Acordo comercial entre EUA e Argentina acende alerta em Brasília sobre impacto no Mercosul e na indústria automotiva brasileira

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O anúncio de um novo acordo de comércio e investimentos entre EUA e Argentina mexeu com os bastidores diplomáticos do Mercosul. Embora o texto divulgado pelos norte-americanos traga poucas especificidades, um ponto chamou a atenção de Brasília: a inclusão de veículos na lista de setores que receberiam tratamento preferencial. Para uma economia em que carros e autopeças dominam as exportações brasileiras à Argentina, o alerta acendeu imediatamente.

O que significa “acesso preferencial” — e por que isso preocupa o Brasil?

No comunicado do USTR, os EUA afirmam que produtos americanos terão acesso preferencial ao mercado argentino. Em termos diplomáticos, isso equivale a aplicar tarifas de importação mais baixas — algo sensível para o Mercosul, cuja Tarifa Externa Comum (TEC) é cobrada de forma conjunta pelos quatro países.

No caso de veículos automotores, a TEC é de 35%, uma das mais altas do bloco e fundamental para proteger a indústria regional da concorrência externa.

O fato de o acordo EUA-Argentina mencionar explicitamente este setor criou apreensão instantânea no governo brasileiro, que teme mudança unilateral de tarifas ou flexibilizações que contornem as regras do Mercosul.

Como a Argentina poderia reduzir tarifas sem romper o bloco?

O tratado foi divulgado sem detalhes técnicos. Ele lista setores contemplados, mas não apresenta as concessões específicas de cada lado. Isso abre espaço para dúvidas sobre como Buenos Aires implementará o tal acesso preferencial.

Uma hipótese considerada em Brasília: o uso da lista de exceções à TEC, mecanismo previsto no Mercosul que permite aos países aplicarem tarifas diferentes das do bloco em até 150 produtos.

Tanto Brasil quanto Argentina dispõem desse número de exceções.

Ao incluir veículos na lista, Buenos Aires poderia reduzir tarifas sobre carros americanos sem ferir oficialmente as regras do bloco.

Ainda assim, especialistas e autoridades alertam que o impacto não seria irrelevante. As exceções foram pensadas para produtos de baixo fluxo comercial — não para um setor que movimenta bilhões.

O peso da indústria automotiva no comércio bilateral

Carros e autopeças respondem por mais de 40% das exportações brasileiras para a Argentina nos primeiros nove meses de 2025. Trata-se de um dos pilares do intercâmbio entre os dois países e também de uma das cadeias produtivas mais integradas da região.

Por isso, qualquer movimento que reduza a competitividade dos veículos fabricados no Brasil no mercado argentino — mesmo que apenas em determinados modelos — pode gerar efeitos expressivos:

redução de exportações;perda de participação de mercado;

pressão adicional sobre montadoras instaladas no Brasil;

revisões de planejamento industrial.

Até mesmo pequenas alterações nas tarifas podem deslocar fluxos comerciais de forma rápida, especialmente em períodos de demanda apertada ou câmbio desfavorável.

Falta de detalhes aumenta incertezas — e Brasília aguarda esclarecimentos

Até agora, nem o governo de Javier Milei nem o USTR divulgaram como o acesso preferencial será implementado. Para o Itamaraty e para o Ministério do Desenvolvimento, o momento é de monitoramento e diálogo com a Argentina e com montadoras instaladas no Brasil.

Ainda não está claro:

que tipos de veículos os EUA poderiam exportar para a Argentina;

se esses modelos competem diretamente com os produzidos no Brasil;

se a medida terá foco em segmentos específicos, como SUVs grandes ou picapes.

Dependendo do porte e da configuração dos modelos, o impacto pode ser menor — mas o simples barateamento de veículos americanos já altera a dinâmica competitiva.

O que vem pela frente para o Mercosul?

A movimentação de Buenos Aires ocorre em meio a debates internos sobre a flexibilização do Mercosul — tema defendido com força pelo governo Milei. Caso o acordo avance com concessões significativas aos EUA, abre-se precedente para outros movimentos unilaterais dentro do bloco.

Para o Brasil, que tradicionalmente aposta na integração regional, o episódio funciona como um alerta sobre a necessidade de reforçar coordenação política e proteger setores estratégicos, sem travar a modernização das regras comerciais.

Enquanto os detalhes do acordo não vêm à tona, permanece a mesma sensação em Brasília: o impacto pode ser grande — ou quase nulo. Tudo dependerá de como o “acesso preferencial” será desenhado.

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