Autoridades dos governos do Brasil e dos Estados Unidos retomam, nesta semana, o diálogo sobre possíveis acordos de cooperação na área de minerais críticos e estratégicos.
Na próxima terça-feira (2), será realizado, em Washington, um evento para discutir o potencial do subsolo brasileiro e as oportunidades de cooperação entre os dois países. O encontro reunirá representantes de grandes mineradoras, integrantes dos dois governos e consultores renomados do setor.
As conversas ocorrem em um momento em que a gestão de Donald Trump vê como urgente a necessidade de reduzir a dependência dos EUA em relação à China no fornecimento de minerais críticos, especialmente terras raras, insumos essenciais para a indústria de defesa, inteligência artificial e energia limpa.
O Brasil possui grandes reservas de cobalto, cobre, lítio, níquel, e elementos de terras raras.
Do lado brasileiro, a representante é a secretária nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, Ana Paula Lima Bittencourt.
A secretária se reuniu, nesta segunda-feira (1º), antes do evento, com Constantine Karayannopoulos, considerado um dos principais influenciadores e conselheiros da mineração ocidental e ex-CEO da canadense Neo Performance Materials, gigante do setor de terras raras.
Pelo governo americano, participa Isabella Cascarano, representante do Departamento de Comércio dos EUA.
Cascarano ocupa o cargo de vice-secretária adjunta responsável pelo Hemisfério Ocidental no Departamento de Comércio dos Estados Unidos e é servidora de carreira do governo dos EUA.
O deputado Arnaldo Jardim, relator da Política Nacional dos Minerais Críticos, que tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados, também participa das reuniões.
Segundo relatos, Jardim será responsável por apresentar aos americanos a proposta da nova política, vista como um marco para o setor.
Como noticiado pela CNN, o projeto é bem recebido pelo setor privado e deve abordar pontos sensíveis, como licenciamento ambiental agilizado para projetos de minerais críticos e novos benefícios tributários, inclusive relacionados ao uso de marcas e patentes.
Interesse dos EUA
O interesse dos Estados Unidos em diversificar seus fornecedores de minerais críticos e estratégicos não é novo.
Em outubro, o encarregado de Negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, se reuniu com diversas autoridades do setor e chegou a propor um grupo de trabalho entre os países para discutir o tema.
A articulação ganhou ainda mais força após a China restringir a exportação de terras raras.
Apesar de o recurso estar relativamente bem distribuído pelo planeta, a China domina quase toda a cadeia de produção— do refino à fabricação de componentes de alto valor agregado.
Atualmente, cerca de 60% da mineração global ocorre em território chinês.
O dado mais preocupante, no entanto, está no processamento: 91% de todo o refino mundial é feito por empresas chinesas, que também produzem 94% dos ímãs permanentes usados em turbinas, motores e equipamentos de defesa.
A IEA (Agência Internacional de Energia) classificou essa concentração como um risco geopolítico severo, alertando que o domínio chinês permite a Pequim influenciar preços, controlar o acesso de países concorrentes e definir o ritmo de avanço de tecnologias estratégicas, como semicondutores, veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia.
Para Washington, o tema é especialmente sensível: a supremacia militar e tecnológica dos EUA pode ser ameaçada se a China ampliar o controle sobre insumos essenciais a setores de defesa, inteligência artificial e energia limpa.
É nesse contexto que o Brasil ganha destaque. O país detém a segunda maior reserva de terras raras do mundo, mas ainda não extraí ou refina quase nada.
Não há um marco regulatório específico para o setor, e a cadeia produtiva é incipiente. Mesmo assim, empresas ocidentais já começaram a adquirir projetos e realizar pesquisas e mapeamentos geológicos em território nacional.
O governo, por sua vez, rejeita a ideia de que o Brasil se torne um mero exportador de matéria-prima.
A estratégia é atrair transferência tecnológica e estimular a industrialização local, de modo que o país participe de forma mais ativa da economia verde e das cadeias globais de alto valor.