As atenções dos gestores se voltaram neste ano para uma mudança silenciosa — porém profunda — na Bolsa brasileira: enquanto o setor de utilities perdeu espaço e deixou de entregar a mesma assimetria de ganhos vista no passado recente, as construtoras surpreenderam e se tornaram uma das maiores fontes de geração de alfa no portfólio da XP Asset. A avaliação é de Marcos Peixoto, gestor da casa, que detalhou os movimentos mais relevantes do mercado em 2025.
Segundo ele, utilities, que no início do ano respondiam por cerca de 30% a 35% do fundo, hoje encolheram para aproximadamente 17%. “Muito por conta de preço”, afirmou. A gestora segue com posições relevantes — especialmente em empresas que dobraram de valor após a privatização — mas avalia que boa parte da tese já foi capturada. “A tese está pela metade”, resumiu.
Outro ponto sensível envolve um leilão marcado para março do próximo ano, considerado decisivo para a continuidade da geração de valor no setor. Para isso, as empresas precisam vencer projetos relevantes.
“Hoje, para gerar valor, ela tem que ser competitiva. A probabilidade é alta, mas já não é tão assimétrico”
— Marcos Peixoto, head de renda variável da XP Asset.
Em um ano marcado por intensa volatilidade, a IA se tornou o principal vetor de diferenciação no desempenho das grandes empresas.
Construção civil surpreende e domina a geração de alfa
A discussão fez parte do painel Navegando nas Oportunidades do Mercado Brasileiro, durante o Annual Meeting, evento da XP Asset realizado em São Paulo, que reuniu Fernando Ferreira, head de Research da XP Inc., e Marcos Peixoto.
No sentido oposto ao setor elétrico, a construção civil brilhou em 2024. Mesmo em um ano marcado por juros elevados, o segmento mostrou força incomum.
Para Peixoto, a combinação entre programas habitacionais ampliados pelo governo, resiliência do crédito imobiliário e demanda aquecida foi determinante.
“Você imaginaria que com juros de 15% o setor iria sofrer, mas o micro é muito mais importante”, destacou.
Ele aponta que o segmento de baixa renda foi diretamente impulsionado pelas faixas expandidas do Minha Casa Minha Vida, enquanto o mercado de alta renda também apresentou desempenho acima do esperado.
Hoje, a XP mantém entre 10% e 15% do portfólio alocado no setor, com posições em companhias como Direcional (DIRR3) e Tenda (TEND3).
Varejo ainda patina e exige olhar caso a caso
Se a construção surpreendeu positivamente, o varejo segue como o setor mais desafiador da Bolsa em 2025.
“Por enquanto, não estamos vendo reação forte”, afirmou Peixoto. A deflação de alimentos penalizou supermercadistas, drogarias se beneficiaram do avanço dos GLPs (classe de medicamentos para emagrecimento — como Ozempic, Wegovy, Mounjaro e similares), e o vestuário foi afetado pelas condições climáticas — um cenário que impede análises generalistas.
“O micro está muito diferente. Não dá para tratar o varejo como uma coisa só”, reforçou.
Ainda assim, a XP mantém algumas posições estratégicas que já renderam ganhos superiores a 60% no ano, embora com peso menor na carteira atual. A seletividade segue como regra.
Grandes bancos passam por ciclo de reposicionamento
No setor bancário, a gestora aproveitou a recuperação dos grandes bancos no primeiro trimestre, após ajustes feitos no início do ano. O caso de Banco do Brasil (BBAS3) ilustra esse movimento.
Por anos, o papel foi uma das maiores posições do fundo e atravessou diferentes ciclos políticos. “Chegou a ser uma posição de dois dígitos do fundo”, relembrou Peixoto.
=A saída ocorreu quando o prêmio de risco, que historicamente justificava o investimento, deixou de existir. “O desconto para bancos privados já não se justificava”, explicou.
Além disso, sinais de piora setorial — especialmente em agro e pequenas e médias empresas — reforçaram a decisão.
“A gente começou a ver o resultado piorando um pouquinho. Não imaginávamos o que aconteceria este ano, mas os sinais estavam lá”
— Marcos Peixoto, head de renda variável da XP Asset.