
O mercado brasileiro de caminhões acima de 16 toneladas segue atravessando um período de cautela, mas longe de colapso. A Scania — uma das líderes no segmento pesado — projeta para 2026 um desempenho muito semelhante ao de 2025, com cerca de 80 mil unidades emplacadas, podendo oscilar 5% para cima ou para baixo. É um volume menor que o registrado em 2024, quando o setor vendeu 97 mil caminhões, mas ainda representa um mercado robusto, que tem demonstrado resiliência mesmo diante de variáveis macroeconômicas desafiadoras.
Segundo Simone Montagna, presidente das operações comerciais da Scania Brasil, fatores como taxas de juros ainda elevadas, frete abaixo das expectativas e o ano eleitoral, que tradicionalmente gera incertezas, continuam adiando decisões de investimento por parte dos transportadores. No entanto, o executivo não vê risco de ruptura no setor, contrariando projeções mais pessimistas divulgadas recentemente.
“A demanda está represada, não desapareceu. Mesmo com a queda nas vendas, seguiremos com um mercado próximo das 80 mil unidades em 2025 e também em 2026”, avalia Montagna. A percepção é de que 2027 deve marcar uma virada mais clara, quando a esperada trajetória de queda dos juros começará a surtir efeitos reais no custo de financiamento e na confiança dos compradores.
Apesar do cenário prudente no segmento de caminhões, a Scania tem visto movimentos importantes em outros nichos de transporte pesado — e eles ajudam a sustentar um clima de otimismo moderado no setor. O exemplo mais emblemático vem do Grupo JCA, que acaba de realizar a maior compra de ônibus da Scania em 2025: 382 unidades, em um investimento total de R$ 674 milhões.
A aquisição faz parte de um amplo plano de renovação de frota que deve chegar a 650 ônibus novos até 2026, todos equipados com motores Euro 6 e encarroçados pela Marcopolo. Trata-se de um movimento estratégico que reforça a modernização do transporte rodoviário de passageiros no País, com impacto direto na redução de emissões e na qualidade dos serviços prestados.
Com as renovações, o Grupo JCA — responsável por marcas como Cometa, 1001 e Catarinense — deixará de operar veículos Euro 3, ampliando para 1,1 mil o número de ônibus Euro 6 em sua frota. Segundo o CEO Gustavo Rodrigues, o impacto ambiental será significativo: a operação dos novos veículos deve evitar a emissão de 72,8 mil toneladas de CO₂ nos próximos cinco anos.
“O investimento reforça nosso compromisso com segurança, conforto e inovação, além de melhorar a experiência dos passageiros”, afirma Rodrigues, destacando ainda avanços em digitalização, inteligência artificial e atendimento humanizado. O grupo projeta um crescimento de 10% no faturamento em 2025, chegando a R$ 2,2 bilhões, apoiado no bom desempenho do primeiro semestre e no processo de modernização de frota.
Para a própria Scania e para a Marcopolo, o mercado de ônibus deve permanecer estável em 2026, com potencial de crescimento caso se confirme uma redução mais acentuada das taxas de juros. A Scania trabalha com a expectativa de cerca de 800 unidades emplacadas neste ano e um volume semelhante para o próximo.
No fim, embora o segmento de caminhões pesados ainda sinta os efeitos de um ambiente econômico restritivo, o setor de transporte como um todo dá sinais claros de vitalidade — seja pela demanda reprimida que deve se converter em investimentos futuros, seja por grandes operações de renovação de frota que mantêm a engrenagem da indústria girando. Entre ajustes e desafios, o setor segue se preparando para um ciclo mais favorável, impulsionado pela tecnologia, eficiência energética e uma visão de longo prazo cada vez mais presente nas empresas.