
Um novo ciclo de expansão para a engenharia brasileira
A engenharia brasileira vive um novo momento.
Segundo o Ranking 500 Grandes da Engenharia Brasileira 2025, publicado pela Revista O Empreiteiro, o faturamento das 190 maiores empresas do país chegou a R$ 143,81 bilhões em 2024 — um avanço de 147,41% em relação a 2018.
O dado simboliza o fim de uma década de estagnação que começou após 2012 e marca o início de uma fase de crescimento sustentável, com forte presença de capital privado e foco em eficiência operacional.
“O que estamos observando é uma engenharia mais diversificada, menos dependente do investimento público e mais orientada a parcerias de longo prazo”, aponta o editorial do Ranking.
O que impulsionou o crescimento
A recuperação do setor tem relação direta com a expansão das concessões e PPPs (Parcerias Público-Privadas).
De acordo com o levantamento, os investimentos contratados entre 2022 e 2024 somam:
R$ 58 bilhões em rodovias,
R$ 64 bilhões em saneamento,
R$ 23 bilhões em ferrovias.
Esses números revelam uma engenharia cada vez mais conectada à infraestrutura estruturante do país, com foco em mobilidade, logística, energia e meio ambiente.
Enquanto isso, o investimento público segue em retração. Economistas entrevistados na edição destacam que a taxa de investimento brasileira (16,8% do PIB) ainda é insuficiente para sustentar o ritmo de expansão — o ideal seria atingir 25% do PIB para consolidar o ciclo de crescimento.
Setores que mais cresceram entre 2018 e 2024
Construção
A construção continua sendo o coração da engenharia nacional.
Com R$ 82,6 bilhões em receita, representa mais da metade do faturamento total do ranking.
Empresas como OEC, Acciona, OHL, LCM e Barbosa Mello lideram o segmento, enquanto médias regionais como Construpower, Vertin e Teccon ganham força em projetos de saneamento, rodovias e obras industriais.
Serviços Especiais de Engenharia (SEE)
Foi o segmento que mais cresceu: +297% desde 2018 e +35% apenas em 2024.
A alta reflete a consolidação de empresas voltadas à engenharia ambiental, fundações, geotecnia e manutenção industrial, como Ambipar, Solví, Revita e Fundsolo.
A tendência é clara: o mercado se move para soluções técnicas especializadas e sustentáveis.
Montagem Industrial
Com faturamento de R$ 14,88 bilhões, o setor acumulou crescimento de 146% desde 2018, impulsionado por energia, mineração e petroquímica.
Companhias como CBSI, Kaefer, MIP, TSE e Milplan consolidam um mercado cada vez mais tecnológico e integrado à indústria 4.0.
Projetos e Gerenciamento
A engenharia consultiva, que compreende projetistas e gerenciadoras, atingiu R$ 12,02 bilhões (+8,22%).
Empresas como Progen, Concremat, Timenow e Arcadis Logos vêm incorporando BIM, digital twins e gestão integrada de dados em seus processos, transformando a forma como obras são planejadas e executadas no país.
Tendências que sustentam o crescimento
O estudo mostra que o crescimento da engenharia brasileira está alicerçado em três pilares:
Transição energética e sustentabilidade — aumento de obras de energia solar, eólica e hidrogênio verde.
Digitalização e produtividade — uso de BIM, drones, sensores e plataformas de dados para reduzir custos.
Reindustrialização e integração regional — novas plantas industriais e obras logísticas fora do eixo Sudeste.
Esses fatores estão redefinindo o perfil das empresas, que hoje competem não apenas por preço, mas por eficiência, inovação e governança.
A geografia do crescimento
Embora o Sudeste siga como o principal polo da engenharia (responsável por 70% do faturamento nacional), o Sul e o Centro-Oeste foram as regiões que mais cresceram proporcionalmente em 2024.
No Nordeste, empresas como Cosampa, Dois A Engenharia e Carmona Cabrera consolidam um movimento de descentralização que reforça o papel da engenharia regional.
O resultado é um mapa mais equilibrado, com polos de inovação se espalhando por todo o país.
Perspectivas para 2025–2028
O cenário segue positivo, mas com ritmo moderado.
A expectativa é que o PIB da engenharia acompanhe o PIB nacional — com crescimento entre 2% e 3% ao ano até 2028.
As oportunidades estarão concentradas em:
saneamento básico (novo marco regulatório),
energia limpa e industrialização,
infraestrutura logística e transporte urbano.
A engenharia brasileira deve seguir em um ciclo de crescimento sustentado, tecnológico e descentralizado, reafirmando seu papel estratégico para o desenvolvimento econômico do país.