Quando os chefes de Estado se reunirem em Belém na próxima semana para a Conferência Climática COP30 da ONU, ouviremos duas narrativas concorrentes. Uma se concentrará na geopolítica instável e na hesitação dos países em apresentar seus novos compromissos nacionais (NDCs), apesar da urgência. Mas a história real a que devemos prestar atenção é a de uma transição energética que está ganhando impulso.
O investimento global em energia limpa continua a atingir novos recordes, à medida que os custos caem para novos patamares. Este ano, pela primeira vez na história, foi gerada mais energia renovável do que por usinas a carvão. Essa expansão parece destinada a acelerar, com a ajuda de melhorias no armazenamento em baterias. As cidades frequentemente superam os governos nacionais na redução de emissões, inclusive construindo melhores redes de transporte e reduzindo o uso de energia, o que traz benefícios imediatos para a qualidade do ar e saúde pública.
A chave para avançar mais rapidamente é permitir que o financiamento flua. A liderança do Brasil reconhece que fechar essa lacuna exige novos investimentos em escala e velocidade sem precedentes. O ponto crucial é estabelecer metas políticas claras que deem confiança aos agentes do mercado, estimulando o investimento privado através do uso mais inteligente de finanças públicas, apoiando os países em desenvolvimento a atrair mais investimento e destravando novas fontes de financiamento privado através de mercados de carbono.
O Brasil, juntamente com outros grandes mercados emergentes, nos oferece um modelo promissor para o progresso. As metas ambiciosas do Brasil para combater as mudanças climáticas são louváveis, mas ainda mais importantes são os passos que estão sendo tomados para alcançar crescimento limpo, bons empregos e maior qualidade de vida. Agir cedo para aproveitar a oportunidade é algo com que os países ao redor do mundo podem aprender.
O investimento global em energia limpa continua a atingir novos recordes. Essa expansão parece destinada a acelerar e a chave para avançar é permitir que o financiamento flua. A liderança do Brasil reconhece que fechar essa lacuna exige novos investimentos em escala
Como anfitrião da Conferência, o Brasil se comprometeu em estabelecer um padrão elevado, com a meta de reduzir as emissões em cerca de dois terços até 2035. É uma meta alcançável. O Brasil tem tido o sistema elétrico mais limpo de qualquer país do G20 há muito tempo e, nos últimos anos, tem visto um rápido crescimento da energia solar e eólica. Ao mesmo tempo, o governo federal tem trabalhado para reduzir as taxas de desmatamento e restaurar ecossistemas danificados, com o objetivo de acabar com o desmatamento até 2030. Florestas e solos restaurados absorverão mais carbono, acelerando o ritmo de corte de emissões.
Cada aspecto da Agenda de Ação da COP30 do Brasil – desde expandir o acesso à energia limpa e proteger o meio ambiente, até construir indústrias limpas que impulsionam a economia global – depende de cooperação e colaboração com o setor privado. O Brasil adotou uma abordagem abrangente para fomentar mais dessa colaboração. A peça central da abordagem é o Plano de Transformação Ecológica, uma estratégia nacional para direcionar mais financiamento a projetos que estimulam o crescimento limpo.
O Brasil é rico em recursos naturais necessários para impulsionar o próximo salto no crescimento limpo – incluindo metais para armazenamento de energia, biocombustíveis e água para energia hidrelétrica e produção de hidrogênio verde, um insumo essencial para reduzir as emissões de indústrias pesadas como a siderurgia e a fabricação de cimento. Mas, muitas vezes, existem riscos financeiros e altos custos iniciais associados a novas tecnologias, o que impede o investimento privado. Isso é verdade não apenas no Brasil, mas em países ao redor do mundo.
Para ajudar a enfrentar o desafio, o Brasil se tornou o primeiro país a fazer parceria com uma iniciativa global chamada Acelerador de Transição Industrial, que a Bloomberg Philanthropies está ajudando a liderar. Lançada na COP28, em Dubai, ela reúne governos, indústria e mercado financeiro para estimular mais investimento em projetos industriais de grande escala que podem impulsionar o crescimento econômico sem prejudicar o meio ambiente.
O Acelerador está identificando projetos promissores, reunindo governos e empresas para navegar por potenciais obstáculos e conectando desenvolvedores com investidores para que mais projetos possam ser iniciados no Brasil. E um número crescente está sendo iniciado, inclusive em fronteiras essenciais como fertilizantes de baixo carbono, cimento e combustível de aviação.
A Bloomberg Philanthropies, em parceria com a Glasgow Financial Alliance for Net-Zero (Aliança Financeira de Glasgow para Emissões Líquidas Zero), também forneceu assistência técnica e outros recursos para desenvolver e implementar a Plataforma de Investimento em Transformação Climática e Ecológica do Brasil (BIP), que é um ótimo exemplo do tipo de colaboração generalizada de que precisamos. O esforço inovador reúne múltiplas agências federais, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), bancos multinacionais para desenvolvimento e investidores privados para direcionar mais capital à energia limpa e a outras iniciativas climáticas para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Este é o desenvolvimento sustentável do Brasil. Uma das formas de fazer isso é consolidando e utilizando estrategicamente fundos federais e multilaterais para reduzir o risco de investimentos privados em projetos que o governo considerou mais alinhados com seus objetivos climáticos.
O Brasil tem uma maior oportunidade para liderar o mundo, e o maior beneficiado será o público brasileiro. Além de proteger os recursos naturais e melhorar a saúde pública, as políticas climáticas do Brasil também estão aumentando sua competitividade. Por exemplo, sua posição de liderança em energia limpa ajudará o Brasil a atrair investimentos em data centers e computação. A liderança climática também torna o Brasil um parceiro comercial atrativo para países – na Europa e além – que estão trabalhando para cortar as emissões provenientes de importações.
O sucesso desta abordagem deve passar uma mensagem forte aos chefes de Estado que chegam a Belém: combater as mudanças climáticas, fazer a economia crescer e melhorar vidas são ações que andam de mãos dadas. Se os líderes na COP30 acatarem essa mensagem, a conferência será a vitória climática mais importante do Brasil até agora.
*Michael Bloomberg é enviado especial da ONU para Ambição e Soluções Climáticas e fundador da Bloomberg Philanthropies