Depois da dificuldade de concluir o acordo na Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês), a indústria busca na COP30, em Belém (PA), uma indicação de rota para as embarcações de baixo carbono.
A capital paraense virou porto para navios e barcos com tecnologias a hidrogênio esta semana. Da australiana Fortescue à brasileira Itaipu, empresas enxergam na cúpula do clima uma oportunidade para apresentar suas soluções para a transição do transporte aquaviário.
Ambas as iniciativas têm em comum o fato de serem patrocinadas por companhias que estão de olho na produção de hidrogênio.
A Fortescue, por exemplo, planeja para 2026 a sua decisão final de investimento em uma planta no Porto do Pecém, no Ceará.
Em entrevista à eixos, em Belém, o presidente da Fortescue no Brasil, Luis Viga, destaca que o país tem potencial para ser fornecedor global de amônia verde para o setor de transporte marítimo e precisa “abraçar essa oportunidade”.
“É um dos projetos prioritários da Fortescue no mundo, a gente aposta no Brasil, quer que isso dê certo e a gente está trabalhando para isso”, disse.
A empresa trouxe para o Porto do Futuro, em Belém, o seu navio Green Pioneer, que já percorreu três continentes este ano, após paradas em Londres (Inglaterra), Roterdã (Países Baixos), Mônaco, além de Boston e Nova York (Estados Unidos).
Com 75 metros de comprimento, o modelo é o primeiro do mundo a navegar com amônia verde em águas internacionais.
O objetivo é levar aos participantes da cúpula do clima a mensagem de que a descarbonização dos oceanos depende da colaboração entre indústria e reguladores.
A embarcação foi apresentada ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, na terça (11).
O primeiro da América Latina
Em uma escala menor — com 9,5 m de comprimento por 3 m de largura e capacidade de carga de 9 toneladas — uma iniciativa da Itaipu Binacional em parceria com a Itaipu Parquetec também colocou na vitrine da COP30 o primeiro barco 100% movido a hidrogênio verde da América Latina.
A cerimônia de apresentação do BotoH2 ocorreu na quarta-feira (12/11), com os diretores gerais de Itaipu, do Brasil e Paraguai, e direito a passeio na embarcação que ficará em Belém sob a responsabilidade da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A instituição irá monitorar tanto seu uso e abastecimento com hidrogênio verde, que está em produção na universidade, além de utilizá-lo em pesquisas.
O convênio também prevê ações de educação ambiental e de estruturação da coleta seletiva na capital paraense, com o apoio a quatro cooperativas de catadores da cidade.
Segundo Itaipu, o protótipo tem condições de ser um modelo replicável para diferentes regiões e aplicações, podendo ser usado no transporte de pessoas, em atividades de turismo sustentável ou em iniciativas sociais, como o próprio barco que vai atender a coleta nas comunidades ribeirinhas de Belém.
Tecnologia tem, falta o offtaker
A produção global de hidrogênio verde ainda dá os primeiros passos, com os projetos enfrentando alguns dilemas.
Os investimentos são bilionários, demoram alguns anos até sair do papel e entrar em operação e precisam de sinais regulatórios e de demanda claros.
Um mercado potencial é o setor marítimo, onde a eletrificação é inviável e novos combustíveis derivados de hidrogênio despontam como um caminho para substituir fósseis.
Mas é preciso substituir embarcações. O que custa caro. E o investimento só vai ocorrer se houver pressão para isso.
É o que está em discussão na IMO, na COP30 e também no Brasil, que prepara seu marco legal para combustíveis sustentáveis.
No início da semana, o Ministério dos Portos e Aeroportos também anunciou a abertura da consulta pública da Portaria de Embarcações Sustentáveis, no Programa BR do Mar. A iniciativa definirá critérios ambientais e sociais para a certificação voluntária para cabotagem.
Entre os parâmetros previstos estão o uso de etanol, biodiesel B24, HVO, metanol verde, bio-GNL, amônia e hidrogênio verde, além do monitoramento de eficiência energética e da adoção de planos de eficiência.