No Vale do Taquari, existe um passeio de trem que reuniu mais de 112 mil turistas em cinco temporadas. Procurada pelos que querem conhecer belas paisagens, a viagem passa por 46 quilômetros de trilhos, entre túneis e pontos turísticos, no Rio Grande do Sul.
Planejado por mais de 20 anos, em 2018 o Trem dos Vales saiu do papel e ganhou vida. Passando por quatro cidades, na Ferrovia do Trigo, ele promete levar os turistas por uma viagem histórica. De 2019 a 2023, um total de 112.147 passageiros puderam aproveitar a atração.
Quem anda no Trem dos Vales consegue percorrer de Guaporé a Muçum, passando por Dois Lajeados e Vespasiano Corrêa. Ele também atravessa os viadutos Pesseguinho e Mula Preta, um dos momentos mais aguardados do trajeto já que a estrutura dá a impressão de que os vagões estão flutuando sobre os trilhos.
O passeio é sempre feito em temporadas, de cerca de quatro a cinco meses cada. A viagem dura cerca de 2 horas, passando por 23 túneis e 15 viadutos da EF-491, a Ferrovia do Trigo.
Dentre as atrações também está o V13, conhecido como o Viaduto do Exército. Com 143 metros de altura e 509 de extensão, ele é considerado o maior da América do Sul.
Uma iniciativa da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), em parceria com a Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), que representa os municípios Colinas, Dois Lajeados, Estrela, Guaporé, Muçum, Roca Sales e Vespasiano Corrêa, o projeto conta com o apoio e cooperação da Rumo Logística.
Rumo interrompido
No entanto, após cinco temporadas incríveis, os trens precisaram tomar um rumo diferente. Os vagões que antes levavam os passageiros em uma trajetória pelo passado, se tornaram parte dele – pelo menos, temporariamente. E o motivo para isso foi o mesmo que afetou a vida de 2,4 milhões de gaúchos: as enchentes históricas que atingiram o RS em maio de 2024.
Era abril. Nas redes sociais e pelo site, o Trem dos Vales anunciava mais uma temporada da atração, com datas de julho a dezembro. E o público comemorava: “Estava esperando ansiosa pelas datas. Se Deus quiser, esse ano a chuva não vai atrapalhar nosso passeio”, escreveu Andreia Giacometi nos comentários de uma publicação.
E ela não era a única. Dentre os comentários, diversas pessoas procuravam por excursões próximas às cidades onde viviam para que pudessem participar da experiência. Outros compartilhavam o que viveram quando fizeram o passeio de trem e que gostariam de ir novamente.
Mas os sonhos foram interrompidos após as chuvas torrenciais não darem trégua ao RS. Em 19 de junho, o Trem dos Vales foi à público anunciar uma decisão difícil: estava cancelada a temporada de 2024.
“Devido aos eventos climáticos ocorridos em maio no Rio Grande do Sul, especialmente no Vale do Taquari, onde são realizados os passeios, a temporada 2024 programada para iniciar em 6 de julho está cancelada”, escreveu em uma publicação nas redes sociais.
A decisão foi necessária. A Ferrovia do Trigo, principal passagem dos vagões, sofreu danos significativos e precisava passar por reparos. “Particularmente no trajeto dos passeios, demandando um período adequado para garantir a segurança de todos”, explicou a coordenação do Trem dos Vales.
Quem já havia garantido o ingresso, recebeu o dinheiro de volta. Os que ainda não haviam comprado ou sequer ido em outras temporadas, deveriam aguardar pelo retorno do passeio no Trem dos Vales.
“Agradecemos a compreensão de todos, e assim que houver condições para o retorno dos passeios, comunicaremos as novas datas das temporadas”, escreveram.
Paralisados no tempo
Assim como os trilhos da Ferrovia do Trigo, as redes sociais do Trem dos Vales permanecem intocadas desde então. Até esta quinta-feira (6), não houveram mais sequer menções sobre novos passeios.
Questionados pela reportagem do ABCmais, a Amturvales explica que ainda não há previsão de retorno do passeio. “Atualmente a recuperação da ferrovia para retomada do Trem dos Vales, está em negociação com o governo do Estado.”
O governo do RS pretende disponibilizar 6 milhões para a recuperação de 18 quilômetros da ferrovia, entre Muçum e Vespasiano Corrêa, no Viaduto 13. Caso isso aconteça, os passeios podem voltar a acontecer, “mesmo que num trajeto menor, no primeiro semestre de 2026”.
Conforme a associação, a reconstrução total dos 46 quilômetros da ferrovia custaria R$ 110 milhões. Mais de um ano após as enchentes trágicas, as reformas ainda não começaram.
Trem dos Vales movimentava R$ 16 milhões por temporada
“Até sua paralisação para reformas da ferrovia, o Trem dos Vales era um dos símbolos mais potentes do turismo regional”, relata a Amturvales. “Ele evocava paisagens, cultura e história entre Muçum e Guaporé, aproximando municípios e valor cultural.”
Dito como um dos principais indutores de turismo na região do Vale do Taquari, o passeio incrementava cerca de R$ 16 milhões na economia regional, somente nos meses de operação. Inclusive, o valor não leva em consideração a venda dos bilhetes, que custavam até R$ 150 em 2024.
“Mesmo temporariamente suspenso, seu legado de integração e projeção permanece intacto, com expectativas de representar ainda mais no futuro”, afirma. Até 2030, o Vale do Taquari almeja alcançar 1 milhão de visitantes por ano e a esperança é que o Trem dos Vales faça parte disso.