A rentabilidade das exportações brasileiras sofreu uma queda significativa em agosto, impactada pela valorização do real frente ao dólar, aumento dos custos de produção e a imposição de tarifas pelos Estados Unidos. Segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a margem de lucro das exportações caiu 7,7% em agosto em comparação com o mesmo mês de 2024. No acumulado do ano, ainda há um leve crescimento de 0,9%, mas a tendência é de desaceleração, com expectativa de encerramento de 2025 próximo a uma retração de 1% em relação ao ano anterior.
Impacto cambial e aumento de custos
A valorização do real frente ao dólar reduziu a receita em reais obtida pelos exportadores, diminuindo a margem de lucro. Além disso, os custos de produção aumentaram 2,7%, impulsionados principalmente por serviços e salários, que registraram alta de 5,2% em agosto em relação ao mesmo período de 2024. Os insumos importados apresentaram queda, mas não foram suficientes para compensar os aumentos nos demais custos.
Efeito do “tarifaço” dos EUA
Outro fator que contribuiu para a queda da rentabilidade foi a imposição de tarifas pelos Estados Unidos, o chamado “tarifaço”. O governo norte-americano elevou tarifas sobre produtos como madeira e móveis, afetando setores como o calçadista e artigos de couro, que registraram perdas de até 11% na rentabilidade em agosto em comparação com 2024. Para contornar o efeito das tarifas, empresas redirecionaram parte das exportações para outros mercados, mas isso também contribuiu para a queda de preços. Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) indicam que produtos semimanufaturados de ferro ou aço tiveram queda de 28,3% nas exportações para os EUA em agosto, enquanto vendas para outros países subiram quase 100%. Já a carne bovina desossada caiu 47,4% nos embarques para os EUA, com aumento de 67,9% para outros destinos.
Perspectivas para o futuro
Especialistas indicam que a tendência é de manutenção da pressão sobre as margens nos próximos meses. A combinação de valorização do real, preços internacionais em desaceleração e incerteza sobre a política tarifária americana deve continuar afetando os exportadores. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), afirma que nada indica aumento das cotações no curto prazo, o que pode reduzir ainda mais as margens dos exportadores e pressionar os preços dos manufaturados.
A desaceleração do comércio internacional também agrava a situação. A Organização Mundial do Comércio (OMC) reduziu a projeção de crescimento do comércio global de bens para 0,9% em 2025, contra 2,7% estimados antes do tarifaço. Esse cenário de incerteza exige que os exportadores brasileiros adotem estratégias para mitigar os impactos e buscar novos mercados para seus produtos.