É fato que o mundo atravessa uma tempestade de incertezas: guerras comerciais, políticas tarifárias voláteis e crises geopolíticas ameaçam desestabilizar as economias mais vulneráveis. No caso do Brasil, o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, que elevou tarifas em até 50% sobre produtos nacionais e reduziu as exportações gerais em quase 20% em apenas um mês, expôs nossa fragilidade diante de choques externos. Se recuarmos agora, abriremos caminho para a desindustrialização, perda de um rico tecido econômico e dissolução da nossa soberania.
Para enfrentar esse momento crítico, a indústria química se coloca como pilar indispensável. O segmento está presente em 96% da produção industrial brasileira, alimentando setores vitais, como agricultura (fertilizantes, defensivos, embalagens), construção (tintas, aditivos), saúde (medicamentos, insumos), alimentos (conservantes, embalagens seguras), energia, defesa e tecnologia. Dar suporte a esse setor não é apenas um ato de atenção política, é garantir a solidez da base da economia que gera empregos, produz alimentos, constrói casas e sustenta o progresso do país.
Os números que retratam a situação do setor são eloquentes. Em 2024, a indústria química brasileira registrou deficit de US$ 48,7 bilhões na balança comercial de produtos químicos, o maior da série histórica. As fábricas operam com apenas 64% da capacidade instalada, o menor nível já registrado. O setor perdeu postos de trabalho e reduziu o recolhimento de impostos, enquanto enfrenta custos elevados de energia, gás natural e tributação. Esses indicadores não representam apenas estatísticas, mas sinalizam a urgência de políticas públicas que devolvam competitividade e segurança à indústria nacional.
O Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química — Presiq (PL 892/2025), do deputado Afonso Motta (PDT/RS), surge como a resposta moderna e estratégica para esse desafio. Com urgência aprovada na Câmara e em fase de produção de relatório pelo deputado Carlos Zarattini (PT/SP) para apreciação em plenário, ele propõe estimular a indústria com contrapartidas que aceleram a transição para processos de baixo carbono.
Entre os principais instrumentos do Presiq estão mecanismos de incentivo à produção e inovação, medidas de fomento à pesquisa e desenvolvimento e apoio a investimentos que tornem a indústria química brasileira mais sustentável e integrada às cadeias globais de valor. O projeto busca garantir previsibilidade regulatória e criar um ambiente de negócios que permita ao setor competir em condições equilibradas com países que já adotam políticas de incentivo robustas.
Os impactos esperados são contundentes: até R$ 112 bilhões de incremento no PIB, geração de até 1,7 milhão de empregos diretos e indiretos, arrecadação tributária adicional de R$ 65,5 bilhões e redução de 30% nas emissões de CO2 por tonelada produzida. Esses números não estão em um relatório acadêmico isolado, foram apresentados por estudos altamente técnicos da Abiquim e de parlamentares comprometidos com a neoindustrialização do Brasil.
A indústria química representa 11% do PIB industrial do país e é a terceira maior dentro da indústria de transformação. Mas enfrenta deficit comercial de US$ 48,7 bilhões (2024), agravado pela concorrência desleal de insumos importados baratos, especialmente dos Estados Unidos e da Ásia. Em escala global, vemos potências investindo com força em inovação e competitividade industrial. A China, por exemplo, elevou sua produção química em 9%, mesmo com crises globais, enquanto países como Rússia resistem com crescimento de 3% no setor químico mesmo em guerra. Isso nos mostra que o caminho não é recuar, é acelerar. O Presiq deve ser um passo decisivo nessa direção.
A indústria química brasileira aplaude a iniciativa do Congresso e deposita esperança na condução firme e na capacidade de negociação para a aprovação do projeto de lei. O tempo de agir é agora. Aprovar o Presiq significa decidir entre sermos reféns de variáveis externas ou assumirmos o protagonismo do desenvolvimento sustentável. Significa proteger nossas cadeias produtivas, valorizar nosso capital humano, preservar empregos qualificados e garantir soberania estratégica. Este é o momento de alinhar competitividade, inovação e sustentabilidade em uma política industrial robusta. Fortalecer a indústria química é fortalecer o Brasil.
*André Passos Cordeiro — presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)