
A desaceleração da atividade econômica do Brasil, confirmada pelo Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, reforçou o otimismo de instituições financeiras estrangeiras com as apostas na queda dos juros de mercado no país. O banco espanhol BBVA, o alemão Deutsche Bank e o americano Citi foram alguns dos que fizeram comentários sobre a tendência de enfraquecimento da economia local.
Os estrategistas do BBVA avaliam que, embora seja improvável que o BC reduza a Selic já neste mês, há expectativas por uma sinalização de que os juros possam começar a cair em breve. “Esperamos que ele dê uma prévia do início de uma moderação, inicialmente de forma lenta e provavelmente já na reunião de janeiro sobre as taxas de juros”, afirmam.
Os estrategistas Gilberto Hernández-Gómez e David Fritz, do BBVA, afirmam que as altas taxas nominais têm atraído o interesse do investidor estrangeiro, que segue aumentando sua participação na dívida brasileira nos últimos meses.
”Continuamos a favorecer apostas aplicadas [que ganham com a queda das taxas] em títulos de curto prazo, preferindo os DIs para janeiro de 2028, que podem ser estendidos para os vencimentos de 2030, até que o risco eleitoral comece a dominar”, afirmam.
Para o câmbio, a previsão do BBVA era de enfraquecimento da moeda brasileira até o fim do ano, embora as mudanças nas políticas de dividendos tenham atenuado parte da esperada fraqueza sazonal do real. “Em 2026, esperamos que o real recupere parte do terreno perdido antes de enfraquecer novamente ao longo do ano devido às preocupações eleitorais. Cortes maiores [de juros] do BC ao longo do ano também devem pesar sobre o ‘carry’, mas também é importante a desaceleração da economia por trás dos cortes, porque isso também pode pesar sobre os fluxos de ações”, dizem.
Para os estrategistas do Citi, o PIB confirmou a trajetória de desaceleração da economia, o que tem implicações para o mercado de juros. “Mantemos posições aplicadas no DI para janeiro de 2031, com o BCB provavelmente reduzindo a taxa Selic abaixo do que o mercado está precificando em meio a uma trajetória de menor crescimento e inflação”, avaliam.
No Deutsche Bank, a recomendação do estrategista-chefe para mercados emergentes, Drausio Giacomelli, é começar o ano de 2026 com exposição acima da média de mercado [“overweight”] em títulos prefixados de longo prazo — as NTN-Fs com vencimento em 2033 — e inverter a posição à medida que os riscos políticos e fiscais aumentarem durante as eleições.
“A curva está precificando cerca de 3 pontos percentuais de flexibilização com base na recente melhora na inflação. Isso está na extremidade superior da nossa faixa, considerando que a inflação dos serviços intensivos em mão de obra (3MMA, ou seja a média móvel anualizada de três meses) ficou acima de 7%, apesar do enfraquecimento contínuo em outras métricas principais”, apontam os estrategistas da instituição alemã.
Assim, a opção tem sido a de recomendar um alongamento da “duration” diante de um cenário externo favorável, desinflação, perspectiva de flexibilização monetária e riscos fiscais e políticos latentes.
“No entanto, o ajuste fiscal necessário parece improvável caso o atual presidente seja reeleito, e esperamos ondas de vendas ao longo do ano — especialmente quando as chapas forem escolhidas, no fim do primeiro trimestre, e quando os eleitores se concentrarem nas eleições (no fim do terceiro trimestre). Embora as expectativas de inflação favoreçam os títulos nominais, preferimos uma combinação mais conservadora de títulos indexados à inflação e de prefixados, combinada com um ‘hedge’ cambial tático”, dizem.
Com relação à moeda, o Deutsche avalia que o real brasileiro tem sido um dos favoritos para operações de ‘carry trade’ em 2025 e deve continuar apresentando bom desempenho em 2026, apoiado por um crescimento global robusto, termos de troca estáveis e posicionamento moderado.
“O sucesso do Brasil em redirecionar as exportações em meio a restrições comerciais, juntamente com a redução das tarifas dos EUA, reforçaria ainda mais a moeda. Embora se espere que o BC inicie um ciclo de flexibilização em 2026, seu ritmo gradual e o ponto de partida das altas taxas reais devem mitigar o risco de reversões bruscas nas posições compradas do real”, concluem os profissionais liderados por Giacomelli.