O recém-empossado presidente da Adefa, Rodrigo Perez Graziano, traçou panorama otimista para a indústria automotiva argentina em sua primeira apresentação internacional, realizada durante o Congresso AutoData Perspectivas e Tendências 2026. Apesar de reconhecer os desafios do contexto econômico local ele enfatizou que os planos de longo prazo do setor permanecem inabaláveis, mesmo diante das turbulências políticas recentes que marcaram as eleições de meio de mandato no país.
“Temos a certeza de que os resultados de hoje são o resultado de decisões tomadas anos atrás”, afirmou o executivo, ao destacar que os veículos que saem das fábricas argentinas atualmente representam investimentos decididos há anos. Por isto as decisões tomadas agora definirão a próxima década do setor, independentemente das oscilações econômicas ou políticas.
Os números de 2025 surpreendem positivamente. Enquanto projeções iniciais apontavam para um crescimento de 14% a 15% do mercado argentino, para cerca de 470 mil unidades emplacadas, a realidade se mostrou muito mais favorável.
“Hoje estamos falando de um mercado de 620 mil a 630 mil unidades. É um crescimento de cerca de 50% com relação ao ano passado”, disse Graziano, classificando este patamar como “um mercado muito bom, muito positivo” dentro da história argentina.
A produção deverá superar as 500 mil unidades, com crescimento acumulado de 3% com relação ao ano anterior, e as exportações devem totalizar mais de 300 mil veículos. Segundo ele o desempenho foi impulsionado por medidas concretas do governo que assumiu há dois anos, desde a redução de impostos, normalização das importações, forte retorno do crédito automotivo com taxas menores e maior estabilidade cambial.
O presidente da Adefa deixou claro que a competitividade é o principal desafio do setor: “É o que nos mantém acordados à noite, nos desafia”.
Ele ressaltou o compromisso de manter a Argentina no “clube de países produtores”, especialmente em segmentos como picapes, no qual o país ocupa posição de destaque global.
Integração regional e mobilidade sustentável
As exportações são fundamentais para a sustentabilidade da indústria argentina, historicamente afetada por restrições cambiais. O Brasil é o principal destino. A mensagem central de Graziano foi de integração profunda com o Brasil e o Mercosul. No âmbito local a ideia geral envolve trabalho conjunto com governos e toda a cadeia de valor para atrair investimentos e gerar empregos qualificados. Regionalmente o foco está em aprofundar a especialização e a complementação industrial com o Brasil e com o resto dos países do Mercosul, além de buscar melhor acesso a terceiros mercados.
Sobre a transição para uma mobilidade mais sustentável Graziano destacou que já existem fábricas na Argentina com 100% de energia renovável e que o governo tem promovido novas tecnologias, permitindo a importação de até 50 mil veículos híbridos, plug-in e elétricos sem tarifas por ano: “O mundo está caminhando para esta eletrificação. Argentina e Mercosul não podem ficar à margem de todo esse processo”.
Para 2026, embora as taxas de crescimento não devam se manter nos dois dígitos observados em 2025, Graziano mostrou-se confiante na continuidade da estabilidade macroeconômica e na consolidação do mercado.
A queda do risco-país de mais de 1 mil pontos para abaixo de 500 após as eleições foi considerada como indicador importante dessa nova fase: “É uma diminuição muito grande, mais de 50%”, celebrou, projetando que esta tendência deve se manter nos próximos dois anos.