Análise: ‘Período prolongado’ deixa de funcionar como trava para cortes na Selic

Com o quase consenso de que os juros vão ficar parados em 15% ao ano, a grande expectativa do mercado é se o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai sinalizar na sua reunião na semana que vem um corte para janeiro, com a retirada da comunicação do aviso de que os juros têm que ficar altos por “um período bastante prolongado”.

Em evento nesta manhã na XP Investimentos, porém, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, indicou que não precisa necessariamente modificar esse recado para iniciar um eventual ciclo de baixa na taxa Selic.

“Não sei se a gente tem a necessidade ou obrigação de criar algum tipo de código dentro da comunicação do Banco Central que vá telegrafar quando o Banco Central vai fazer algo”, disse Galípolo.

Uma parte dos analistas econômicos acha que seria um pouco incoerente o Copom dizer, em dezembro, que precisa manter os juros altos por muito tempo e, em janeiro, fazer um corte na taxa básica de juros.

O presidente do BC foi questionado exatamente sobre isso pelo economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale. Mas Galípolo indicou que o Copom não acha que, antes de fazer qualquer coisa, precise mudar a comunicação para dar uma “seta” para o juro.

Segundo ele, cada vez que o BC cita num comunicado que precisa manter os juros altos por um período prolongado, essa contagem de tempo não é “zerada”. Ou seja, quando o Copom disse, na sua reunião de novembro, por exemplo, que os juros devem ficar altos por um período prolongado, isso não significa que esse período prolongado vai se aplicar apenas a partir de novembro. Ele já tinha efeito antes.

Citando um conceito matemático, Galípolo disse que juros funcionam como uma integral no tempo. Isso equivale a dizer que seus efeitos se acumulam continuamente, de modo que manter juros altos por um período prolongado gera um impacto total cada vez maior na economia.

Na prática, a fala de Galípolo tirou um pouco da força que a sinalização de juros altos por muito tempo tinha de “forward guidance”, ou seja, de indicação de passos futuros.

Mas aqui tem um ponto importante: não dá para entender que ele tenha feito uma indicação de baixar os juros apenas porque esvaziou um pouco o caráter desse “forward guidance”.

Seu esforço, no evento da XP, foi para enfatizar que o Banco Central está dependente de dados para tomar as suas próximas decisões sobre a taxa de juros. Ele disse e repetiu que o Copom não sabe de antemão o que vai fazer e que vai tomar a decisão com as informações disponíveis em cada uma de suas reuniões.

E ele repisou também o discurso de que o progresso não está na velocidade que ele gostaria. O presidente do BC iniciou sua participação no evento da XP dizendo que não tem nenhum recado novo sobre política monetária em relação ao que havia dito na última quinta-feira – quando ele participou de um evento da Itaú Asset.

Naquela oportunidade, Galípolo disse e repetiu outras duas vezes que vê progressos, mas não na velocidade que gostaria. No evento da XP, ele disse e repetiu a mesma visão: “Entendemos que a gente chegou num patamar em que parece que os 15% estão, sim, produzindo o efeito na inflação, não na velocidade que a gente gostaria.”

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