Há um ano, as enchentes que devastaram o Rio Grande do Suldeixaram mais de 2,4 milhões de pessoas afetadas e escancararam nossas fragilidades diante da crise climática.
Como membro de uma família gaúcha, senti que não bastava reagir à emergência. Era preciso repensar o modo como respondemos aos desastres e como planejamos um futuro mais resiliente.
Foi desse chamado e da generosa doação do Instituto Helda Gerdau e da Gerdau que nasceu o RegeneraRS: um fundo catalítico comprometido em reconstruir com visão multistakeholder e com a convicção de que a regeneração é uma necessidade primordial.
Articular diferentes atores em um momento tão sensível foi um exercício de confiança e corresponsabilidade. A governança agilmente estruturada do RegeneraRS se tornou um dos nossos maiores acertos.
Trabalhar com transparência e propósito comum gerou capital social, atraiu novos recursos e, mais do que isso: fortaleceu a cooperação entre setores.
Foram R$ 42 milhões captados para serem aplicados em 2 anos e R$ 15 milhões deliberados, alavancando mais de R$ 200 milhões em projetos —um efeito multiplicador de 18,8 vezes.
Com este resultado tivemos a convicção de que quando há alinhamento, colaboração e clareza nos objetivos, a sociedade civil organizada e os recursos filantrópicos podem ter enorme poder transformador.
Optamos por focar em quatro eixos prioritários: educação, habitação, apoio a negócios e soluções urbanas.
Na educação, além de reequipar escolas atingidas, apoiamos a Secretaria Estadual de Educação na criação da Agenda 2025-2035, uma política pública que orientará o ensino gaúcho na próxima década. A aprendizagem não pode parar diante de eventos climáticos extremosque, infelizmente, deixaram de ser exceção.
A habitação foi uma prioridade social e humana. Apoiamos a construção de moradias em municípios fortemente atingidos e apoiamos a capacitação de mais de 500 trabalhadores da construção civil. Geração de renda e autonomia local são pilares da dignidade.
Reconstruir uma casa é reconstruir uma vida. Na retomada econômica, nosso foco se voltou para os micros e pequenos negócios —os primeiros a sentir o impacto e com as maiores dificuldades de se reerguer, de acessar crédito ou algum suporte.
Por meio do Sebraetec Supera, mais de 11,5 mil empreendedores receberam orientação especializada. Já iniciativas de blended finance, como o Estímulo Retomada, levaram crédito acessível a mais de cem municípios.
Reerguer negócios locais é fortalecer comunidades. Olhando para o próximo ano, o RegeneraRS seguirá buscando soluções que tornem nossas cidades mais resilientes, permeáveis e preparadas para eventos climáticos cada vez mais intensos e frequentes.
Isso significa investir em planejamento urbano, infraestrutura inteligente, tecnologias de monitoramento e soluções baseadas na natureza —e fazer tudo isso com participação comunitária.
A regeneração que buscamos nasce do território: ruas que drenam melhor, parques permeáveis, escolas que resistem, moradias seguras e políticas que aprendem com a tragédia.
Se quisermos garantir que o Rio Grande do Sul não apenas se levante, mas se torne resiliente e responsivo, precisamos transformar nossas cidades em espaços que protejam vidas e promovam dignidade.
Esse é o futuro que escolhemos construir, juntos.
*Beatriz Johannpeter
Diretora do Instituto Helda Gerdau e integrante do Conselho Deliberativo do RegeneraRS