Rejeição a acordo com Mercosul tiraria credibilidade da UE, diz comissário europeu

A União Europeia perderá credibilidade no mundo se não aprovar nesta semana seu acordo comercial com o Mercosul, segundo a principal autoridade de comércio exterior do bloco econômico europeu.

O comissário de Comércio Exterior da UE, Maroš Šefcovic, disse que adiar uma votação para a aprovação formal do acordo nesta semana poderia fazer naufragar o pacto comercial com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o maior já negociado pelo bloco europeu.

No domingo (14), o primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu, defendeu o adiamento da votação. Ele afirmou que as medidas previstas por Bruxelas para proteger os agricultores de algum eventual salto nas importações de alimentos, em especial de frango e de carne bovina de baixos preços, ainda estão “incompletas”.

Šefcovic disse ao Financial Times achar que se trata de “uma questão de credibilidade e previsibilidade da UE”. “Falamos com frequência na Europa sobre a necessidade de ser estratégicos. Há uma decisão estratégica a ser tomada.”

Diplomatas têm alertado para o risco de que, se a votação desta semana for adiada, os países do Mercosul poderiam desistir do pacto, o que seria um grande golpe para os esforços da UE para estimular a desfalecente economia do bloco e para diversificar seus parceiros comerciais, em meio às tarifas alfandegárias impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“O acordo tem tudo o que precisamos”, disse Šefcovic, argumentando que sua aprovação abriria mercados para os carros e maquinários da UE, além de trazer a promessa de acesso a minerais críticos para reduzir a dependência em relação à China.

O tratado com o Mercosul, cujos termos foram acertados em 2024, mas que ainda não obteve aprovação formal dos países-membros da UE, foi apelidado de acordo “carros em troca de vacas”. A UE quer exportar bens industriais, e o Mercosul, sua carne, soja e cereais.

No entanto, agricultores ao redor da UE se mobilizaram contra a proposta de acordo, o que obrigou alguns governos, como Polônia e Hungria, a se oporem.

No caso do presidente da França, Emmanuel Macron, apoiar o acordo com o Mercosul poderia ter o custo de levar mais eleitores ao partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), antes da eleição presidencial de 2027, segundo especialistas.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pretende visitar o Brasil no sábado para assinar o pacto, mas não viajará sem um sinal verde das capitais do bloco europeu.

Šefcovic disse que as medidas de proteção, que restabeleceriam as tarifas caso as importações de produtos sul-americanos prejudiquem a produção interna da UE, são uma política de “resseguro”. O acordo já garante proteção contra um aumento das importações e há um fundo de reserva de mais de 6 bilhões de euros para apoiar agricultores em caso de prejuízos, argumentou.

“Passamos muito tempo com nossa comunidade agrícola para ouvi-los, mas também para resolver suas preocupações. E, agora, honestamente, acredito que fizemos isso”, disse Šefcovic.

De acordo com Šefcovic, os agricultores da UE serão beneficiados pelo acordo com o Mercosul, que abriria um mercado de 270 milhões de pessoas para vinhos, destilados e produtos alimentícios europeus.

A agricultura da UE é uma “superpotência global”, disse efcovic. “Exportamos € 235 bilhões anualmente”, acrescentou, destacando a balança comercial positiva de € 39 bilhões do setor agroalimentar do bloco com resto do mundo em 2024.

“Nossos parceiros latino-americanos estão ansiosos para assinar [o acordo] agora – é um sinal de que esta é a hora de fazê-lo”, disse Šefcovic.

Esses parceiros, porém, também querem acordos que sejam “comercialmente viáveis e significativos”. Caso contrário, poderiam desistir, alertou.

Na semana passada, associações empresariais europeias ressaltaram que o acordo, cuja negociação levou 25 anos, é mais importante do que nunca, diante das tarifas dos EUA sobre produtos da UE e das restrições chinesas às importações.

Šefcovic disse que o bloco econômico europeu busca novos mercados e está em negociações para chegar a acordos comerciais com vários outros países, da Índia e Austrália até a Malásia. Advertiu, entretanto, que eles poderiam repensar a situação se a UE não conseguisse formalizar a aprovação de acordos cujos termos já foram acertados por seus negociadores.

“Se não conseguirmos tomar uma decisão tão importante sobre esse tipo de acordo [com o Mercosul], posso imaginar que isso venha a semear dúvidas nas cabeças de nossos [outros] parceiros de negociação”, acrescentou.

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