Ao contrário do que vem ocorrendo no mercado internacional, no qual a volatilidade e a incerteza continuam reinando, a economia brasileira vem se comportando muito em linha com a projeção de suas principais tendências, sem grandes sobressaltos. Entretanto, esses têm sido abundantes na arena política.
Apesar da rudeza da taxa de juros, a atividade econômica vem desacelerando suavemente e projeta um crescimento de 2,1% do PIB para este ano e de 1,6% em 2026. Do lado da oferta, esperamos que os setores de recursos naturais continuem a performar bem, mas a indústria de transformação e a construção civil entregarão resultados mais modestos do que os atuais.
A resiliência da economia aparece mais do que tudo no mercado de trabalho e a renda das famílias ainda cresce bem acima da inflação. Isso é fruto, em primeiro lugar, das robustas transferências públicas. Mas decorre também da força do empreendedorismo e da escassez da mão de obra qualificada. O melhor exemplo está na construção civil, onde a expansão das atividades leva as empresas a aumentarem os salários para manter o quadro. Para uma inflação de 4,7% em doze meses até outubro, o componente de salários no Índice Nacional da Construção Civil cresceu 9,4%.
Quanto ao empreendedorismo, basta atentar que, em agosto, das 158 mil novas vagas geradas no Caged, mais de 128 mil estavam nas micro e pequenas empresas.
Mas é nos preços que vem a melhor surpresa: deveremos ver a inflação perto do teto da meta ou até abaixo dela, caminhando para a faixa dos 4% ao longo de 2026. A força dos juros, a boa safra deste ano e a valorização do real explicam bem o resultado.
Entretanto, a partir das convenções partidárias, o cenário de tranquilidade deverá se alterar, uma vez que se antecipa uma eleição arduamente disputada. É certo que Lula buscará um novo mandato e que, para tanto, vai acelerar a criação de programas de governo. Vimos uma mostra com a recente redução do imposto de renda para larga faixa da população. Isso pode até estimular modestamente a atividade econômica. Mas é seguro que nossa posição fiscal vai continuar a piorar.
E é aí que se prenuncia um impasse para 2026. Hoje, as pesquisas mostram que existem um grande equilíbrio entre situação e oposição, sendo que o resultado do embate é imprevisível.
Ora, a avaliação geral é que apenas a oposição levaria adiante um ajuste fiscal. A depender das pesquisas, podemos ver uma forte volatilidade no câmbio e nas expectativas da inflação nos meses que antecedem à eleição, afetando o resultado do ano.
*José Roberto Mendonça de Barros
Economista e sócio da MB Associados