Em franca expansão, Passo Fundo tem mais de 100 edifícios em construção

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Passo Fundo é uma das cidades da Região Norte do Estado que têm crescido nos últimos anos. Entre 2020 e 2021 — os dados mais recentes com recorte municipal, computados pelo Departamento de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (DEE-RS) —, o Produto Interno Bruto (PIB) municipal cresceu 24,9%, deixando a cidade em 6º lugar no ranking dos PIBs dos municípios gaúchos. Essa pujança se transmite na atração de moradores para a cidade e, consequentemente, em um mercado da construção civil aquecido.

Atualmente, 106 prédios e sete projetos de loteamentos ou condomínios estão em construção na cidade, conforme a Secretaria Municipal de Obras. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Construção Civil (Sinduscon) de Passo Fundo e sócio da Una Construtora, Cristiano Basso, o número elevado já não é novidade. “É impressionante, porque nos últimos três ou quatro anos, não baixa de 100 (prédios em construção na cidade)”, estima, considerando que a cidade já é o segundo maior polo no setor no Estado, perdendo apenas para Porto Alegre. Apenas em 2025, já foram emitidos 307 alvarás pela prefeitura, autorizando novas obras.

Não é de se estranhar que o empresário Erasmo Carlos Battistella, da ECB Holding, tenha lançado no dia 25 de setembro a Ci8, uma construtora própria para atuar em um megaempreendimento imobiliário. Que, aliás, será a sua estreia no mundo da construção civil.

Em uma quadra situada na região central de Passo Fundo, atrás do Instituto Educacional (IE), que também foi reformado por ele, serão erguidos quatro edifícios de alto padrão, incluindo salas comerciais e apartamentos residenciais, um hotel quatro estrelas, um centro de eventos e um mall.

“A construção civil de Passo Fundo é muito importante porque, há muitas décadas, vem fazendo o diferencial e vem ajudando nossa cidade a chegar na 6ª economia (do RS). E quem sabe, com o trabalho de todos, logo, logo, chegamos à 4ª economia do Estado do Rio Grande do Sul. Com esse respeito, nos somamos a esse setor tão importante para a nossa região”, afirmou Battistella ao anunciar a novidade.

Os imóveis são de alto padrão, com assinatura de nomes consagrados do mercado, como o arquiteto Alexandre Feu e o paisagista Guilherme Takeda. Inspirados em grandes metrópoles, eles seguem o conceito de cidades caminháveis, sem “muros, fundos ou barreiras”, conforme descreve material apresentado à imprensa. Os edifícios contam com infraestrutura com academia, piscinas e até mesmo um spa.

Essa tendência de investir no bem-estar — conhecida em inglês como wellness — foi também observada por quem está há mais tempo no mercado. Valdemar Scorsatto, que fundou a Scorsatto Construções e Incorporações há 31 anos, destaca que a demanda surgiu durante a pandemia e passou a guiar seus projetos futuros.

“Antigamente, você fazia, no máximo, um salão de festas e era ok. Hoje, não. Tem que fazer salão de festas, academia, sala de jogos, quadras esportivas, piscina… São coisas que nem se pensa em construir um prédio sem. O mercado ficou mais competitivo e dinâmico. Isso, de determinada maneira, acelerou o desenvolvimento. Todo mundo teve que correr atrás da tecnologia e hoje os prédios estão também muito mais tecnológicos”, analisou Valdemar.

O perfil dos interessados pelos imóveis também foi alterado ao longo do tempo. “Mudou bastante. Antes, a maior parte de quem consumia imóveis eram funcionários públicos, principalmente do Banco do Brasil. Hoje, são os advogados, agricultores e a área médica os que mais consomem os imóveis nesse estilo que a gente produz”, acrescentou o construtor.

E, com a mudança no perfil de clientes, os consumidores se tornaram mais exigentes. “Eu lembro que o pai vendia pela quantidade de metros dos apartamentos. A pessoa às vezes nem via o imóvel, não ia visitar e já comprava. Hoje, busca a qualidade e o conforto. Então, a exigência foi lá em cima, porque as pessoas começaram a conhecer novas coisas e a querer ter uma planta dinâmica”, destacou o filho de Valdemar, o engenheiro civil Gustavo Scorsatto, que atua na construtora junto ao pai e outros dois irmãos: o também engenheiro Douglas e a arquiteta Marília.

A solução tem sido apostar na exclusividade e na personalização. Esses conceitos podem ser vistos em prédios novos da construtora, como o Artsy, o Epic e o Allure, localizados em áreas de alta valorização da cidade.

Quem também tem apostado nesses aspectos é Basso, que atua com a Una desde 2009 em Passo Fundo e, desde então, afirma ter buscado mudar o skyline da cidade. Ou seja, a silhueta, que se tornou mais verticalizada.

No seu caso, os imóveis são localizados quase todos no mesmo bairro: a Vila Rodrigues. “Como não é um bairro planejado, é um bairro que já existe há muitos anos, a Una tentou planejar ele nas suas edificações e, lógico, a gente cria uma relação com o bairro”, destaca o empreendedor, que também preside o Sinduscon local.

A exclusividade buscada por ele pode ser vista em um prédio audacioso que ainda está em construção, mas com entrega próxima, prevista entre o final de 2026 e o início de 2027. Batizado de Chardonnay, o edifício terá 140 metros e 40 andares. Com isso, será o residencial mais alto do Rio Grande do Sul.

“São 34 apartamentos, com um por andar. O primeiro apartamento começa no sexto pavimento e já tem uma vista diferente, estando a mais de 20 metros de altura. O prédio se tornou referência não só pela altura, mas pela arquitetura, que é muito diferenciada. Trouxemos curvas na fachada, que mostraram a elegância do projeto. E é um prédio esguio, que chama atenção, vindo com uma caixa de embasamento grande e depois ficando muito fino. Vai ser um marco para a cidade”, projeta Basso.

Demanda por condomínios residenciais também aumenta, mas licenciamentos demoram

Outra demanda trazida pela pandemia e pela busca pelo bem-estar foi a de condomínios residenciais. Embora os prédios tenham aumentado, as áreas condominiais também trazem a interação, a exclusividade, o luxo e os serviços procurados pelos novos clientes.

Nesse sentido, a Una Construtora possui um projeto em parceria com a Universidade de Passo Fundo (UPF) para a criação de um condomínio em uma área de 75 hectares localizada aos fundos da Faculdade de Direito. “A ideia é trazer um bairro planejado, de forma organizada, com sistema de monitoramento de pessoas, quadras para prédios, quadras para casas, áreas de comércio… Tudo isso conectado com a universidade”, explica Cristiano Basso, sócio da incorporadora.

O condomínio, batizado de Viva Garden, possui, ainda, um diferencial que não pode ser observado nos outros projetos da construtora, por mais robustos que sejam: o contato com a natureza. “É difícil você conseguir no Centro da cidade um contato com a natureza e, lá, a pessoa vai se permitir a todo dia ter essa oportunidade”, pontua o empreendedor. O empreendimento ainda está em fase de licenciamento.

Os trâmites de um loteamento, conforme analisam os membros da família Scorsatto, tem demorado até sete anos para ser superados. “Um empreendedor que vem para a cidade, às vezes, não espera sete anos para construir. Ele vai para outra cidade e constrói lá”, destaca Gustavo Scorsatto. A construtora da família, aliás, também está com o lançamento de um condomínio horizontal previsto para o ano que vem, que deverá ser realizado no bairro Lucas Araújo, popularmente conhecido como Bosque.

Ao todo, 23 projetos de condomínios ou loteamentos tramitam pela Secretaria Municipal de Obras, um número maior que o de prédios que somam 18 empreendimentos em análise. “Loteamentos e condomínios passam por aprovação de concessionárias de energia, abastecimento de água, licenças ambientais, registro de imóveis e algumas vezes até mudanças de plano diretor. Então, o prazo depende de muitos fatores, que mudam de projeto para projeto”, explica o secretário de Obras, Rubens Astolfi.

O vice-prefeito de Passo Fundo, Coronel Ceolin, no entanto, afirma que o Executivo tem buscado acelerar os trâmites da construção civil no município, que possui diversos empreendimentos em fase de licenciamento. “A prefeitura fez uma reforma administrativa há pouco tempo e um concurso público em que foram admitidos mais de 450 servidores, incluindo na engenharia, na construção e no setor de obras para fazer frente a essa grande demanda que tem sido apresentada e para que consiga não ser um entrave e, sim, um fator de beneficiamento e propulsão para que os grandes empresários venham para cá”, defendeu o político.

Uma dessas medidas é o programa Obra Fácil, instituído por lei em 2021, que, conforme Astolfi, “tem como objetivo garantir a celeridade nas aprovações e licenciamentos de obras civis, sem prejuízo à eficiência do serviço, coesão no trâmite dos processos e contribuir para a qualidade dos serviços prestados no âmbito de aprovações e licenciamentos”. A partir da iniciativa, 3.338 alvarás de obras já foram emitidos desde sua implementação.

Falta de mão de obra desafia empreendedores da construção civil

Embora uma centena de edifícios esteja em construção, a viabilidade das obras perpassa por um grande entrave: a falta de mão de obra, que não acompanhou o desenvolvimento regional. Nesse sentido, duas têm sido as saídas encontradas pelos empreendedores: trazer equipes terceirizadas de outros lugares ou atuar na contratação de mão de obra própria. O Sinduscon, além disso, criou uma escola de formação de trabalhadores para a construção civil.

“Temos atraído profissionais de outras regiões do Brasil, que estão vindo para Passo Fundopara ajudar a gente a construir esses empreendimentos. Mas, claro, também valorizamos a mão de obra local”, destaca o empresário Erasmo Battistella, pontuando a questão como um desafio. Para ele, entretanto, o crescimento demográfico do município traz um certo otimismo quanto ao entrave.

“O Brasil como um todo vai ter problema com mão de obra na construção civil. Porque tem pessoas se aposentando e não tem pessoas entrando. O País demorou para fazer a transição de materiais e usar sistemas construtivos tecnológicos. Mas agora os prédios vão ter cada vez menos trabalhos artesanais e cada vez mais componentes para fazer a construção ser mais rápida”, acrescenta Cristiano Basso.

Na Una, o empreendedor também tem trazido pessoas de outros estados para atuarem nos empreendimentos. “Deixei de ter como CLT e terceirizei esse setor. Hoje, quase todas as incorporadoras buscam mão de obra lá (em Santa Catarina). Porque não tem formação de obra na cidade e se tem buscado em outras cidades. Estou agora com empresas de Porto Alegre fazendo pintura, de Santa Catarina fazendo estrutura e de Caxias do Sul trabalhando aqui dentro. E isso gera um custo adicional. Precisamos convencer os jovens a trabalhar na construção civil porque ela remunera muito bem”, avalia.

Na Scorsatto, Valdemar destaca que considera como um diferencial o fato de a construtora ter mão de obra própria. A maioria, contratada por indicação ou na sucessão de funcionários que já atuaram nos 31 anos de existência da empresa. Entretanto, ele considera que um dos fatores que afastaram os jovens da construção civil foi o estigma e o estereótipo que se construiu em torno da figura do pedreiro.

“Era visto como o último na cadeia produtiva, muito menosprezado. Hoje, é uma profissão bem valorizada, que vale ouro. Mas o pedreiro ficou muito marginalizado pela sociedade. Há 30 anos, eram pessoas que sobraram de outras profissões. Tinha muita gente que bebia e fumava, mas isso deixou de existir. Você não pode botar para trabalhar no 20º andar de um prédio alguém que não tenha todos os treinamentos e saúde para isso. Então, o perfil mudou bastante”, analisa Valdemar.

A Construção Civil de Passo Fundo em Números

106 prédios estão em construção atualmente, totalizando mais de 7.650 unidades autônomas.

18 prédios encontram-se com projetos sendo analisados pela Secretaria de Obras.

Sete projetos de loteamentos/condomínios estão em obras, somando 1.313 unidades autônomas.

Há 23 projetos de loteamentos/condomínios sendo analisados pela Secretaria de Obras.

Em 2025, a Secretaria de Obras já emitiu 307 alvará para novas obras.

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