Como levar a floresta para o mercado? Setor privado aponta caminhos para escalar a bioeconomia

O painel sobre bioeconomia e soluções baseadas na natureza (NbS) foi um dos destaques do evento SB COP Diálogo Empresarial para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira (12), na sede da Federação das Indústrias do Pará (FIEPA). Realizado em paralelo à agenda oficial da COP30, o encontro reuniu líderes empresariais, representantes do governo federal e especialistas para debater os desafios e oportunidades da descarbonização.

Intitulado “Bioeconomia & NbS: Soluções Inovadoras para um Futuro Regenerativo”, o painel buscou responder a uma pergunta central: como levar a floresta para o mercado? O debate reuniu representantes da Suzano, Siemens, Syngenta, MBRF e Braskem, e destacou a necessidade de integrar conservação, inclusão social e competitividade em um modelo de desenvolvimento regenerativo.

Os participantes convergiram em um chamado para a ação, sintetizado em três conceitos-chave: escala, inclusão financeira e Brasil.

Ação e escala: fim da fase piloto

O ponto de partida do debate foi a urgência de transformar projetos-piloto em ações de alcance. A gerente de Sustentabilidade Corporativa da Syngenta, Claudia Veiga Jardim, ressaltou que é hora de acelerar a implementação:

“Precisamos colocar em prática as soluções que já desenvolvemos. É fundamental sair da fase de testes e avançar para ações escaláveis”.

Para os participantes, a sustentabilidade só será efetiva se se tornar um modelo de negócios rentável e replicável. A líder global de Sustentabilidade da Siemens, Eva Riesenhuber, reforçou essa ideia:

“Só quando transformamos a sustentabilidade em um modelo de negócio capaz de crescer é que conseguiremos alcançar resultados em larga escala e beneficiar vários países com florestas tropicais.”

Já Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, destacou a importância de fortalecer a demanda por produtos sustentáveis e de promover “políticas públicas que estimulem a compra de soluções sustentáveis.”

Financiamento e parcerias: caminho da viabilidade

A mobilização de capital apareceu como condição essencial para transformar a bioeconomia em realidade. A Head global de Sustentabilidade Institucional da Suzano, Helena Pavese, observou que é preciso “ampliar as opções de financiamento” para projetos com potencial de escala desde a fase inicial.

O acesso ao crédito e à tecnologia continua como um dos maiores entraves, especialmente para pequenos produtores. Por isso, as empresas vêm desenvolvendo mecanismos financeiros adaptados. A Syngenta, por exemplo, estruturou um programa voltado à recuperação de áreas degradadas. O modelo beneficiou mais de 400 produtores oferecendo até 10 anos de financiamento e três anos de carência.

Com apoio governamental, o programa evoluiu e se tornou um instrumento financeiro chamado EcoInvest. Para Claudia Veiga Jardim, gerente de Sustentabilidade Corporativa da Syngenta, “as parcerias entre o setor público e o privado são essenciais para desenvolver e ampliar programas desse tipo.”

Na MBRF, a gerente global de sustentabilidade, Mayara Jungles, destacou que o mecanismo financeiro é um dos três pilares centrais do programa de inclusão da empresa, junto ao suporte técnico e ao monitoramento contínuo.

Inclusão: produtor no centro

A bioeconomia não avança sem o envolvimento direto das comunidades locais e dos pequenos produtores rurais, que muitas vezes carecem de crédito e capacitação tecnológica. A Suzano mantém diálogo com 1.600 comunidades extrativistas e quilombolas, trabalhando na “capacitação das comunidades para fortalecer seus próprios negócios de bioeconomia e acessar novos mercados.”

Na MBRF, a visão é semelhante. Como explicou Mayara Jungles: “Sem colocar o produtor rural no centro da estratégia, não há como construir um modelo de bioeconomia sustentável.”

Painéis temáticos

Além da bioeconomia, o evento abordou temas centrais da transição climática em outros seis painéis: cidades sustentáveis, habilidades verdes, economia circular, financiamento climático, bioeconomia & NbS e transição energética, além da Agenda SESI em clima e saúde.

O painel Economia Circular: Caminhos para Gerar, Reter e Recuperar o Valor dos Recursos, por exemplo, dialogou com as discussões sobre bioeconomia ao mostrar como a eficiência e a revalorização de materiais são fundamentais para um modelo de produção regenerativo.

A gerente de Sustentabilidade do IBRAM, Claudia Salles, destacou a importância da mineração urbana ou secundária, que “diminui a pressão por bens” e transforma resíduos em oportunidade: “O rejeito da mineração é um passivo que consome recursos”.

A digitalização também apareceu como aliada da circularidade. Luis Felipe Gatto Mosquera, da Siemens, explicou que o uso de impressoras 3D garante precisão no uso de insumos: “Você utiliza exatamente a quantidade de recursos que o produto requer. Isso evita desperdício e, claro, representa economia.”

Para Francisco Carlos Manesco Junior, da Vale, o sucesso começa ainda na concepção: “O modelo vencedor é aquele que pensa na fase de criação do produto, buscando eficiência, maior vida útil e uso racional das matérias-primas.” Ele reforçou que a “colaboração entre setores é fundamental” para que os processos criem valor para os negócios, as pessoas e o meio ambiente.

Patrocinadores

A participação da CNI na COP30 conta com a correalização do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Social da Indústria (SESI). Institucionalmente, a iniciativa é apoiada pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), First Abu Dhabi Bank (FAB), Sistema FIEPA, Instituto Amazônia+21, U.S. Chamber of Commerce e International Organisation of Employers (OIE).

A realização das atividades da indústria na COP30 recebe o patrocínio de Schneider Electric, JBS, Anfavea, Carbon Measures, CPFL Energia, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Latam Airlines, MBRF, Pepsico, Suzano, Syngenta, Acelen Renováveis, Aegea, Albras Alumínio Brasileiro S.A., Ambev, Braskem, Hydro, Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Itaúsa e Vale.

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