A Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) começa a sair do papel, mas o ritmo é desigual entre os trechos. Enquanto as frentes de trabalho avançam entre Mara Rosa, em Goiás, e Água Boa, em Mato Grosso, com 22,5% de execução física, a etapa que deve atravessar o coração agrícola do estado ainda está em fase de licenciamento e modelagem de concessão.
O projeto total prevê 888 quilômetros de trilhos, dos quais 383 quilômetros correspondem ao trecho inicial em construção e 505 quilômetros formarão a ligação entre Água Boa e Lucas do Rio Verde. Essa segunda parte é considerada estratégica para consolidar o corredor logístico que permitirá o escoamento da produção de soja, milho e algodão do norte mato-grossense até os portos de São Luís, Santos e Paranaguá.
De acordo com a Infra S.A., o canteiro de obras em Água Boa deve ser aberto apenas no segundo semestre de 2026, marcando o início da expansão dentro de Mato Grosso. Até lá, seguem em andamento os estudos ambientais e as tratativas sobre titularidade e consulta a comunidades indígenas.
O município de Gaúcha do Norte se prepara para receber o empreendimento, visto como essencial para destravar o potencial econômico do leste do estado. A chegada da ferrovia é apontada como determinante para a geração de empregos, atração de indústrias e redução de custos logísticos.
Segundo a Vale, responsável pela execução do primeiro trecho, as obras já atingem 36% de avanço físico, com cerca de mil trabalhadores mobilizados em Cocalinho (MT), na construção da ponte ferroviária sobre o Rio das Mortes. Essa estrutura é uma das mais complexas do trajeto e conecta o município a Nova Nazaré, marcando a entrada simbólica da ferrovia em território mato-grossense.
Com cerca de 10 mil habitantes e mais de 350 mil hectares cultivados nas duas safras, Gaúcha do Norte produz mais de 1,1 milhão de toneladas de grãos por ano e figura entre as cidades mais ricas do agronegócio brasileiro, com valor de produção estimado em R$ 2,2 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura. Em 2024, exportou US$ 8,8 milhões em soja e milho para dez países.
O projeto também prevê a instalação de um pátio intermodal em Gaúcha do Norte, beneficiando outros cinco municípios do entorno que, juntos, produzem cerca de 5 milhões de toneladas de grãos.
De acordo com relatórios da Infra S.A. e da Valec, o cronograma da FICO mantém previsão de entrega do primeiro trecho até 2027, com avanço das obras em direção a Mato Grosso a partir de 2026. Até lá, a movimentação de solo e terraplanagem permanece concentrada em Goiás.
A FICO integra a política nacional de infraestrutura ferroviária e deve ligar a Ferrovia Norte-Sul, em Goiás, à Ferrovia de Integração Oeste-Leste, na Bahia, criando uma rota transversal de transporte de cargas entre o Centro-Oeste e o litoral brasileiro.