhia iria quadruplicar sua capacidade.

Os equipamentos comprados pela Unigel são três eletrolisadores. Essas máquinas separam as moléculas de hidrogênio e de oxigênio da água por meio de corrente elétrica. O hidrogênio pode ser armazenado na forma de gás em botijões ou transformado em amônia (usada em fertilizantes) para ser transportado. Se for transformado em amônia e exportado, ao chegar no local de uso, precisa ser reconvertido em hidrogênio para ser utilizado como combustível.

Apesar das apostas que surgiram nos últimos anos de que o hidrogênio verde seria uma das principais soluções para o mundo reduzir suas emissões de gases poluentes, o segmento não se desenvolveu como esperado — o que dificulta a missão da Unigel de se desfazer de seus eletrolisadores.

Em todo o mundo, empresas que haviam anunciado projetos de hidrogênio verde passaram a recuar diante dos altos custos de instalação de plantas, da escassez de incentivos públicos e da falta de demanda pelo produto. Em junho, a alemã Leag anunciou que adiou indefinidamente os planos de construir uma unidade porque as condições econômicas e políticas esperadas não se materializaram. No mesmo mês, a ArcelorMittal informou que desistiu de construir instalações que usariam hidrogênio verde como fonte energética e descarbonizariam duas unidades de produção de aço na Alemanha. Segundo a companhia, questões políticas, energéticas e de mercado não evoluíram de maneira favorável para tornar o investimento viável.

Também desistiram, postergaram ou reduziram investimentos que envolviam hidrogênio verde as espanholas Iberdrola e Repsol, as britânicas BP e Shell, a norueguesa Equinor, a finlandesa Neste e as australianas Fortescue e Woodside Energy.

O custo de produção geral do combustível — que demanda muita energia elétrica — é um dos entraves para o desenvolvimento do setor. Hoje, está ao redor de US$ 6 por quilo. Para ser competitivo com o gás natural, teria de cair para US$ 2. Enquanto não alcança esse patamar, o hidrogênio verde tem sido preterido por seus potenciais demandantes.

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