Toyota corre contra o tempo e retoma produção no Brasil após vendaval em fábrica de motores

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Dez dias após o vendaval que devastou a fábrica de motores da Toyota em Porto Feliz, interior de São Paulo, a montadora japonesa anunciou a retomada gradual da produção de veículos no Brasil a partir de 3 de novembro. A retomada será feita com motores importados e, inicialmente, contemplará apenas as versões híbridas do Corolla e do Corolla Cross, tanto para o mercado doméstico quanto para exportação.

O presidente da Toyota do Brasil, Evandro Maggio, classificou o período pós-tempestade como uma “corrida contra o tempo”, destacando o esforço conjunto da matriz japonesa, de subsidiárias no exterior, fornecedores, parceiros e colaboradores locais para garantir a continuidade das operações.

“Todo esse apoio nos dá coragem e confiança para seguir firmes e fortes em nossa recuperação e no compromisso com a entrega de soluções de mobilidade sustentável para nossos clientes na América Latina e Caribe”, afirmou Maggio em carta divulgada nesta sexta-feira, 3.

Impactos do vendaval

O vendaval, ocorrido em 22 de setembro, causou estragos significativos na fábrica de Porto Feliz. O destelhamento total da unidade atingiu maquinários e equipamentos, alguns alagados e outros destruídos, obrigando a empresa a transferi-los para um galpão alugado, onde serão analisados individualmente para verificar a possibilidade de recuperação.

Apesar da gravidade, não houve feridos graves: 18 funcionários se machucaram, mas já estão em casa e recuperados.

A fábrica de Porto Feliz permanece sem previsão de retomada, e a Toyota aplicará layoff temporário aos trabalhadores da unidade — uma medida aprovada pelos próprios funcionários e que garante estabilidade no emprego, preservação dos salários e manutenção de todos os benefícios durante o período de paralisação.

Retomada gradual e foco nos híbridos

Com a produção em Porto Feliz paralisada, a Toyota precisou recorrer a motores e peças importados, principalmente do Japão, utilizando transporte aéreo e marítimo para acelerar a logística. A primeira etapa de retorno à produção abrangerá os híbridos, enquanto a fabricação de veículos com motores convencionais será retomada em janeiro de 2026, incluindo o Corolla, Corolla Cross e Yaris Hatch para exportação. A produção deve atingir o volume regular apenas em fevereiro.

Segundo Maggio, o objetivo da retomada em novembro e dezembro é recuperar o volume de veículos híbridos não produzidos entre 23 de setembro e 31 de outubro.

“No caso dos volumes dos veículos híbridos, vamos conseguir recuperar os volumes perdidos. Para os demais modelos, a situação será diferente, reduzindo o volume na rede e nos fornecedores”, explicou o CEO em entrevista ao portal AutoIndústria.

A rede de concessionárias, que mantém estoque reduzido de apenas 8 a 10 dias, já enfrenta a falta de carros nacionais 0 km, mas continua operando com veículos usados, pós-venda e modelos importados, como a Hilux, vinda da Argentina. A Toyota garantiu que não haverá suspensão de vendas, mas alertou para prazos de entrega mais longos aos clientes.

Apoio da rede e fornecedores

A retomada da produção também envolveu negociações com fornecedores, alguns dos quais aprovaram layoff para garantir a preservação de empregos e direitos. Esta semana, trabalhadores das empresas Kanjiko, TT Steel e Gestamp, todas fornecedoras da Toyota em Sorocaba, aprovaram assembleias virtuais que formalizaram a suspensão temporária dos contratos, com manutenção de salários e benefícios.

“Com diálogo e negociação, conseguimos na montadora um acordo histórico que deu tranquilidade para milhares de famílias. Agora, estamos estendendo essa mesma proteção às empresas fornecedoras”, disse Leandro Soares, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba.

O secretário-geral do sindicato, Silvio Ferreira, reforçou a importância da medida: “Embora seja um período difícil, o layoff assegura direitos e benefícios. O papel do Sindicato é justamente garantir que a crise não recaia sobre quem mais precisa de segurança neste momento”.

Bastidores de uma recuperação acelerada

Segundo Maggio, a estratégia para retomar a produção exigiu planejamento intenso e soluções rápidas. Além da importação de motores, a empresa precisou ajustar cronogramas e adaptar processos de produção, especialmente para os motores convencionais, que dependem de componentes exclusivos da operação brasileira.

“Vamos começar pelos modelos flex, pois já havia produção no Japão, complementada no Brasil. Para os motores convencionais, serão necessárias adaptações no Japão e acertos com fornecedores para garantir o abastecimento”, explicou.

O executivo destacou que o suporte interno, incluindo governos, autoridades, associações, sindicatos, concorrentes e a sociedade, foi fundamental para acelerar a retomada. “O engajamento da matriz no Japão foi total, e o apoio local também foi impressionante. Isso mostra a união da indústria em momentos de crise”, avaliou.

Projeções de mercado

Apesar da parada, a Toyota mantém a confiança na recuperação do mercado. Entre janeiro e setembro, a montadora emplacou 90 mil veículos no país, segundo dados do Renavam, o que significa uma perda estimada de cerca de 10 mil unidades em outubro. A expectativa é que a retomada dos híbridos já em novembro permita compensar parcialmente essas perdas.

Enquanto isso, o lançamento do Yaris Cross, originalmente previsto para outubro, permanece sem data definida, devido à indisponibilidade de componentes de motor exclusivos da operação brasileira.

O renascer da Toyota no Brasil

O episódio do vendaval e a rápida reação da montadora evidenciam tanto a vulnerabilidade das fábricas diante de desastres naturais quanto a resiliência da Toyota em enfrentar crises. A combinação de apoio internacional, negociações locais e estratégias logísticas eficientes permitiu que a empresa voltasse a operar em tempo recorde, contrariando previsões pessimistas do setor, que apostavam em retomada apenas em 2026.

“O que poderia ser definido como uma tragédia só não foi mais grave porque não tivemos feridos graves. Agora, com a produção retomando, seguimos firmes no compromisso com nossos clientes, colaboradores e fornecedores”, resumiu Maggio.

A história da Toyota nos próximos meses será uma espécie de corrida contra o tempo: equilibrar produção, vendas e logística em meio às consequências do vendaval, ao mesmo tempo em que mantém empregos e confiança de consumidores e fornecedores. Uma prova de que, mesmo em meio à tempestade, a mobilidade sustentável continua sendo prioridade da montadora no Brasil.

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