A forte fuga de dólares em 2024, que empurrou a cotação do real para níveis próximos de R$ 6,30 por unidade, continua sendo uma sombra sobre o mercado cambial brasileiro em 2025. Apesar de alguns fatores de estabilização, operadores e investidores seguem atentos ao risco de repetição de episódios de aversão ao risco global e às fragilidades da economia nacional.
O que ocorreu em 2024
No ano passado, combinações de fatores internos e externos desencadearam uma saída expressiva de recursos estrangeiros do Brasil. Pressões como altas taxas de juros nos EUA, preocupações sobre o cenário fiscal doméstico e deterioração das contas públicas alimentaram uma migração de capitais. Essa dinâmica intensificou a demanda por dólares, gerando grande desvalorização do real.
Em alguns momentos dessa trajetória, o câmbio chegou a oscilar fortemente, chegando ao marco de R$ 6,30, pressionando importadores, empresas endividadas em moeda estrangeira e afetando as expectativas de inflação.
Por que o risco persiste
Embora as condições globais e domésticas tenham apresentado sinais de melhora, o câmbio continua exposto a choques externos, como:
Aumento das taxas de juros nos EUA, que eleva o custo de oportunidade de manter ativos em mercados emergentes;
Incerteza fiscal brasileira, com dúvidas sobre o equilíbrio das contas públicas e reformas estruturais (tributária, administrativa etc.);
Fragilidade na confiança dos investidores, que pode gerar movimentos abruptos de saída de capital diante de notícias negativas, alertas globais ou reprecificação de risco.
Alguns analistas ressaltam que, mesmo com melhora relativa nos últimos meses, o Brasil não escapou totalmente da volatilidade cambial — e sua dependência de fluxos estrangeiros torna o câmbio particularmente sensível.
Mecanismos de defesa e limitações
Para tentar mitigar esses efeitos, o Banco Central e o governo adotaram medidas como:
Leilões de swap cambial e contratos de hedge reverso para fornecer liquidez em dólares ao mercado;
Ajustes na política monetária para manter atratividade dos ativos locais;
Ações diplomáticas e negociações para garantir fluxo externo (empréstimos internacionais, acordos multilaterais etc.).
Porém, tais instrumentos têm proteção limitada: quando a fuga de capitais é intensa e rápida, o mercado pode impor pressão superior à capacidade de intervenção estatal. Além disso, o ciclo de taxas externas pode superar a política monetária local, fragilizando o controle doméstico.
Consequências para empresas e consumidores
A instabilidade cambial afeta diferentes agentes da economia:
Empresas com dívidas em dólar ficam mais expostas ao custo de rolagem e amortização;
Importadores têm seus custos elevados, pressionando margens ou repassando preços ao consumidor;
Inflação de produtos importados, que reverbera no índice geral de preços;
Perspectivas de investimentos estrangeiros, visto que maior volatilidade implica maior prêmio de risco exigido pelos investidores.
Cenário para 2025 e recomendações
Para o horizonte próximo, o câmbio deve permanecer volátil. A capacidade do Brasil em atrair e reter investimentos estrangeiros dependerá de:
Disciplina fiscal e clareza nas reformas estruturais, para reduzir prima de risco e melhorar confiança;
Política monetária ajustada, para equilibrar atratividade de ativos locais com estímulo ao crescimento;
Fortalecimento de mecanismos cambiais — reservas robustas, instrumentos de hedge e coordenação macroeconômica;
Monitoramento externo constante, sobretudo frente a movimentações nos mercados internacionais e políticas monetárias globais.