
O mercado de automóveis brasileiro agora passa a contar com a produção nacional de duas grandes marcas chinesas: a GWM (que abriu sua fábrica em agosto deste ano) e a BYD, que inaugurou sua produção recentemente, e o Jornal do Carro esteve presente no evento. Contudo, uma pergunta permanece: o que ganha o consumidor com a instalação dessas fábricas no Brasil?
Para entender melhor os impactos diretos dessa movimentação para o consumidor final, é preciso saber antes o que muda para as montadoras. Juan Sanchez, diretor-executivo da Accenture, explica que produzir no Brasil não é preferência por mera questão de logística.
“Com a produção nacional, a montagem dos veículos na estrutura CKD, por exemplo, essas montadoras chinesas podem evitar algumas taxas de importação adicionais, como pode ocorrer com um modelo trazido vida 100% importação, e definitivamente vão trazer maior oferta de veículos eletrificados para o mercado”, explica.
Planos de expansão são ambiciosos, e tem consequências
Além disso, a expectativa de produção é suficiente para reforçar a competitividade local. Falando em números, somente a “primeira onda” de eletrificados da BYD e GWM, somados, podem resultar em 200 mil veículos. Se considerarmos os planos de expansão, fala-se em 300 mil carros só na GWM, e até 600 mil para a BYD, por exemplo.
Outro fator a ser considerado nesse “balaio” de consequências é o impulsionamento na disponibilidade de postos de carregamento. Juan explica que essas montadoras já fizeram esse movimento em outros mercados, podendo se aliar com empresas de energia, e tentando pavimentar o caminho entre o consumidor e os eletrificados, ampliando a infraestrutura nacional de recarga, por exemplo.
O que ganha o consumidor com a produção nacional de um carro chinês?
Porém, um fator permanece em destaque: o preço final. Afinal, o carro chinês produzido no Brasil, fica mais barato? No comentário do consultor Milad Kalume Neto, da K.LUME consultoria, antes da resposta, é preciso separar a explicação em partes.
“No curto prazo a redução (de preço), se ocorrer, é um jogo de estratégia, pois os investimentos são vultuosos e os custos Brasil, em especial no tocante aos impostos, mantém a pressão sobre os preços. O que diminui, claro, são os custos logísticos e o equilíbrio em relação à importação, que passa a ser apenas parcial e específica a determinados equipamentos”, explica.
“Já no médio prazo existe um espaço um pouco maior para a redução de preços à medida que a escala aumenta, os fornecedores locais se consolidam e o conteúdo local aumenta”, comenta o consultor. Isso significa uma reação em cadeia, a grosso modo. Melhorias relacionadas a planejamento de estoque, maior disponibilidade de modelos e otimização logística facilitam o cenário local das fabricantes, em relação aos processos de importação, por exemplo.
“A precificação do veículo tende a ficar mais ágil e a política de incentivos muito mais sensível às ações do mercado, respondendo prontamente com aquilo que denominamos por incentivos no varejo e nas vendas diretas”, Milad explica.
Além disso, junto a consolidação de fornecedores locais, estoques de peças e rede de concessionários e/ou oficinas autorizadas especializadas, cria-se certa segurança ao consumidor, mais decidido pela compra, e certo do comprometimento da montadora com o mercado local. “O valor residual de um produto produzido localmente tende a cair ao longo do tempo, pois a maior procura e a teoria dos custos de manutenção menores são pontos fundamentais desta equação”, conclui.