Mineração busca novo ciclo de investimentos com foco em minerais críticos e sustentabilidade

A mineração brasileira tenta inaugurar um novo ciclo de investimentos e competitividade global. Com o desafio de reduzir emissões, atrair capital e transformar o país em protagonista na cadeia de minerais críticos, o Invest Mining Summit 2025, realizado na Avenida Faria Lima, em São Paulo, reuniu executivos do setor mineral, representantes do governo e do mercado financeiro para debater o futuro da mineração na transição energética.

Entre os temas dominantes estiveram a integração entre mineração e mercado de capitais, a formação de um ecossistema de valor agregado para minerais críticos, e a modernização regulatória. O encontro foi marcado por uma convergência rara entre agentes públicos e privados, com diagnósticos semelhantes sobre os gargalos: burocracia, insegurança jurídica e carência de instrumentos financeiros domésticos para projetos de longo prazo.

Minerais do futuro e a corrida pela descarbonização

Na abertura do evento, o CEO da BHP, Emir Calluf, destacou o papel do cobre, do minério de ferro e do potássio como pilares da nova economia de baixo carbono. Segundo ele, a transição energética global aumentará exponencialmente a demanda por minerais que sustentam tecnologias limpas — das baterias elétricas aos sistemas de transmissão.

“Não há mais espaço para uma mineração que não atue junto à sociedade, que não inclua as comunidades e os governos para encontrar as melhores soluções. A mineração tem que ser uma atividade que beneficie a todos”, afirmou Calluf, ao reforçar o compromisso da BHP de reduzir em 30% as emissões até 2030 e zerá-las em 2050.

O diretor do BNDES, José Gordon, lembrou que o Brasil está bem posicionado nas duas grandes agendas globais — descarbonização e digitalização — e citou programas que somam R$ 56 bilhões em investimentos em pesquisa mineral e transformação produtiva. Já o BID Invest ressaltou a importância de alinhar financiamento responsável e inovação tecnológica, para que o Brasil se torne “referência em transformação mineral”.

Brasil tenta deixar de ser exportador de matéria-prima

Nos painéis sobre minerais críticos, executivos e pesquisadores defenderam a industrialização da mineração como prioridade nacional. O consenso foi de que o país não pode se limitar a exportar concentrados e minerais brutos, abrindo mão dos elos de maior valor agregado.

“O veículo nasce na mineração e termina na reciclagem”, resumiu João Irineu, da Stellantis, ao defender previsibilidade e política industrial de longo prazo para desenvolver a cadeia de baterias e de engenharia nacional.

Já Gueitiro Genso, da Tupy, destacou a importância da reciclagem e da retenção de resíduos industriais estratégicos, como o black mass — material rico em metais após a trituração de baterias. “Por que não deixar o black mass no Brasil?”, provocou, ao mencionar parcerias com universidades e centros de P&D.

A visão foi compartilhada por Jorge Boeira, da ABDI, para quem o país precisa montar um ecossistema tecnológico e industrial completo, capaz de produzir precursores, células e componentes. “Sem mineração não há transição energética. Mas é uma maratona: precisamos de coordenação entre ministérios, pesquisa e financiamento robusto”, afirmou.

Ambiente para industrialização e papel dos minerais estratégicos

O diretor do IBRAM, Júlio Nery, defendeu a criação de um ambiente mais amigável à industrialização. “Não basta vontade política. É necessário um ambiente favorável para que as cadeias produtivas possam avançar”, disse, lembrando que a participação da indústria no PIB brasileiro encolhe há décadas.

Empresas como a CBA, CBMM e Vale mostraram seus avanços em ESG e neutralidade de carbono. Rodrigo Amado, da CBMM, reforçou o papel do nióbio nas baterias de lítio e na mobilidade elétrica. Já Fábio Brando, da Vale Metais Básicos, destacou que apenas 3% da Floresta Nacional de Carajás é ocupada por mineração e anunciou metas de 700 mil toneladas de cobre entre 2030 e 2035.

O desafio do financiamento e a lacuna do capital nacional

Um dos debates mais aguardados foi a apresentação do estudo da Alvarez & Marsal, que diagnosticou a insegurança jurídica e a assimetria entre capital estrangeiro e doméstico como os principais entraves aos projetos greenfield de mineração.

“Três a cada quatro entrevistados deram nota máxima para a insegurança jurídica brasileira”, relatou Ivan Magalhães, diretor da consultoria. O levantamento mostrou que o risco regulatório e o retorno demorado — entre 10 e 15 anos — afastam o investidor local.

“O Brasil atrai muito capital estrangeiro, mas o nosso mercado ainda é tímido. A valorização gerada aqui acaba sendo capturada por bolsas de fora”, observou Rafael Marchi, da Alvarez & Marsal.

O relatório propõe soluções inovadoras, como tokenização de ativos, flow-through shares, fundos garantidores e incentivos fiscais para pulverizar o investimento e reduzir o risco percebido. A mensagem central é clara: com previsibilidade regulatória e instrumentos adequados, o país tem potencial para converter seu patrimônio mineral em desenvolvimento econômico e capital doméstico.

Faria Lima e o novo mapa da mineração

O próprio local do evento — a Faria Lima, epicentro do mercado financeiro — simbolizou o movimento de aproximação entre mineração e capital.

“O objetivo é construir um ecossistema de atração de investimentos, aproximando investidores de empresas de mineração, inclusive júniores”, explicou Miguel Nery, coordenador da Rede Invest Mining.

O encontro também destacou a cooperação entre a B3 e a Bolsa de Toronto, voltada a listar empresas de pesquisa mineral e ampliar o acesso a recursos internacionais. “A B3 quer ser um agente de sustentabilidade e governança, ajudando a viabilizar projetos de mineração responsáveis”, afirmou o CEO da Bolsa, Gilson Finkelstein.

Um novo ciclo em construção

A combinação de transição energética, digitalização e busca por sustentabilidade recoloca a mineração no centro da agenda econômica.

Mas, como resumiu Marcos André Gonçalves, da ADIMB, o desafio brasileiro é transformar potencial em cadeia de valor: “Temos geologia e mercado. Falta consolidar um projeto nacional que integre tecnologia, capital e indústria.”

Entre otimismo e cautela, o Invest Mining Summit 2025 deixou claro que o futuro da mineração brasileira depende menos da extração e mais da capacidade de inovar — e de fincar o pé na nova economia global dos minerais críticos.

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