O Corredor Bioceânico, que prevê ligação do Brasil ao Peru para escoar grãos e minérios do Centro-Oeste para a China via porto de Chancay, é inviável por rodovias, diz Paulo Afonso Rodrigues da Silva Lustosa, presidente da Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas (Fenatac). “A saída para o porto de Chancay é a ferrovia”, afirmou ele na segunda-feira (29) em Cuiabá, em debate da série “Logística no Brasil”, promovida pelo Valor, com oferecimento do Ministério dos Transportes e Infra S.A.. A série está percorrendo as cinco regiões do país para discutir essa questão estratégica. A mediação foi de Lu Aiko Otta, repórter especial do jornal.
Lustosa citou condições adversas nas estradas em países vizinhos como Chile e Bolívia. Segundo ele, há um “problema grave” com a Bolívia que impede o deslocamento pelo país. “Se alguém é atropelado, eles param a rodovia por cinco dias e não tem ninguém que faça resolver esse problema lá. Ter uma ferrovia até Santa Cruz de La Sierra resolve o problema. A saída para o porto de Chancay é ferrovia.” A solução, prosseguiu, é terminar as ferrovias de integração Centro-Oeste (Fico) e Oeste-Leste (Fiol) e estender esse corredor para Rondônia, Acre, Peru e a parte baixa da cordilheira dos Andes.
O maior entrave para o escoamento da produção do Centro-Oeste é a baixa capacidade das malhas rodoviária, hidroviária e ferroviária, disseram representantes de governos estaduais e entidades do setor, que cobrou atenção do Congresso para o tema e segurança jurídica para investidores.
Marcelo de Oliveira e Silva, secretário de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso, fez críticas ao governo federal, que a seu ver estaria repassando a responsabilidade sobre a infraestrutura logística a produtores e à população local. “Tanto Mato Grosso quanto Goiás precisam investimentos na parte logística, principalmente a ferroviária”, afirmou.
Ele também cobrou ações mais enfáticas por parte do Congresso: “Precisa olhar para o custo Brasil e parar de olhar para problemas do [próprio] Congresso Nacional, com matérias ridículas. É preciso olhar para temas do povo”. E acrescentou que o governo estadual entregou várias rodovias pavimentadas – um total de 6 mil km de asfalto novo está previsto até 2026.
O presidente da Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), Pedro Sales, disse que investimentos estaduais saltaram de R$ 1,2 bilhão para R$ 3,6 bilhões na malha rodoviária de Goiás, a partir de um amplo programa de construção, restauração e duplicações de corredores rodoviários. Ele também celebrou os leilões da Rota Verde e da Rota do Agro, que devem injetar R$ 15 bilhões de investimentos nessas vias.
“Estamos muito esperançosos com as obras da Fico. Ao menos do lado do Estado de Goiás, elas estão indo muito bem. Há uma grande expectativa do setor”, afirmou.
Sales lembrou que o ministro Edson Fachin, que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), pôs em pauta o projeto da Ferrogrão, paralisado na corte devido a ação do Psol que questiona a modificação dos limites do Parque Nacional do Jamanxim (PA). “O Brasil tem problema de prioridade. O Centro-Oeste é a galinha dos ovos de ouro em produtividade nesse país”, disse. “Ou se prestigia geração de renda, com infraestrutura e logística como matrizes, ou definimos que somos país pobre e largamos os projetos de infraestrutura pra trás.”
“Evidentemente que estamos falando de situações e desafios que já conhecemos há muitos anos. Temos uma capacidade produtiva de classe mundial, e uma infraestrutura logística que precisa estar adequada a essa capacidade”, disse Lilian Campos, superintendente de inteligência de mercado da Infra S.A, empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes. Ela destacou o sucesso de leilões e renegociações de contratos pela pasta.
Campos apontou que uma das inovações trazidas pelo governo federal é o Plano Nacional de Logística e que o Ferrogrão (corredor ferroviário que vai ligar o Centro-Oeste ao porto de Mirituba, no Pará) é um projeto estratégico para o Brasil.