Embora concentre ativos estratégicos como biodiversidade, matriz energética limpa e reservas minerais críticas, a América Latina ainda ocupa um papel periférico no mapa das inovações climáticas – o que sugere um descompasso entre vocações naturais e incentivos efetivos à inovação associada a áreas críticas para a economia global.
Na prática, há uma lacuna para o desenvolvimento de políticas públicas e capital privado a ser direcionado a setores emergentes como clima, energia, infraestrutura e defesa. A ampliação de base tecnológica nesses setores tem potencial de atrair capital estrangeiro especializado e reposicionar a região como líder global na agenda de inovação.
Esses são alguns dos insights defendidos pelo estudo Deep Tech Radar 2025 – Explorando o futuro das deep techs na América Latina. De acordo com o estudo, apenas 7% das deep techs mapeadas na América Latina atuam em energia e clima – uma proporção tímida diante do potencial de se tornar protagonista na transição energética global.
A contradição é clara: se de um lado há abundância de recursos naturais, do outro há lacunas para converter esse potencial em protagonismo tecnológico. O relatório conduzido pela EMERGE Brasil revela, ainda, que a maioria das deep techs latino-americanas segue concentrada em saúde e agronegócio, áreas alinhadas à tradição produtiva e à infraestrutura já consolidada de pesquisa.
Sem dúvida, esses são setores estratégicos, mas poderíamos avançar mais em campos decisivos para o futuro como energia limpa, infraestrutura resiliente e defesa climática.
Sobretudo, tendo em vista a urgência de soluções tecnológicas de apoio à Justiça Climática na América Latina. No Brasil, o mapeamento identificou 952 deep techs, das quais apenas 66 estão voltadas à área de energia e clima. Entre os exemplos citados no estudo estão empresas que desenvolvem tecnologias para hidrogênio verde, sistemas de geração distribuída e soluções de eficiência energética.
Um dos cases destacados no relatório é a BGEnergy – fundada em 2022, o negócio é especializado em tecnologias relacionadas à economia do hidrogênio verde, ao armazenamento de energia elétrica e a fontes renováveis.
A empresa atua, ainda, na Operação e Manutenção (O&M) de plantas de hidrogênio verde – foi a primeira empresa contratada para desenvolver soluções em uma planta de hidrogênio verde em operação no Brasil –, oferecendo serviços de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Em tempos de COP30, é urgente refletir que o futuro depende da capacidade de integrar ciência, capital paciente e visão estratégica de Estado. O tempo da oportunidade climática é agora – e a América Latina, mais uma vez, não pode hesitar diante do futuro que pode liderar.
*Maure Pessanha
É coempreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no Brasil no fomento e na disseminação de negócios de impacto social e ambiental