Kátia Abreu: Desinformação não é combustível; o etanol brasileiro, sim

De tempos em tempos, surge uma notícia ambiental alarmista, cheia de emoção e vazia de dados verificáveis, explorando o medo e ignorando fatos científicos. Estranhamente, até uma das mais bem-sucedidas experiências de produção de biocombustíveis do planeta, a do etanol de milho brasileiro, é alvo de críticas.

A primeira das críticas diz que a cana-de-açúcar, sozinha, será capaz de suprir a demanda brasileira. Ou seja, o milho não seria necessário. Os dados, contudo, mostram outra realidade.

Em 2035, a demanda brasileira por etanol combustível será de 48,7 bilhões de litros, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2035 da Empresa de Pesquisa Energética. Na safra 2024-25, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), produzimos 35 bilhões de litros, sendo a maior parte oriunda da cana-de-açúcar, 26,7 bilhões, e o restante do milho, 8,2 bilhões. Temos, portanto, que o desafio de produzir cerca 13,7 bilhões de litros (39%) adicionais nos próximos dez anos.

Entre as safras 2014-15 e 2024-25, a produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil cresceu 1 bilhão de litros, ou 3,7% apenas, variando em função da maior ou menor rentabilidade do açúcar (Unica). A produção a partir do milho, por outro lado, cresceu 447% nos últimos cinco anos, e passou de cerca de 1,5 bilhão de litros em 2020-21 para 8,2 bilhões em 2024-25, com investimentos superiores a R$ 15 bilhões, segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem).

A segunda crítica é a de que a expansão do etanol de milho seria superalavancada com recursos públicos. A verdade é que a produção de etanol de milho e a dos demais biocombustíveis vem avançando graças a sua viabilidade econômica. Claro, os bancos de fomento, com destaque especial para o BNDES e o Fundo Clima, apoiam os melhores projetos. Isso deve ser festejado e não criticado. É fundamental lembrar que os bancos aportam não só capital, mas uma expressiva melhoria de governança nas empresas financiadas. Disso resultam projetos mais eficientes e maior conformidade às leis ambientais e trabalhistas.

A partir da cana-de-açúcar, ao longo da história, a produção foi amplamente subsidiada. Uma nação pode e deve apoiar os setores da economia que julgar importantes em determinados momentos. Não há nada de errado nisso. Mas, hoje, o que temos são financiamentos com regras de mercado.

Nosso combustível renovável tem custos competitivos. Na safra 24-25, o BTG estimou que o custo do etanol de milho (R$ 1,88/litro) foi menor do que o da cana (R$ 2,36/litro). Além disso, a produção no interior do Brasil favorece os agricultores e, claro, os consumidores, ao absorver eventuais excedentes de produção, reduzir gargalos logísticos e possibilitar preços mais baixos na bomba.

Ao contrário do que alguns dizem, o custo do milho não é uma “bomba-relógio” para a produção de etanol. As usinas têm a seu favor uma produção desconcentrada. Compram e armazenam nos momentos de maior oferta. A comercialização de coprodutos (DDG, “Dried Distillers Grains”, ou “grãos secos de destilados”, e óleo), cujos preços seguem os do milho, cria um hedge operacional e financeiro robusto. O principal coproduto do etanol de milho, o DDG, tem preço 25% maior que o do próprio grão no mercado, em função do seu elevado teor de proteína e maior valor nutricional para a alimentação de bovinos.

A produção anual de DDG, de cerca de 4,1 milhões de toneladas, segundo a Unem, tem capacidade de suplementar ou confinar entre 8 e 15 milhões de bovinos por ano. Isso pode representar um impulso enorme na intensificação da pecuária, contribuindo diretamente para a redução das emissões de CO2.

O investimento no etanol de milho não é apenas uma aposta de capital, mas uma estratégia de segurança ambiental, energética e alimentar que usa as vantagens competitivas da agricultura do Centro-Oeste que nenhum dos nossos concorrentes dispõem.

Para os alarmistas —de boa e de má-fé— talvez tenha chegado a hora de andar a pé. Não pela falta de um bom combustível; não para reduzir emissões; mas para conhecer um pouco mais o Brasil.

*Kátia Abreu

CEO da BRZ Consulting; é ex-senadora da República pelo Tocantins (2007-2022) e ex-ministra da Agricultura (2015-16, governo Dilma)

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