
Montadoras globais estão intensificando as exportações da Índia para a Europa, um sinal da crescente importância indiana como um polo de manufatura de baixo custo, afirmam executivos e analistas do setor. Historicamente, as fábricas da Índia atendiam principalmente à América Latina, África e Oriente Médio.
Montadoras como Suzuki e Honda, por exemplo, declararam a Índia uma peça fundamental na manufatura global, inclusive para veículos elétricos, em um momento em que a concorrência das montadoras chinesas está se acirrando.
As exportações de carros para o Reino Unido, Alemanha, Espanha e Noruega totalizaram US$ 63 milhões entre abril e agosto, segundo estimativas do governo indiano — apenas 2% do total das exportações, mas quase nove vezes o total exportado no último ano fiscal.
Esse progresso reflete os avanços obtidos no mercado japonês no ano passado — no ano fiscal encerrado em março, as exportações quase quadruplicaram em relação ao ano anterior, atingindo US$ 813 milhões. Nos cinco meses até agosto, as exportações de automóveis para o Japão totalizaram US$ 328,64 milhões.
“A Índia oferece uma clara vantagem de custo para a fabricação”, afirmou Rahul Bharti, diretor executivo sênior de assuntos corporativos da Maruti Suzuki, subsidiária indiana da Suzuki. “Uma mão de obra qualificada, boa infraestrutura e fornecedores confiáveis ajudam a produzir produtos de alta qualidade a baixo custo. A produção aqui ajudou a otimizar recursos e tornar as operações mais competitivas”, disse Bharti.
A Suzuki, que anunciou em fevereiro que investiria 1,2 trilhão de ienes (US$ 7,7 bilhões) até 2031 para aumentar sua capacidade de produção anual na Índia de 2,5 milhões para 4 milhões de unidades, pretende transformar a Índia em um polo de fabricação de veículos elétricos. A empresa já exportou mais de 7.400 unidades de seu primeiro veículo elétrico — o eVitara, de porte médio — para países europeus, incluindo Reino Unido, Alemanha, Noruega e França, desde que iniciou a produção no oeste da Índia em agosto.
As exportações para o Japão continuam ganhando impulso, com a Honda anunciando, no início deste mês, planos para transformar a Índia em um polo de produção para um de seus próximos veículos elétricos e exportar esses carros para o Japão, bem como para outros países asiáticos.
As exportações totais da Índia devem aumentar, segundo especialistas, à medida que as montadoras direcionam bilhões de dólares em novos investimentos para impulsionar a produção no país do sul da Ásia. A sul-coreana Hyundai anunciou no mês passado que investirá US$ 5 bilhões até 2030, enquanto a japonesa Toyota assinou um memorando de entendimento com o estado de Maharashtra, no oeste da Índia, em 2024, para investir mais de US$ 2,25 bilhões em novas fábricas.
Essa onda de investimentos coincide com um esforço conjunto das empresas para reduzir sua dependência da China, tanto na produção quanto nas vendas. A Índia não é apenas o terceiro maior mercado automobilístico do mundo, mas os consumidores também estão migrando de hatches compactos para SUVs, que agradam ao público global. Nova Déli também administra um programa de US$ 2,9 bilhões para impulsionar a produção local de automóveis e componentes.
Especialistas afirmam que os carros fabricados na Índia podem se tornar alternativas competitivas aos automóveis chineses, que estão aumentando a pressão sobre os rivais em todo o mundo. A consultoria Alix Partners estima que a participação de mercado das marcas chinesas na Europa poderá dobrar para 10% em 2030.
“Em todo o Sudeste Asiático, Oriente Médio, África e até mesmo em partes da Europa, o cenário competitivo está mudando à medida que os fabricantes chineses expandem rapidamente com veículos elétricos (VEs) de preços competitivos e veículos compactos com motor de combustão interna (ICE)”, disse Harshvardhan Sharma, chefe do grupo de tecnologia e inovação automotiva do Nomura Research Institute. “Nesse contexto, a Índia está emergindo como um contrapeso confiável – uma base de manufatura com custos competitivos e alto valor agregado que as montadoras globais podem aproveitar para responder ao ímpeto da China.”
As exportações do início de abril ao final de outubro totalizaram 514.622 unidades, quase 67% das exportações acumuladas no ano fiscal de 2024-2025, com a Maruti Suzuki emergindo como a maior exportadora, seguida por Hyundai, Nissan e Volkswagen, de acordo com a Sociedade de Fabricantes de Automóveis da Índia.
A África do Sul representou 17% do total das exportações, com um valor de US$ 1,24 bilhão, seguida pela Arábia Saudita com 16,5%, México com 13%, Japão com 11% e Emirados Árabes Unidos com 7%, segundo estimativas do governo indiano. África do Sul, Arábia Saudita e México são destinos consolidados para exportadores devido às semelhanças com o mercado indiano em termos de produtos e preços, mas a maturação do setor doméstico, por exemplo, em relação aos padrões de segurança, está abrindo novas fronteiras.
A indústria de autopeças na Índia também está em expansão, o que aumenta seu atrativo como um polo de manufatura, disseram especialistas. Embora empresas globais, incluindo Bosch e Tenneco, operem fábricas no país, fabricantes locais como Motherson, Sona Comstar, Bharat Forge e Lumax têm exportado há anos, consolidando a confiança em seus fornecedores.
As exportações de componentes da Índia no último ano fiscal atingiram US$ 22,9 bilhões, com a Europa representando 29% dos embarques, segundo a Associação de Fabricantes de Componentes Automotivos da Índia.
“A base de fornecedores da Índia evoluiu para um ecossistema sofisticado, capaz de atender aos padrões globais de desempenho e qualidade”, afirmou Sharma, da Nomura. “Como resultado, a aceitação das exportações está se ampliando nos mercados avançados. Para as montadoras que investiram cedo na construção de uma presença eficiente na Índia, essas apostas estratégicas agora começam a gerar retornos significativos.”
Analistas afirmaram que um plano de exportação também permite que as montadoras utilizem suas fábricas de forma otimizada caso as vendas locais diminuam.