
Apesar dos mecanismos de defesa comercial adotados pelo governo federal, a indústria siderúrgica brasileira diz que segue pressionada pelo avanço das importações, especialmente de origem chinesa. É o que apontam os dados apresentados nesta terça-feira (16) pelo Instituto Aço Brasil, durante coletiva de imprensa sobre o desempenho do setor em 2025.
De acordo com a entidade, as vendas internas de aço caíram 0,6% entre janeiro e novembro, refletindo um mercado doméstico ainda fraco e a perda de espaço da produção nacional. No mesmo período, as importações cresceram 20,2%, alcançando 5,9 milhões de toneladas. Desse total, 64% dos laminados importados tiveram origem na China.
“O mecanismo de cota-tarifa ajuda, mas não está impedindo a entrada de aço importado da China”, diz o presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil, André Gerdau Johannpeter.
Ao considerar toda a cadeia metal-mecânica, o volume de aço importado sobe ainda mais, chegando a 6,2 milhões de toneladas, segundo o Instituto. Segundo o executivo, o sistema de cota-tarifa adotado pelo governo ajuda, mas está longe de resolver o problema.
O mecanismo foi renovado até maio de 2026, prevendo a aplicação de tarifa de 25% sobre o aço importado acima do limite estabelecido, além da ampliação do número de produtos abrangidos, de 19 para 23 itens. Paralelamente, o governo abriu a maior investigação antidumping da história do país, envolvendo 25 produtos siderúrgicos chineses.
Segundo ele, um dos principais entraves está nos chamados facilitadores das importações, que permitem a entrada de aço com custos menores por meio de benefícios fiscais regionais. Entre os exemplos citados estão Santa Catarina e Ceará, que oferecem incentivos de ICMS, além da Zona Franca de Manaus.
Gerdau também criticou políticas que, na avaliação do setor, distorcem a concorrência internacional.
“A política de manutenção de empregos a qualquer custo, subsídios a qualquer custo, entre outros pontos, impede frear a entrada de aço no Brasil”, disse.
Na avaliação do executivo, o cenário é agravado pelo modelo adotado pela China, onde o Estado tem papel central no setor siderúrgico. “Direta ou indiretamente, o setor de aço na China tem participação do governo”, afirmou o presidente do conselho do Instituto.
O impacto desse ambiente competitivo desigual se reflete no nível de atividade das usinas brasileiras. Segundo o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a indústria nacional opera atualmente com apenas 68% da capacidade instalada, o que limita investimentos, geração de empregos e a competitividade do setor no médio e longo prazo.