Exportações verdes perdem participação na pauta brasileira, aponta estudo

Embora o Brasil busque se firmar como liderança global da economia sustentável, a participação de produtos “verdes” na pauta exportadora brasileira caiu de 10,5% em 2016 para 9,3% em 2024. É o que mostra um levantamento realizado por economistas do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG antecipado ao Valor.

Em valores absolutos, as exportações brasileiras desse segmento se mantêm estagnadas em torno de US$ 21 bilhões desde 2021, após atingir um pico de US$ 31,5 bilhões em 2017. Em outras palavras, o grupo se manteve estável, enquanto as demais exportações brasileiras cresceram — entre 2017 e 2024, o Brasil registrou um crescimento de quase 57% nos embarques.

“O fato de termos uma matriz limpa de energia elétrica não quer dizer que vamos liderar a indústria verde. A gente está em vantagem porque já produz de forma limpa, mas diversos outros países têm necessidade de outro tipo de geração de energia ou de processo que vão reduzir suas emissões e vão requerer entrada nesses setores verdes. Então é uma possibilidade para o Brasil, mas não associada à posição que tem hoje”, diz João Prates Romero, um dos autores do estudo.

O trabalho mostra que o país caminha a passos lentos para expandir sua atuação na área. Usando como base para o levantamento as diferentes classificações criadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Fórum Econômico da Ásia e Pacífico (Apec), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização Mundial do Comércio (OMC), que consideram 152 produtos verdes existentes, o estudo aponta que o país é competitivo em 48 deles ― um pequeno acréscimo em relação aos 43 registrados em 2016.

Na lista dos produtos que mais têm crescido na pauta de exportação verde brasileira estão os acumuladores elétricos de níquel-hidreto, ligados ao setor de eletromobilidade, os instrumentos e aparelhos de medição (monitoramento ambiental e eficiência industrial), grupos eletrogêneos e transformação de alta potência (infraestrutura elétrica) e produtos de base material, painéis e ladrilhos e vagões ferroviários (setores industriais tradicionais).

Já entre setores, predominam as exportações verdes ligadas a máquinas e equipamentos (38%), transporte (32,7%), químicos (18,1%) e metais (5,2%).

Complexidade

O trabalho mostra ainda que o índice de complexidade das exportações verdes brasileiras competitivas cresceu ligeiramente entre 2016 e 2024, de 0,351 para 0,537. Este grupo também tem complexidade muito superior à média brasileira da pauta brasileira, que é de apenas 0,008.

Os autores defendem que o governo coloque os produtos verdes como centrais em suas ações para o setor, envolvendo esforços da Nova Indústria Brasil (NIB), do Programa de aceleração do Crescimento (PAC) e do Plano de Transformação Ecológica (PTE). O BNDES também poderia dedicar mais atenção e financiamento a esses produtos, em particular por causa da alta participação de máquinas e equipamentos.

“Temos emissão pequena, mas, se não fizermos o dever de casa, não vamos aproveitar a nova fase de mudança tecnológica em direção à produção mais limpa. E perder esse bonde da renovação das cadeias produtivas que pensam em termos de emissão ― que tendem a ter maior potencial de crescimento ― significa ficar preso a produtos com emissões altas”, explica Romero.

No caso brasileiro, lembra, o grosso da pauta exportadora também é responsável por boa parte das emissões de gases, como as emissões de metano associadas à agropecuária e ao petróleo.

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