Agora sim, uma verdadeira invasão de montadoras chinesas no Brasil

Em pouco mais de um mês, tivemos a chegada de nada menos que seis novas marcas automotivas ao Brasil: MG Motor, Renault-Geely, Caoa Changan, Jetour, Denza e Leapmotor — todas chinesas, estreando por aqui com operação própria, por meio de parcerias ou joint ventures.

Entendemos essa ofensiva como um terceiro ato, que vem após a estreia impactante das marcas chinesas já estabelecidas BYD e GWM, que vêm consolidando sua presença no mercado com ampliação de rede, aumento de participação, recordes de vendas de eletrificados, lançamentos recorrentes e início de produção nacional.

E chamo de terceiro ato porque o segundo movimento aconteceu ainda na década passada, com a estreia da Caoa Chery — um modelo de negócio com marketing e preços agressivos, produção nacional e melhora perceptível na qualidade, que definitivamente emplacou em nosso mercado e ajudou a quebrar o estigma das marcas chinesas. O início do sucesso da Caoa veio logo depois da primeira fase meteórica da JAC Motors, que incomodou o mercado e teve seus planos duramente afetados por mudanças regulatórias.

Quando a dupla BYD e GWM estreou com força, rapidamente dominando o segmento de híbridos e elétricos, houve pânico e surpresa por parte da indústria já estabelecida, dada a velocidade e a assertividade na implementação de suas operações por aqui, com estratégia de marketing forte, aproximação dos consumidores brasileiros e um novo patamar de preços mais acessíveis para modelos eletrificados — algo inédito até aquele momento.

Passada a euforia inicial, essas duas marcas ajudaram a derrubar de vez o estigma de que as chinesas ofereciam produtos completos, porém inferiores em qualidade e durabilidade. Primeiro veio o preço competitivo, depois a qualidade e a tecnologia e, por fim, a segurança, que teste após teste se mostrou superior à das marcas “já estabelecidas”.

Na sequência, Omoda-Jaecoo e GAC chegaram com o terreno mais pavimentado, evitando certos contratempos das pioneiras, mas ainda trazendo inovações relevantes, planos de produção nacional e desenvolvimento local de tecnologia.

Agora, nas últimas semanas de 2025, vemos uma nova e ampla ofensiva com a chegada simultânea de MG Motor, Renault-Geely, Caoa Changan, Jetour, Denza e Leapmotor, cada uma com estratégias e modus operandi distintos. Aqui também cabe citar a GM, gigante norte-americana que não ficou de fora dessa transformação e rebatizou o Baojun Yep, da joint venture chinesa SAIC-Wuling-GM, como Chevrolet Spark EUV, e o Wuling Starlight S como Captiva EV, entrando de vez na disputa dos elétricos acessíveis de origem chinesa — inclusive com anúncio de produção nacional.

E a estratégia vai desde a operação própria da SAIC com a MG Motor; passando pela Caoa Changan, que repete a receita já testada na Caoa Chery; pela Jetour, que amplia o portfólio da Chery no Brasil; pela Denza, sob o guarda-chuva da BYD; e, por fim, pela Leapmotor, que chega ao país com uma parceria bem articulada com a Stellantis. Todas elas (com exceção da Jetour) marcaram presença no renascido Salão do Automóvel, evento que inicialmente era uma incógnita, mas se mostrou um sucesso de público — ainda que exija ajustes pontuais — e que, no balanço final, deixa uma impressão positiva.

Dito isso, agora sim podemos afirmar que há uma verdadeira invasão de marcas chinesas no país. E essa onda não é apenas numerosa — ela está moldando uma das maiores transformações já vistas na indústria automotiva brasileira, seja pela oferta de tecnologias inéditas e preços mais acessíveis, seja pela eletrificação onipresente e, principalmente, pelos anúncios de investimentos pesados em montagem, com posterior produção nacional e transferência de tecnologia.

Estamos diante de uma grande mudança na história da indústria automotiva. Nela, montadoras tradicionais estão reavaliando seus planos, mudando estratégias, investindo mais em eletrificação e acelerando a adoção de tecnologia — algo que não seria tão rápido se não fosse pela “ofensiva chinesa”. Mas nem tudo são flores: em meio a tantas marcas e produtos novos, a dinâmica do mercado pode deixar “gente de fora”, o que é natural em um processo tão competitivo e que já vimos acontecer na China, onde os mais fortes sobrevivem. O importante é que, no final, quem sai ganhando é o consumidor.

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