
Com mais de 16,5 mil unidades lançadas até setembro de 2025, as regiões litorâneas de Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Tamandaré concentram hoje uma das maiores ofertas residenciais verticais de Pernambuco, puxadas principalmente pelo segmento de imóveis compactos e de um dormitório, que respondem por 75% das novas construções. Dados do estudo da Brain Inteligência Estratégica, apresentados em parceria com a Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), revelam um mercado em expansão e com escoamento acelerado: 97% do estoque dessas três cidades foi lançado a partir de 2022, com 93% das unidades ainda em construção ou na planta. Um cenário que tende a se valorizar ainda mais com as grandes obras estruturantes já anunciadas no Porto de Suape e na Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Ipojuca.
O reforço do cinturão industrial ao sul da Região Metropolitana deve alterar a dinâmica de oferta e demanda já a partir de 2026. A duplicação do Trem 2 da RNEST, da Petrobras, está estimada em R$ 8,7 bilhões, com geração prevista de mais de 10 mil empregos durante a fase de obras e outros quase 7 mil postos permanentes quando entrar em operação, em 2029. Já o novo terminal de contêineres do Porto de Suape, que será operado pela APM Terminals (braço logístico da Maersk), deve gerar 1.500 empregos diretos e indiretos na implantação, com início das operações previsto para julho de 2026. O investimento é de R$ 2,2 bilhões.
Esses projetos devem pressionar a demanda por moradia nas cidades do entorno, em especial para trabalhadores temporários e famílias em realocação. O consultor de mercado da Ademi-PE, Henrique Neves, avalia que o movimento exigirá respostas do setor:
“Quando você retoma obras desse porte, como o caso da refinaria, naturalmente surge uma necessidade imediata de habitação. Hoje o foco da oferta nessas praias está concentrado em segunda residência, com percentual muito pequeno no Minha Casa Minha Vida ou em produtos destinados a moradia permanente.”
Estoque jovem e em rápido escoamento
Segundo a gerente regional da Brain, Gisele Pereira, o mercado litorâneo analisado no estudo apresenta um dos estoques mais jovens do Estado.
“Estamos falando de mais de 16 mil unidades lançadas, e 97% desse total foi colocado no mercado a partir de 2022. Do total disponível, apenas 7% estão prontos — 93% ainda estão em construção ou planta, o que demonstra um escoamento bastante acelerado.”
A maior parte da oferta está concentrada em grandes empreendimentos verticais, com alta densidade e forte apelo para investimento em locação de curta temporada. Apesar do volume expressivo de lançamentos, o estoque de produtos econômicos é particularmente limitado: apenas 125 apartamentos do segmento estão disponíveis para venda nas três cidades analisadas.
Esse quadro preocupa diante da expectativa de novos fluxos populacionais vinculados às obras estruturantes. “Quando há instalação de grandes empreendimentos industriais ou obras públicas, temos uma pressão quase imediata sobre os aluguéis”, explicou Gisele.
“Investidores compram até produtos fora do perfil clássico de investimento, como casas simples ou apartamentos econômicos, para aproveitar o movimento. E, no médio prazo, há tendência de novos lançamentos voltados à moradia permanente.”
Ipojuca concentra lançamentos, Cabo mistura vocações
A cidade de Ipojuca lidera em volume, com 7.576 unidades lançadas, sendo 6.097 apenas de imóveis compactos, e responde pela maior parte do estoque disponível, com 927 unidades prontas para comercialização. Tamandaré apresenta alta velocidade de vendas e um estoque enxuto, enquanto Cabo de Santo Agostinho revela uma vocação mista, com produtos destinados tanto à segunda residência quanto à moradia permanente — uma tendência reforçada pela urbanização induzida pelas obras em Suape.
No total, o estoque atual está distribuído da seguinte forma: 1.583 unidades compactas, 8% do estoque em padrão médio na faixa de R$ 700 mil a R$ 1,25 milhão, 6% em padrão alto entre R$ 1,25 milhão e R$ 2 milhões, além de uma oferta restrita de imóveis de luxo acima de R$ 2 milhões, com unidades que ultrapassam R$ 3 milhões em áreas valorizadas de Cabo e Ipojuca.
Tipologia voltada ao lazer predomina no litoral sul
Do total de 2.611 unidades em estoque nas três cidades, 1.583 são de um dormitório e 810 de dois dormitórios, evidenciando uma tipologia projetada para o uso sazonal ou como investimento. Apenas 148 unidades têm três dormitórios, e 70 unidades possuem quatro ou mais.
O formato “clube de praia” com estrutura de lazer completa vem se consolidando como padrão nesses projetos. A baixa oferta de imóveis para uso permanente pode se tornar um gargalo para o atendimento à nova demanda de trabalhadores que será gerada pelas obras.
Preços variam por vocação turística e localização
Os preços médios variam sensivelmente entre as cidades. Ipojuca, com alta atratividade turística por abrigar Porto de Galinhas e Muro Alto, registra valores médios mais elevados, tanto no segmento compacto (R$ 482 mil por unidade), quanto no padrão luxo (acima de R$ 3 milhões).
Em Tamandaré, os compactos giram em torno de R$ 389 mil, enquanto os produtos de médio e alto padrão mantêm valores próximos a R$ 1,5 milhão. Já Cabo de Santo Agostinho apresenta perfil misto, com imóveis voltados tanto ao lazer quanto à moradia tradicional, o que amplia a variedade de produtos e preços.
O preço médio geral da região foi estimado pela Brain em R$ 4.830/m², mas alguns produtos de luxo ultrapassam R$ 18 mil/m². Mesmo os compactos já se aproximam dos R$ 15 mil/m², refletindo uma valorização constante, impulsionada por infraestrutura e apelo turístico.