Pedro Cafardo: Um novo olhar para o incentivo à indústria

O Brasil festejou, no mês passado, a decisão do governo dos Estados Unidos de suspender a taxação adicional de 40% sobre mais de 200 produtos brasileiros, a esmagadora maioria de commodities agrícolas, principalmente carne, café e suco de laranja. Foi um alívio para a economia brasileira, mas, no meio das comemorações, um “estraga-prazer” resolveu lembrar que nenhum país ficou rico apenas exportando commodities agrícolas.

Ou seja, o recuo no tarifaço trumpista é bem-vindo, mas o Brasil precisa interromper o seu processo de desindustrialização e exportar muito mais produtos industriais para escapar da célebre armadilha da renda média.

A reindustrialização está no radar do atual governo.

Porém, talvez seja importante olhar com atenção para um excelente trabalho feito pelos economistas André Nassif, Milene Tessarin e Paulo Morceiro. O título: “Nem toda desindustrialização é igual: por que a composição setorial da manufatura importa?”.

O estudo ganhou destaque nos meios acadêmicos porque sustenta a ideia de que a desindustrialização brasileira não se deu da forma como normalmente se imagina. Os dados conhecidos indicam que a participação da manufatura no emprego total do país caiu de 27,7% em 1986 para 15,1% em 2022. E que seu peso no PIB recuou de 27,3% para 14,4% nesse período de quase 40 anos.

Esse declínio, todavia, teria ocorrido de maneira nada uniforme. O economista Paulo Gala, em artigo, observa que o estudo apresenta “achados surpreendentes e impactantes”, mostrando que diferentes setores da indústria viveram dramas completamente distintos. A principal revelação do trabalho acadêmico é que a desindustrialização prematura, aquela que atinge países em desenvolvimento antes de alcançarem um nível de renda per capita de maturidade, impactou principalmente os setores de média-alta e alta tecnologia.

A indústria de veículos e equipamentos de transporte, por exemplo, começou a regredir quando o país tinha apenas um terço da renda per capita esperada para o início desse processo considerado natural.

Na de maquinaria e informática, o encolhimento foi ainda mais prematuro, começando quando o país tinha um quinto da renda esperada.

Em uma analogia esclarecedora, o estudo observa que a desindustrialização nos setores de alta tecnologia ocorreu tão cedo que foi como um “parto” que aconteceu com apenas 20% a 40% do tempo natural de gestação.

Nassif, Tessarin e Morceiro sugerem que isso “bloqueou o desenvolvimento do país no longo prazo”.

Outra revelação do estudo é que alguns setores se desindustrializaram de maneira “normal”, ou seja, idêntica à que se deu em países ricos como parte natural de seu amadurecimento, quando a economia se volta para serviços sofisticados. Entre esses setores estão os de alimentos e bebidas, têxtil e vestuário, madeira e móveis.

Uma revelação que Paulo Gala chama de “contraintuitiva”, é que 70% da queda de emprego industrial no período analisado veio de setores de média-baixa tecnologia, esses citados no parágrafo acima.

O trabalho dos três economistas deixa uma recomendação explícita aos formuladores de políticas públicas: os programas de reindustrialização precisam reagir à tendência de tratar os setores industriais como iguais. Políticas como desoneração de folhas de pagamento, por exemplo, que acabam beneficiando indiscriminadamente amplos setores, são equivocadas. “O resultado é o desperdício de recursos e a ineficácia estratégica”, diz Gala.

O ideal seria incentivar inovação, ciência e tecnologia. Hiram Andreazza de Freitas, diretor da Sew-Eurodrive Brasil, multinacional alemã, grande fabricante de redutores e motores com planta em Indaiatuba (SP), voltou da China há duas semanas e contou que as filiais chinesas de sua empresa, quando investem em processos que geram alguma inovação recebem do governo como cashback 10% do valor da máquina fabricada. E os engenheiros que trabalham em cargos de inovação têm descontos no Imposto de Renda. “É uma economia orientada para o crescimento tecnológico e da indústria”, diz Freitas.

Certamente os chineses têm lições a dar nesse quesito.

*Pedro Cafardo é jornalista da equipe que criou o Valor Econômico

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