Cabotagem avança pouco entre indústrias do Nordeste, aponta CNI

Embora possua aproximadamente 3.338 quilômetros de litoral, o que representa cerca de 35% da costa brasileira, o Nordeste tem apenas 29% de suas indústrias utilizando o transporte por cabotagem, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Das 41 empresas nordestinas que participaram da Consulta Empresarial sobre Cabotagem, a maioria enfrenta obstáculos logísticos e estruturais que limitam a adesão ao modal aquaviário.

O levantamento ouviu 195 empresas de 29 setores industriais, distribuídas por todas as macrorregiões do país. No recorte regional, Ceará e Rio Grande do Norte concentram o maior número de respondentes, com sete empresas cada, seguidos por Bahia e Sergipe. A baixa adesão ao transporte marítimo contrasta com o potencial estratégico da região, que abriga portos como Suape (PE), Pecém (CE) e Salvador (BA).

As empresas participantes atuam principalmente nos setores de alimentos, bebidas, químicos e construção civil, que frequentemente demandam movimentação de cargas em grande volume — condição potencialmente favorável ao uso da cabotagem.

Falta de rotas, integração modal e distância dos portos limitam uso

Entre as indústrias que não utilizam a cabotagem, 45% apontam incompatibilidade geográfica com as rotas existentes, 39% relatam indisponibilidade de serviços regulares, e 15% mencionam o tempo de trânsito como fator limitante. Outros 15% citaram a distância entre a origem da carga e o porto mais próximo como entrave.

A distância média entre as plantas industriais e os portos também influencia a viabilidade logística: entre os usuários da cabotagem, a média é de 130 km; entre os não usuários, 265 km. Além disso, as empresas que utilizam a cabotagem transportam cargas por distâncias médias de 1.213 quilômetros, entre a origem e o destino das mercadorias. Já entre os que não utilizam, a média é de 862 quilômetros.

Apesar das dificuldades, uma em cada cinco empresas que ainda não usam o modal indicou que o adotaria se houvesse infraestrutura e serviços adequados.

Para as empresas que já utilizam o modal, os principais benefícios são a redução de custos logísticos (79%)e a segurança no transporte (21%). A operação por cabotagem tende a ser mais vantajosa para rotas superiores a mil quilômetros.

Adesão maior entre grandes empresas e em estados costeiros

O uso da cabotagem está diretamente relacionado ao porte da empresa. Entre os pequenos negócios, apenas 7% utilizam o modal, e todos com uso pouco frequente. Entre as médias, o índice sobe para 22%, com predominância de uso moderado. Já entre as grandes empresas, 44% usam a cabotagem, sendo 8% com uso intensivo.

O levantamento também identificou os estados com maior propensão à adoção do modal, caso haja melhorias estruturais. O destaque está no Rio Grande do Sul (17%), seguido por Bahia (13%), Rio Grande do Norte (13%), Santa Catarina (13%), e outros como Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe (8% cada).

CNI vê na cabotagem oportunidade para reequilibrar matriz de transportes

A cabotagem representa atualmente apenas 11% da matriz de transporte nacional, sendo 75% dessa movimentação concentrada em petróleo e derivados, segundo a CNI. A entidade projeta que, com um melhor equilíbrio modal, o país pode reduzir seus custos logísticos em até 13%.

Paula Bogossian, analista de infraestrutura da CNI, afirma: “Os custos de transporte no Brasil são elevados, uma vez que utilizamos equivocadamente o modal rodoviário em longas distâncias. Como mostra a pesquisa, a situação poderia ser diferente se aumentássemos o uso da cabotagem.”

Programa BR do Mar é visto como solução para ampliar o modal

Apenas 18% das empresas entrevistadas conhecem o Programa BR do Mar, criado pela Lei nº 14.301/2022 e regulamentado em julho de 2025 pelo Decreto nº 12.555/25. No entanto, 90% das empresas que conhecem o programa esperam obter benefícios com sua implementação.

Entre as empresas que já utilizam a cabotagem, 85% apontam a redução de custos como principal benefício esperado a partir do BR do Mar. Entre os que ainda não utilizam, esse percentual é de 70%.

Os entraves mais citados para o avanço do programa são os baixos investimentos em infraestrutura portuária — mencionados por 69% das empresas usuárias e 70% das não usuárias do modal.

Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI, avalia: “Apesar de termos uma costa litorânea extensa, ainda usamos pouco a navegação por cabotagem e os dados da pesquisa evidenciam esse potencial. Para a indústria, que transporta grandes cargas e volumes, a modalidade é um grande diferencial para a competitividade do setor. Por isso, o BR do Mar é tão relevante.”

Muniz também chama atenção para os critérios ambientais do programa: “A cabotagem já é seis vezes menos poluente que o transporte rodoviário. Os parâmetros para embarcações sustentáveis precisam promover o equilíbrio entre sustentabilidade e viabilidade econômica, sem comprometer o desenvolvimento da indústria naval nacional.”

O que é cabotagem

A cabotagem é a navegação entre portos ou pontos situados dentro de um mesmo país, utilizando vias marítimas ou interiores navegáveis, conforme definição da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). O termo vem do navegador Sebastião Caboto, conhecido por explorar trechos costeiros, margeando as terras sem se afastar do litoral.

Diferencia-se da navegação de longo curso, que ocorre entre países distintos. Quando mais de um modal é usado, com operadores diferentes, trata-se de transporte intermodal. Se houver apenas um operador em toda a cadeia logística, o termo é transporte multimodal.

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