Política industrial sustentável: chave para competitividade do Brasil

Especialistas internacionais participaram, nesta quinta-feira (9), de um intercâmbio de experiências sobre políticas industriais de longo prazo no mundo.

O debate foi parte da programação do segundo dia do Seminário sobre Políticas Industriais no Brasil e no Mundo, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O seminário faz parte do Festival Curicaca, realizado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que acontece de 7 a 11 de outubro, em Brasília (DF).

A perenidade das estratégias industriais e o aumento da competitividade

Entre tantas opiniões sobre a construção, o monitoramento e a avaliação das políticas industriais, um tema é consensual entre os especialistas: a necessidade de uma política mais perene para ser possível a execução de ações que resultem no aumento da competitividade internacional.

Mas, essa é apenas uma das diversas estratégias necessárias ao desenvolvimento econômico do Brasil.

William Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, William Maloney, voltou a dizer que o fraco desempenho econômico da América Latina e Caribe, inclusive do Brasil, se deve ao histórico da incapacidade de explorar novas oportunidades tecnológicas. Segundo ele, a ALC colhe as consequências de um século perdido de crescimento. Segundo ele, alguns países que se encontravam no mesmo patamar, como Austrália, Japão, República da Coreia e Taiwan e China, que produziam os mesmos produtos, tiveram um crescimento acelerado e dominaram as tecnologias de fronteira.

Como recuperar o tempo perdido? Para Maloney, combater o custo Brasil, investir em capital humano, tecnologia e inovação, além de mergulhar em novos mercados. Mas, segundo ele, a ausência de perenidade nas políticas industriais pode não garantir a construção de economias de aprendizagem. “O que o Brasil está fazendo hoje não está funcionando. É preciso mudar a estratégia. Construir uma economia de aprendizagem para explorar as oportunidades tecnológicas”, destacou.

A equipe de reportagem da CNI entrevistou o Maloney no estúdio da Agência de Notícias sobre oportunidades tecnológicas, crescimento da América Latina e a elaboração de políticas pública. Veja matéria completa.

Renato de Gaspi, pesquisador associado da Net Zero Industrial Policy Lab da John Hopkins University, afirmou que garantir condicionalidades à política industrial pode ser um caminho para que ela se torne uma estratégia de longo prazo. Além disso, Gaspi acredita que as grandes políticas, como a Nova Indústria Brasil (NIB), por exemplo, devem ser micro focalizadas para que as cadeias tenham mais atenção e retorno em seus projetos.

Os novos mercados da Política Industrial

Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Arbache, olhar para o passado não é a melhor solução para os rumos da política industrial. Além disso, comparações com grandes potências econômicas também são sensíveis e podem não ser a saída mais interessante quando o assunto é competitividade internacional. “Me diga quem você é (país) e eu te digo que tipo de política industrial você pode fazer. Se você possui mais ou menos acordos comerciais, se é desenvolvido ou não. Ou seja, a indústria não é apenas manufatura, estamos falando de um todo”, completou.

Arbache explicou que o Brasil sempre produziu políticas industriais para o mercado interno e, segundo ele, para o enfrentamento dos novos desafios impostos pelas transformações climáticas e geopolíticas, buscar a competitividade internacionais requer ações em segurança alimentar, segurança energética e descarbonização.

O economista, criador do conceito powershoring, estratégia em que países e empresas escolhem instalar fábricas e centros produtivos em locais com oferta abundante, estável e limpa de energia, disse que o Brasil está pronto para a iniciativa e que essa pode ser a virada de chave da competitividade diversificando novos mercados, com o favorecimento de cadeias locais de valor, além de inserir o país em cadeias globais de produção.

“Falar de Política Industrial hoje não é o mesmo de falarmos de uma PI de 60 anos atrás. Vivemos com um novo cenário climático, geopolítico, tecnológico que não consegue abarcar planos do passado. É preciso políticas públicas que olhem para o futuro, para os novos mercados. Mesmo com excelentes intenções, nós ainda não estamos preparados para o futuro”, ressaltou.

Stefania Relva, diretora de transformação industrial do Instituto E+, salientou que o Brasil possui como ativo estratégico de enorme valor uma matriz elétrica majoritariamente limpa e renovável. No entanto, Relva apontou que a preocupação deve ser como será a sua expansão, já que é necessário planejamento e demanda de escala para projetos de longo prazo. Para isso, ela também destacou a necessidade do combate ao Custo Brasil. “O ecossistema precisa mudar. Portanto, o caminho é ter demanda de escala, articular políticas industriais modernas, a longo prazo e integrar iniciativas públicas e privadas, transformando as vantagens naturais em vantagens competitivas reais”.

Segundo ela, se conseguirmos alinhar capital humano com infraestrutura e energia, condições de atrair investimentos, poderemos nos posicionar como líder global da nova economia verde, protagonizando a transição industrial.

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