Sergio Palazzo: Quem vai encarar as obras de drenagem da capital paulista?

A pedido do Diretor Editorial da Revista O Empreiteiro, principalmente devido às minhas experiencias vividas ao longo de 60 anos de carreira, vou escrever sobre algumas curiosidades a respeito da microdrenagem da capital paulista. A primeira delas foi vivida na posse do Prefeito de São Paulo, eleito indiretamente, indicado pelo Governador Paulo Egydio Martins, na pessoa do Sr. Olavo Setúbal, cuja origem nobre dispensa apresentações (basta olhar o Wikipedia do banqueiro), que tomou posse em 15 de Março de 1975.

Nossa empresa havia trazido da Inglaterra algumas unidades da máquina cortadora de asfalto ARROW, para fazer frente ao plano de expansão da Telesp, de 400 km no centro da cidade. A Prefeitura Municipal também adquiriu uma unidade, cuja entrega era em conjunto com outros fornecedores de veículos, caminhões, e máquinas na sede de Ibirapuera, numa cerimônia com muitas máquinas que ocupavam uma enorme área. Já familiarizado com a cerimônia, combinei com o repórter do Estadão para conseguir colocar o Prefeito na nossa máquina para a foto tradicional.

E lá estava o Prefeito Olavo Setúbal sentado na Arrow, muitas fotos, mas então a primeira experiencia vivida sobre microdrenagem: Ao descer da máquina, uma repórter de canal de televisão faz a clássica pergunta: “Prefeito: acabamos de ter uma enorme e desastrosa enchente, como o Sr. Pretende acabar com esse problema?”. O prefeito responde sem titubear: “Eu seguramente não vou acabar, pois a cidade tem 1000 quilômetros de córregos para canalizar, e a capacidade do município é de canalizar 20 quilômetros por ano, então volte daqui 50 anos…”

É lógico que não houve solução, mas outra pessoa a ocupar o Cargo foi Martha Suplicy. Ela tomou posse em 1° de janeiro de 2001, e no meio da enxurrada, e para minorar o problema com o apoio da ABRATT, toma a decisão de limpar, televisionar, diagnosticar e renovar o velho sistema de microdrenagem da cidade. Na época, eu tinha uma ligação estreita com o Prof. Tom Iseley da NASTT americana, e profundo conhecedor das câmeras de CCTV, imaginei que as dez empreiteiras contratadas para a execução de um projeto milionário de mapeamento fossem encomendar câmeras profissionais e trazer expertise de especialistas nesse trabalho. Mas não foi desta vez: os empreiteiros descobriram que podiam fazer suas próprias câmeras com material comprado na famosa rua Santa Efigênia e o resultado foram fitas de vídeo cassete em branco e preto, mal iluminadas, onde mal se via a tubulação e a solução ficou para o José Serra, que sucedeu a Martha Suplicy. Mas ele resolveu não pagar o saldo devedor da antecessora. A cidade continuou inundando.

Mas aí, na minha Pós-graduação de Engenharia do Saneamento Básico e Ambiental em 2018, o meu professor de GESTÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS URBANAS E SISTEMAS DE DRENAGEM, Prof. Oswaldo Moura Resende, com uma foto matou a charada do problema paulistano:

Começa com uma contextualização histórica: volta a 4.000 a.C. e nos reporta as experiencias na Mesopotâmia e Suméria no Golfo Pérsico (começo a ficar muito interessado porque achei que ia descobrir a solução).

Avança pelo Rio Ravi em Harapa e o Rio Amarelo na China e fala dos esgotos cobertos, (aí eu já não queria pensar em outra coisa).

Avança pela análise das galerias romanas dos Etruscos, 800 a.C.— (eu comecei a ter certeza de que se esses caras resolveram, eu sairei da última aula do Oswaldo direto para a Prefeitura de São Paulo com a solução). Para entendermos, ele aborda as soluções, no Rio Tibre, no Campo de Marte, no Fórum Romano e toda a consequência da expansão urbana na microdrenagem. Bingo.

Em seguida falou da abordagem moderna, com o aumento da dimensão das redes e a retificação e canalização macrodrenagem. (Ué, o Oswaldo deve ter vasculhado as orientações do Olavo Setúbal).

Mas aí ele começa com uma tal de nova abordagem mais compreensiva e sistêmica, e com essa foto ele acaba com minhas esperanças: Na cabeleira do Black Power não passou uma gota para a roupa; já na do careca, que desastre– e assim a cidade de São Paulo não terá solução contra as inundações.

*Autoria: Eng° Sergio A. Palazzo

Engenharia Consultiva em Métodos não Destrutivos para construção de redes novas e renovação de redes velhas, sem abertura de valas.

Compartilhe esse artigo

Açogiga Indústrias Mecânicas

A AÇOGIGA é referência no setor metalmecânico, reconhecida por sua estrutura robusta e pela versatilidade de suas operações.
Últimas Notícias