
Uma das maiores companhias brasileiras, a CSN, 30ª colocada no ranking por receita líquida (R$ 43,7 bilhões), comprou 70% do Grupo Tora, numa operação aprovada em abril de 2025 pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), depois de anunciada no final de 2024. O Grupo Tora faturou, em 2024, R$ 1,3 bilhão.
Há quem possa estranhar o interesse da CSN por uma empresa muito menor. Mas quem conhece o Grupo Tora sabe como o negócio faz todo o sentido e traz grandes perspectivas para os dois lados.
Há tempos, o Grupo Tora faz o transporte dos produtos siderúrgicos da CSN. São, portanto, dois velhos conhecidos. As oportunidades estão no fato de a CSN liderar empresas de outros setores.
Quem explica é a presidente do Grupo Tora, Janaina Araujo, mantida no cargo depois de o negócio ter sido sacramentado. “A CSN tem vários outros segmentos, como cimento, mineração, energia, e a gente não atuava neles”, diz ela. “Além disso, tem o projeto muito grande da Transnordestina.” Ao longo dos 1.753 km entre Piauí e Ceará, a ferrovia vai contar com vários terminais de carga, e o Grupo Tora tem expertise nesse tipo de movimentação.
Já com o que tem, o grupo tem crescido, e 2024 foi um ano muito positivo, segundo Janaina. Logo no início, em março, comprou a Lokamig, empresa de terceirização de frotas para grandes empresas, que também trabalha com locação de veículos nas suas cinco lojas para pessoas, físicas e jurídicas. “A Lokamig tinha 1,5 mil carros, e hoje já está com 3,3 mil”, diz Janaina. “Em um ano e meio, mais do que dobramos de tamanho.”
No campo da gestão, Janaina destaca o fato de que grande parte dos veículos da frota de caminhões conta com motores Euro 6, equipamento de ponta, muito menos poluente e mais econômico. Gasta 12% menos combustível, economia considerável numa companhia cujo insumo representa, junto com peças, grande parte dos custos de uma transportadora. “Temos um ganho representativo na questão ambiental e outro grande na tecnologia”, afirma a presidente.
Todos os veículos estão equipados ainda com câmeras de segurança e sensores de fadiga. “Há uma telemetria embarcada e ela leva a um aumento da produtividade, alto desempenho e custo mais baixo”, afirma Janaina.
Pela gerência estratégica de projetos de inovação, o grupo conseguiu automatizar todo o processo de emissão dos documentos fiscais. Não é pouca coisa, entre 1 mil a 1,2 mil por dia. Todos os processos internos são gerenciados por uma plataforma de BPM (Business Process Management).
Em 2024, a transportadora revitalizou o APP Tora, pelo qual atrai caminhoneiros autônomos. “Ficou mais ágil, eficiente, atrativo”, diz Janaina. “Com isso, conseguimos mais motoristas autônomos e, portanto, mais receita.” Hoje, 70% do volume transportado vai pelos agregados, aqueles que usam as carretas da Tora acopladas ao cavalo mecânico deles ou pelos autônomos mesmo, com todo o equipamento. Esse sistema permite ter mais ou menos serviço a oferecer, de acordo com o momento. Leva ao equilíbrio. O volume movimentado, segundo Janaina, varia no ano e, às vezes, até dentro de um mês. No final do mês, a demanda é sempre maior.
Lançada em 2024, a Universidade Tora é uma plataforma de ensino cujo objetivo é difundir cultura organizacional e também trilhas específicas de capacitação voltadas para as atividades fins da transportadora.
Caminho pavimentado para a diversidade
Mais Diversidade é o nome do programa pelo qual, por meio de parceiros, o Grupo Tora contratou 25 refugiados venezuelanos para a operação de transporte de um cliente de Minas Gerais. Outro programa social lembrado pela presidente, Janaina Araujo, é o dos aprendizes PcDs. São contratados como aprendizes, mas, a depender do desempenho, tornam-se colaboradores efetivos.
Hoje, a empresa tem 60% de funcionários entre negros e pardos. Outro número perseguido, segundo Janaina, é o aumento da participação de mulheres no quadro. “Ainda são só 19%.” Além disso, esse número é da empresa como um todo. Na área administrativa, elas são 42%; mas, na operacional, onde estão os motoristas, apenas 8%.