
O setor de ônibus vive um 2025 em marcha acelerada. Em setembro, as vendas cresceram 13% em relação ao mesmo mês do ano passado, consolidando uma tendência positiva que se desenha desde o início do ano. No acumulado de janeiro a agosto, o segmento já registra avanço de 14,4% sobre 2024, com mais de 15,7 mil unidades licenciadas.
Esse desempenho contrasta com o mercado de caminhões, que segue em retração, e reforça a visão de que o transporte coletivo e escolar atravessa um ciclo de renovação.
“Há uma demanda reprimida que agora começa a se materializar. Seja para a mobilidade urbana ou para programas públicos, o setor está reagindo de forma consistente”, afirma um executivo de montadora.
Impulso vem da mobilidade e dos programas públicos
O aquecimento do segmento está ligado a diferentes fatores. Programas como o Caminho da Escola garantem encomendas de ônibus escolares em municípios, especialmente no interior. Ao mesmo tempo, as cidades veem pressão para renovar frotas urbanas desgastadas, em resposta ao aumento da circulação de passageiros após a pandemia.
No turismo e no transporte rodoviário, o fluxo maior também estimula operadoras a investir em veículos novos.
Eletrificação ganha protagonismo
Um capítulo à parte é o avanço dos ônibus elétricos. Em julho, foram vendidas 160 unidades, um salto de mais de 1.100% sobre 2024. A chinesa BYD lidera o movimento, mas outras fabricantes também estão ampliando portfólio e capacidade produtiva.
Essa transição atende não só às metas ambientais de várias cidades, mas também a pressões de usuários por um transporte mais silencioso, limpo e eficiente.
Exportações reforçam o fôlego
Além do mercado interno, as montadoras instaladas no Brasil aproveitam a demanda externa. Exportações de ônibus urbanos e rodoviários ajudam a dar escala à produção, sustentando volumes mesmo quando os orçamentos municipais enfrentam restrições.
Desafios no caminho
Apesar da aceleração, o setor ainda enfrenta obstáculos. O custo elevado do crédito, com Selic em torno de 15%, limita parte das compras, especialmente em cidades menores. A dependência de recursos públicos também preocupa: muitos municípios trabalham com orçamentos apertados e não conseguem renovar frotas no ritmo necessário.
Outro ponto é a infraestrutura: a adoção crescente de ônibus elétricos exige rede de recarga robusta e manutenção especializada, ainda incipientes em várias regiões do país.
Perspectiva para 2026
A Fenabrave projeta crescimento de 6% no mercado de ônibus em 2025, ao mesmo tempo em que prevê retração para caminhões. Analistas avaliam que o movimento pode se intensificar em 2026, sustentado por:
expansão da eletrificação;
renovação de frotas antigas de transporte urbano e rodoviário;
programas federais e estaduais de financiamento escolar e urbano;
parcerias público-privadas para mobilidade sustentável.
“Se houver melhora no crédito e estabilidade fiscal, o ônibus pode ser o grande protagonista da indústria automotiva pesada em 2026”, aponta um analista de mercado.
Otimismo cauteloso
O saldo é positivo: setembro confirmou que o setor está em expansão consistente, puxado por diferentes motores. Mas os especialistas alertam que a manutenção da Selic em patamar alto ou cortes em programas públicos podem frear o ritmo.
Ainda assim, a sensação predominante entre fabricantes e operadores é de que o ônibus entrou em 2025 com os motores aquecidos — e deve chegar a 2026 pronto para acelerar ainda mais.