O Ministério dos Transportes incluiu o Corredor Ferroviário Leste-Oeste, que liga Caetité, na Bahia, a Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, entre os oito projetos prioritários da carteira ferroviária de 2026. De acordo com apresentação da pasta, o edital da concessão está previsto para maio e a realização do leilão para agosto, com investimento estimado em R$ 28,7 bilhões ao longo de 35 anos de contrato.
O Corredor Leste-Oeste reúne trechos da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol – EF-334) e da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico – EF-354). No lado baiano, o eixo parte de Caetité, onde termina o Trecho I da Fiol, já concedido à Bahia Mineração (Bamin) e conectado ao futuro Porto Sul, em Ilhéus.
O projeto em análise pelo governo federal abrange o Trecho II, entre Caetité e Barreiras, e o Trecho III, que fará a ligação da Fiol com a malha ferroviária do Centro-Oeste.
Segundo documento do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), o corredor terá cerca de 1.666 quilômetros de extensão, com demanda projetada em 41 milhões de toneladas por ano, principalmente de minério de ferro, grãos e combustíveis.
A operação ficará a cargo da iniciativa privada, em modelo de concessão, com critério de maior oferta de outorga e integração entre trechos já existentes e novos investimentos em trilhos, sistemas e obras civis.
A Fiol, no total, soma 1.527 quilômetros entre Ilhéus (BA) e o entroncamento com a Ferrovia Norte-Sul. O Trecho I, entre Ilhéus e Caetité, foi leiloado em 2021 e está sob responsabilidade da Bamin, que pretende utilizar o traçado para escoamento de minério de ferro na região de Caetité. No entanto, a mineradora passa por dificuldades para tocar o projeto e paralisou as obras . O Trecho II, entre Caetité e Barreiras, está em construção pela Infra S.A., com avanço físico em torno de 60%, segundo dados oficiais.
A principal mudança recente diz respeito ao Trecho III. A malha originalmente projetada entre Barreiras (BA) e Figueirópolis (TO) será substituída por um traçado entre Correntina (BA) e Mara Rosa (GO), conectando diretamente a Fiol à Fico. O novo eixo terá cerca de 840 quilômetros de extensão e foi definido após estudos indicarem que a ligação direta com a Fico reduz o percurso e evita o pagamento de direito de passagem em um longo trecho da Ferrovia Norte-Sul, o que encareceria o transporte.
Os estudos de rota, conduzidos pela Infra S.A. em parceria com a International Finance Corporation, apontam ainda que o traçado via Correntina apresenta menos desafios sob o ponto de vista socioambiental, com menor incidência de terras indígenas, quilombolas e áreas de proteção do que o projeto original. Parecer técnico da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) estima em R$ 12 bilhões o investimento necessário apenas para a implantação da Fiol 3, incluindo obras, equipamentos e sistemas de controle e sinalização.
No Centro-Oeste, o Corredor Leste-Oeste se apoia na Fico. O Trecho I, entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT), com 383 quilômetros, está previsto como contrapartida da Vale na prorrogação do contrato da Estrada de Ferro Vitória a Minas. O Trecho II liga Água Boa a Lucas do Rio Verde (MT), importante polo de produção de soja e milho. Juntos, Fiol e Fico formam um eixo contínuo que, somado aos demais segmentos, deve alcançar aproximadamente 2,4 mil quilômetros, entre o Porto Sul, em Ilhéus, e o norte de Mato Grosso.
Do ponto de vista logístico, o corredor é tratado pelo governo como um dos principais vetores para reduzir o custo de transporte da produção do oeste baiano, do sul do Piauí, de Goiás e de Mato Grosso. A expectativa é diminuir a dependência do transporte rodoviário e encurtar o caminho até os portos do Nordeste e do Norte, ampliando a competitividade de grãos, minérios e combustíveis no mercado externo.
O projeto está em fase de consolidação de estudos e de análise regulatória. A ANTT abriu a Audiência Pública nº 1/2025 para discutir a modelagem da concessão, com período de contribuições entre 7 de fevereiro e 24 de março deste ano. Após o fechamento da consulta e a incorporação das sugestões, o governo pretende encaminhar o edital ao Tribunal de Contas da União (TCU) antes da publicação oficial, prevista para maio de 2026, e da sessão de leilão, programada para agosto.
O anúncio da carteira de projetos que inclui o Corredor Leste-Oeste foi feito junto com o lançamento da Política Nacional de Outorgas Ferroviárias, nesta terça-feira (25). A nova política, elaborada pelo Ministério dos Transportes, define diretrizes de planejamento, governança e sustentabilidade para concessões e autorizações no setor ferroviário, com integração de recursos públicos e privados.
“É uma política nacional inédita, com alinhamento dos projetos e práticas de estruturação mais modernas, à modelagem econômica e financeira”, afirmou o ministro Renan Filho, ao apresentar as medidas.