
As vendas globais de veículos elétricos devem aumentar em mais de um quinto, atingindo 17 milhões de unidades este ano, impulsionadas principalmente pela China, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Em um relatório divulgado na terça-feira (2), a IEA projetou que a “crescente demanda” por veículos elétricos na próxima década “transformará a indústria automobilística global e reduzirá significativamente o consumo de petróleo para o transporte rodoviário”.
A Agência prevê que metade de todos os carros vendidos globalmente serão elétricos até 2035, um aumento em relação a mais de um em cada cinco neste ano, desde que a infraestrutura de recarga acompanhe o ritmo. A IEA inclui veículos elétricos a bateria e veículos híbridos na definição de veículos elétricos.
A perspectiva otimista de longo prazo — baseada nas políticas governamentais atuais — surge poucos dias depois de a Tesla, maior fabricante mundial de veículos elétricos a bateria, ter reduzido os preços nos principais mercados para combater a queda nas vendas e a crescente concorrência de startups chinesas e montadoras tradicionais.
As recentes notícias negativas sobre a desaceleração de veículos elétricos estão em desacordo com as tendências globais positivas, de acordo com o diretor executivo da IEA, Fatih Birol. Os dados “não mostram de forma alguma uma reversão no crescimento dos carros elétricos. Mostram um aumento extremamente robusto nas vendas globais de carros elétricos”, disse ele a repórteres na terça-feira (2).
O crescimento não é impulsionado apenas pelos compradores chineses. O número de carros elétricos a bateria novos vendidos na União Europeia aumentou quase 4% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2023, de acordo com a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis.
Em um comunicado, Birol afirmou que “ao invés de desacelerar, a revolução global dos veículos elétricos parece estar se preparando para uma nova fase de crescimento”.
Apesar das tendências otimistas, as montadoras de veículos elétricos estão lidando com margens de lucro apertadas, pressionadas por guerras de preços à medida que a concorrência se intensifica.
Nos últimos dias, a Tesla e a fabricante chinesa de veículos elétricos Li Auto reduziram os preços de seus principais modelos na China, o maior mercado de veículos elétricos do mundo, com a Tesla também reduzindo os preços na Alemanha e nos Estados Unidos.
No início deste mês, a Tesla registrou a primeira queda anual nas vendas em quase quatro anos. As ações da empresa despencaram mais de 40% este ano. A BYD, da China, também tropeçou depois de ter ultrapassado brevemente a Tesla como líder do mercado global, com as vendas caindo para cerca de 300.000 unidades no primeiro trimestre, ante mais de 525.000 nos últimos três meses de 2023.
Embora as montadoras possam estar sofrendo com os cortes de preços, eles serão cruciais para aumentar a adoção de veículos elétricos em todo o mundo, de acordo com a IAE, que enfatizou que o “ritmo da transição para veículos elétricos dependerá da acessibilidade”.
Na China, mais de 60% dos veículos elétricos vendidos no ano passado eram mais baratos do que os carros convencionais, mas na Europa e nos Estados Unidos o preço de compra de carros novos convencionais permanece, em média, mais baixo.
“Espera-se que a intensificação da concorrência no mercado e o aprimoramento das tecnologias de baterias reduzam os preços dos veículos elétricos nos próximos anos”, afirmou a IAE.
“O crescimento das exportações de carros elétricos das montadoras chinesas, que representaram mais da metade de todas as vendas de carros elétricos em 2023, pode aumentar a pressão de baixa sobre os preços de compra”, acrescentou.
No ano passado, as montadoras chinesas foram responsáveis por mais da metade das vendas globais de carros elétricos, em comparação com a participação de 10% no mercado de carros convencionais. “A China é a líder de fato na fabricação de carros elétricos em todo o mundo”, disse Birol.
Preocupações com o aumento das importações de veículos elétricos chineses levaram a União Europeia a abrir uma investigação no final do ano passado sobre o apoio estatal chinês às montadoras de veículos elétricos. A indústria automobilística é uma grande empregadora na Europa e crucial para a maior economia da região, a Alemanha, sede de empresas como Volkswagen, Audi e BMW.
As vendas de veículos elétricos na China representarão quase 60% do total global este ano e cerca de 45% de todas as vendas de carros no país.
Até 2030, quase um em cada três carros nas ruas da China deverá ser elétrico, um aumento em relação a menos de um em cada dez no ano passado, de acordo com a IAE. Isso se compara à previsão de 17% nos Estados Unidos e 18% na União Europeia, em comparação com pouco mais de 2% e quase 4%, respectivamente, no ano passado.
“Essa mudança terá grandes repercussões tanto para a indústria automobilística quanto para o setor de energia”, concluiu Birol.
Além da acessibilidade financeira, outra barreira para a adoção em massa de carros elétricos é a falta de infraestrutura pública de recarga na Europa e nos Estados Unidos.
De acordo com a IAE, com base nas políticas governamentais atuais, o número de pontos de recarga públicos para veículos elétricos em todo o mundo deverá chegar a 15 milhões até o final da década, um aumento de quase quatro vezes em relação ao ano passado.