
Projetos de ferrovias de carga no Brasil poderão contar com até R$24 bilhões (US$4,4bi) em financiamentos do Fundo da Marinha Mercante (FMM), conforme decisão do governo brasileiro.
Apenas iniciativas classificadas como estratégicas para operações portuárias serão elegíveis, já que os desembolsos do fundo precisam estar vinculados ao segmento portuário.
“Estamos estruturando um grande programa de fortalecimento do financiamento ferroviário com apoio do Fundo da Marinha Mercante. Quando a ferrovia chega ao porto, ampliamos capacidade, reduzimos custos logísticos e fortalecemos todo o setor portuário do país”, disse Silvio Costa Filho, ministro dos portos e aeroportos, em comunicado.
O governo deve anunciar, em janeiro, os detalhes do programa de financiamento via FMM, que surge em meio à tentativa de acelerar uma ampla agenda de concessões ferroviárias de cargas.
“A agenda do governo para as concessões ferroviárias previstas para 2026 é bastante ambiciosa e um dos principais desafios para o avanço dessa agenda é exatamente a disponibilidade de linhas de financiamento para tais projetos”, disse Luís Baldez, presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Cargas (Anut), à BNamericas.
“A experiência brasileira e também a internacional mostra que grandes projetos de ferrovias de carga precisam ter um forte envolvimento de recursos do governo, seja via financiamentos ou mesmo por meio de investimento direto, porque são projetos com muito investimento envolvido e prazos de execução bastante prolongados”, acrescentou Baldez.
Recentemente, o ministério dos transportes anunciou um plano para leiloar oito contratos de concessão ferroviária em 2026. A expectativa é de investimentos diretos de R$140 bilhões, além de até R$650bi em contribuições indiretas.
Em meio ao grande volume de investimentos envolvidos nesses contratos, potenciais interessados devem considerar múltiplas modalidades de financiamento, inclusive para reduzir os elevados custos atuais.
O FMM oferece condições mais vantajosas, já que suas taxas são atreladas à variação da Taxa de Longo Prazo (TLP) mais a inflação acumulada em doze meses, mantendo os juros abaixo de outras linhas de crédito que costumam superar a variação da taxa Selic, atualmente em 15% ao ano.
Como comparação, financiamentos via FMM em dezembro apresentam juros de 7,82% ao ano, acrescidos da variação do IPCA, que registrou alta de 4,5% nos últimos doze meses.
A ambição do Brasil para destravar projetos de ferrovias de carga em 2026
O governo brasileiro anunciou recentemente uma agenda ambiciosa para destravar uma série de projetos de ferrovias de carga.
Como parte dessa iniciativa, o governo planeja oferecer, já em 2026, oito contratos de concessões ferroviárias, que devem gerar investimentos diretos de R$ 140 bilhões (bi) (US$26 bi) nas ferrovias, além de potencialmente alavancar até R$ 650bi em aportes indiretos.
“O plano do governo é bastante ambicioso. Talvez oito leilões não seja possível realizar ao longo do ano que vem, mas se fizermos pelo menos dois ou três, já classifico como um grande sucesso, pois teremos modelos implementados para continuar com esses leilões ao longo de 2027 e 2028”, disse Luis Baldez, presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (Anut), à BNamericas.
Há anos o governo brasileiro tenta replicar, no setor ferroviário, o sucesso dos modelos de concessões adotados em rodovias e saneamento. No entanto, esse plano tem enfrentado dificuldades, já que tais contratos dependem de forte participação do governo federal.
“Um dos grandes desafios para destravar esses contratos é contar com um importante investimento público envolvido, pelo menos no início das concessões. Agora parece que isso está sendo solucionado, com o governo usando recursos originados dos acordos de renovações de contratos de ferrovias existentes”, afirmou Baldez.
As ferrovias de carga existentes no Brasil atendem principalmente os setores de mineração e agronegócio. Por essa razão, os contratos a serem ofertados tendem a atrair o interesse de empresas desses segmentos, além de companhias logísticas, tradings e fundos de investimento.
A BNamericas avaliou o cronograma e os detalhes dos contratos planejados pelo governo federal para o setor. As informações ainda são preliminares e podem sofrer alterações à medida que os editais estão ainda sendo elaborados.
Os oito projetos ferroviários previstos para leilão no próximo ano são:
1 – Corredor Minas–Rio de Janeiro
O contrato de concessão compreende um trecho de mais de 700km entre o Centro-Oeste de Minas Gerais e o estado do Rio de Janeiro. O edital está previsto para janeiro de 2026, e o leilão deve ocorrer em abril de 2026.
2 – Anel Ferroviário Sudeste (EF-118)
A EF-118, com 575km, conectará Nova Iguaçu (RJ) a Santa Leopoldina (ES), promovendo a integração da malha ferroviária do Sudeste e garantindo acesso ferroviário a importantes terminais portuários. O edital deve ser publicado em março, e o leilão está programado para junho de 2026.
3 – Malha Oeste
A Malha Oeste tem 1.973km de extensão total e integra a Rota Bioceânica, que liga o porto de Santos a Antofagasta (Chile). O plano é oferecer a concessão de um trecho de 1.593km, entre Corumbá (MS) e Mairinque (SP). O edital deve ser publicado em abril de 2026, com leilão previsto para julho.
4 – Corredor Leste–Oeste
O corredor tem cerca de 1.666km, composto por trechos das ferrovias FIOL e FICO. O edital deve ser publicado em maio, e o leilão está previsto para agosto.
5 – Ferrogrão
A Ferrogrão terá mais de 930km, conectando o Mato Grosso — principal produtor de grãos do país — ao porto de Miritituba (PA). O edital deve ser publicado em junho, e o leilão pode ocorrer em setembro.
6 – Malha Sul – Corredor Paraná–Santa Catarina
Trecho de 1.500km que conecta municípios produtores agrícolas do Paraná aos portos de Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC). O edital está previsto para setembro, e o leilão deve ocorrer em dezembro de 2026.
7 – Malha Sul – Corredor Rio Grande
Concessão referente a um trecho de 880km no Rio Grande do Sul, destinado ao transporte de grãos, farelos, fertilizantes e combustíveis. O edital deve ser publicado em setembro, e o leilão está previsto para dezembro.
8 – Malha Sul – Corredor Mercosul
Trecho de 1.847km que conecta São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul até a fronteira com a Argentina, onde se integra a outro segmento ferroviário. O edital será publicado em setembro, com leilão em dezembro.
Além desses oito contratos, o governo espera publicar, em dezembro de 2026, o edital da ferrovia Extensão Norte – Ferrovia Norte-Sul, com leilão programado para março de 2027.
Essa ferrovia terá 530km, conectando Açailândia (MA) a Barcarena (PA), atendendo uma região com produção de minério de ferro e outros minerais.